Cultura Viva desperta Ibero-américa pela potência de transformar

 “É importante ter consciência de como o Congresso Ibero-americano e os processos de cultura viva comunitária, gestados na América Latina, estão despertando o interesse de outros países, de instâncias supranacionais e de outros níveis de governo. Há que saber difundi-los, reivindicá-los, porque falam da potência da cultura viva comunitária e de seu projeto transformador de mudanças”, reflete a ex-vereadora da capital do Peru, Lula Martinez, da rede latino-americana Plataforma Puente.

Líderes culturais ibero-americanos - Reprodução

Lula, autora da Lei de Cultura Viva Comunitária de Lima,  foi uma das conferencistas, neste sábado(12), do Congresso Ibero-americano que acontece em San José, Costa Rica. Ao lado da Secretária de Cidadania e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura do Brasil, Márcia Rollemberg – responsável por gestar o Programa Cultura Viva tupiniquim que ganhou a América e agora avança além mar –, a peruana debateu “Gestão pública e o fortalecimento das cultura vivas comunitárias”.

Neste domingo (13), último dia do Congresso, 20 pessoas de 17 países, escolhidas no encontro do Conselho Latino-americano de Cultura Viva Comunitária, terão o desafio de comprometer, durante o “Diálogo Intersetorial”, seis ministros da cultura e outras sete representações oficiais com a defesa da gestão compartilhada do Fundo de Apoio à Cultura, denominado Iber-Cultura Viva, e com o investimento de 1% do orçamento estatal para a cultura, sendo 0,01% para a cultura viva comunitária.

“É importante nos constituirmos como interlocutores frente à oficialidade, ter um espaço onde eles reconheçam a necessidade de se sentar conosco. Nesta perspectiva, parece-me necessário que amanhã se dialogue entre iguais”, diz Lula. “Além disso, espero que levem em conta a contraproposta que estamos fazendo sobre o Fundo Iber-Cultura Viva. O central é que no fórum intergovernamental, que se formará para implementar o Fundo, incorpore as redes de cultura viva comunitária”.
Uma agenda para a integração

Para além do resultado da reunião deste domingo, Lula avalia que já há muito o que celebrar. “Este Congresso, que tem como tema as culturas vivas comunitárias, é resultado do 1o Congresso de Cultura Viva Comunitária, realizado na Bolívia, em 2013, e produzido por inúmeras organizações latino-americanas. Neste sentido, já é um elemento importante ter aqui um conjunto de ministros, autoridades e legisladores tendo que debater em sua agenda o tema da cultura viva comunitária.”
Se o Congresso de Cultura Viva Comunitária de La Paz conectou, sobretudo, os movimentos e redes do continente, o Congresso Ibero-americano da Costa Rica está contribuindo para a integração e desenvolvimento do programa nos estados da Ibero-américa. Pelo menos foi isso que os discursos oficiais, na abertura do Congresso, afirmaram.

Da prefeita de San José, Sandra García Pérez,passando pelo ministro da Cultura costa-riquenho, Manuel Obregón, e pela secretária geral da Segib (Secretaria Geral Ibero-americana), Rebeca Grynspan, até a presidenta da República da Costa Rica, Laura Chinchilla Miranda, todos, sem exceção, tomaram como valioso o processo que as culturas vivas comunitárias vêm produzindo em seu país e em toda América Latina.

Porém, mais que um fórum intersetorial pela cultura viva comunitária, o Congresso da Costa Rica abriu uma conexão privilegiada de continuidade à articulação de redes iniciada em La Paz. “Esse é um espaço em que a Plataforma Puente se encontra. Aqui vamos lançar o 2o Congresso de Cultura Viva Comunitária, que acontecerá na Guatemala em 2015, onde poderemos seguir afirmando nossa existência e nosso horizonte na luta por melhores políticas públicas democráticas e participativas”, anima-se Lula.

Cultura Viva no Peru

Três componentes guiam o Programa de Cultura Viva Comunitária em Lima. Lula explica: “Um é fortalecer as capacidades técnicas, profissionais e a proximidade com as novas tecnologias de comunicação. Outro é ter orçamento, através do fundo municipal, disponível às organizações através de uma seleção de projetos de arte e comunidade. O terceiro é a sistematização dos processos e das organizações no país”.

Quem implementa o programa na capital peruana é a Secretaria Municipal de Cultura. Neste momento a cidade está realizando festivais em quatro diferentes zonas da cidade e já tem uma escola de gestores culturais que está capacitando cerca de 500 gestores, artistas e produtores de cultura viva comunitária.

“Há que se lembrar que a Prefeitura de Lima não tem gerência sobre as outras cidades do país. No entanto, o processo de Lima busca dialogar com o Ministério da Cultura peruano, que tem um programa de pontos de cultura que está sendo implementado a nível nacional, colaborando e financiando anualmente pelo menos 10 projetos dos pontos de cultura”.

Agenda do Congresso

Além do “Diálogo Intersetorial”e do lançamento do 2o Congresso de Cultura Viva Comunitária, o último dia do evento, que reúne cerca de 500 participantes,  também será lida a declaração das 11 representações oficiais sobre o tema do congresso. O texto, assim como o documento aprovado pelo encontro do Conselho de Cultura Viva Comunitária, será encaminhado como contribuição à Conferência de Ministros da Cultura, a se realizar em julho, e à Cúpula Ibero-americana, que se reunirá em dezembro.

A cobertura colaborativa do evento envolve diversas redes culturais, entre elas a Rede Mocambos. O evento está sendo transmitido ao vivo via TV web, além de debater a democratização da mídia, o compartilhamento de ferramentas e plataformas livres e a defesa de políticas públicas que valorizem rádios comunitárias e a mídia alternativa.

Fonte: Laboratório de Políticas Culturais