Formas de Voltar para Casa, de Alejandro Zambra, chega ao Brasil

O terceiro romance do escritor chileno Alejandro Zambra chegou este mês ao Brasil. Autor de Bonsai e A Vida Privada das Árvores, nesta obra Zambra trata da ditadura de Pinochet com o olhar de quem nasceu e viveu a infância sob o regime opressor.

Alejandro Zambra - Mabel Maldonado

Os meandros políticos que levaram Pinochet ao poder já foram devidamente elucidados, a história da ditadura chilena já foi contada por diversas perspectivas, logo, a obra de Zambra não pretende trazer um olhar novo sobre o mesmo assunto. O que o jovem autor traz ao leitor é a perspectiva da vida privada comum, aquela vivida entre quatro paredes, o íntimo de personagens frente ao horror da ditadura.

Declaradamente um livro de memórias, a história de Formas de Voltar para Casa é contada a partir das experiências de um narrador sem nome, um garoto que pouco entende sobre o que se passa no Chile na década de 1970, mas têm algumas impressões. Pra esse personagem, Pinochet é uma figura que aparece na televisão sem horário fixo para atrapalhar a programação nos melhores momentos e os comunistas são os que leem os jornais e são motivo de chacota.

Formas de Voltar para Casa conta a ditadura militar através dos personagens secundários, os filhos dos homens e mulheres que resistiram ou construíram a ditadura. “Fôssemos filhos de famílias de direita, de esquerda ou das famílias consideradas neutras, em algum momento nos disseram essa frase: você não era nascido, então não entende, não pode opinar. Quis mostrar como convivemos com essa tensão”, diz Zambra em entrevista à Revista Cult.

Zambra fala sobre suas próprias memórias e de forma minimalista, como em Bonsai e a Vida Privada das Árvores, destrincha os sentimentos de uma criança que não soube diferenciar o sistema político da vida em sociedade. “Eu sentia a tristeza da vida cotidiana e percebia que algo muito grave estava se passando. Aos cinco ou seis anos me dei conta disso, mas acreditava simplesmente que a vida era assim.”

O autor diz ainda que não gosta de “narrativas geracionais”, mas admite que Formas de Voltar para Casa é um livro que trata das peculiaridades de uma geração que cresceu sob a sombra de um regime opressor. “Embora eu pense que de algum modo Bonsai e A vida privada das árvores também são histórias da minha geração, porque crescemos assim, como árvores obrigadas a crescer em certas direções, anestesiados, com feridas nos troncos e nos ramos. Formas de Voltar para a Casa era um livro que desde muitos anos eu queria escrever. Mais que um livro sobre a ditadura, para mim este é um livro sobre o lugar de origem, sobre certos lugares de Santiago, sobre pais e filhos, sobre o processo que enfrentamos quando tentamos buscar algum sentido no passado. Um livro sobre a infância, sobretudo, porque para mim ditadura e infância sempre coincidiram. Não posso falar de uma sem falar da outra.”

Formas de Voltar para Casa foi lançado no Chile em 2013 e chega este mês ao Brasil através da tradução de José Geraldo Couto. O livro custa R$29,90.

Com informações da Revista Cult
Mariana Serafini, da redação do Vermelho