Walter Sorrentino: Pelé não pode ficar no banco

O fato novo que se faz necessário é Pelé entrar em campo, entrar no jogo prá valer. Já estava tardando, mas um primeiro sinal surgiu ontem. Não foi anteontem, não, com a entrevista de Lula. Foi ontem com a marcha das Centrais Sindicais reivindicando seus anseios, em especial o fim do fator previdenciário e a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais sem perda de direitos. Amanhã, o governo retoma diálogo com os movimentos sociais organizados.

Por Walter Sorrentino*

O banco se agita, a arquibancada se põe de pé. Pelé é o povo brasileiro mobilizado. Só ele pode garantir o jogo.

A eleiçao de 2014 não será marcada apenas pela continuidade, talvez nem principalmente. Mas será contra o retrocesso apontado pela oposição, e pelo aprofundamento das mudanças. Diz-se que as conquistas alcançadas geraram novos anseios que, não atendidos no ritmo anterior, geram maus humores políticos.

Pois bem, os novos anseios estão presentes também nos setores organizados, da antiga e nova classe trabalhadora, da juventude organizada, da imensidão de mulheres que ponteiam nesses segmentos, de importantes setores intelectuais do país. Eles não podem se acomodar, ou se bastar com o que foi alcançado. Precisam apontar um novo ciclo de aprofundamento de mudanças, mobilizar o povo e encabeçar a disputa política pelos novos segmentos que ascenderam socialmente, mas estão desorganizados.

A Dilma não falta coragem para aprofundar mudanças, mas ela só pode cumprir esse papel apoiando-se no povo. O governo só não pode mobilizar a nação. Nem um técnico brilhante como Lula pode garantir o jogo. O decisivo é o povo mobilizado.

Muito vem sendo repactuado pelo governo. Com o sistema financeiro, por evidente, arrochando o tripé macroeconômico diante da crise mundial e da reação dos EUA. Com o empresariado produtivo, promovendo a defesa da moeda e juros baixos. Por aí, apenas, ela não obteve os apoios necessários, algo pelo contrário. Com a massa do povo beneficiada pelas conquistas dos últimos onze anos, não nos basta o voto, mas ganhá-la para a disputa política e de ideários que está em jogo e se acirrará cada vez mais na campanha presidencial.

Aí o papel do Pelé. Unir o povo em torno de uma plataforma para além do corporativismo imediato. Propor um projeto mais acelerado de desenvolvimento, direitos e progresso social. Promover reformas democráticas estruturantes do novo ciclo de aprofundamento do curso traçado. Em suma, mais que seus direitos, despertar o apetite Político – com maiúscula – do povo, para avançar, tendo por caminho um projeto de nação autônoma, desenvolvida e civilizada.

Esse é o principal papel da esquerda política neste momento. Sem isso, vai-se ficar reduzido a um cotidiano político indigesto e estéril, da esfera da pequena política – com minúscula.

A unidade maior do povo, sua mobilização, não é apenas eleitoral – o voto é consequência da disputa política que fizermos. O movimento sindical e juvenil, os mais organizados, podem ser a espinha vertebral do intento. Com sabedoria política, definir bem firme o nosso lado, o lado do povo, o lado da quarta vitória popular em outubro, e apresentar à repactuação da próxima eleição presidencial uma plataforma curta e grossa, o mais unitária possível, mobilizadora em palavras e fatos, para o horizonte dos próximos quatro anos. Não faltará apoio na sociedade civil a esse rumo; ao contráro, dará uma perspectiva a muitos segmentos que estão desorientados ou em dúvidas.

Enfim, não pode haver acomodação, é preciso reativação dos sujeitos sociais decisivos para as vitórias alcançadas desde 2002. E o caminho é repactuar o avanço com Dilma Rousseff.

O povo brasileiro quer mais, não retrocessos. Pelé precisa entrar no jogo.

*Walter Sorrentino é secretário nacional de Organização do Partido Comunista do Brasil (PCdoB)