ABI emite nota reafirmando erro ao apoiar o regime militar
Neste mês, a Associação Bahiana de Imprensa (ABI) realizou a Mesa Redonda Imprensa e Censura, momento em que jornalistas que foram perseguidos, torturados e cassados durante a Ditadura Militar contaram suas experiências. Em nota emitida na terça-feira (29/04), a ABI disse que o marco dos 50 anos do golpe, completados este ano, “tem sido oportuno para uma revisão histórica, de modo que as gerações atuais e futuras possam compreender melhor esse período dramático da vida brasileira”.
Publicado 30/04/2014 17:13 | Editado 04/03/2020 16:15
A entidade também reafirmou que agiu de forma equivocada ao apoiar e convocar os profissionais de imprensa para a Marcha da Família com Deus pela Democracia, que foi uma homenagem às Forças Armadas e um gesto de apoio ao golpe militar.
“Entende a atual diretoria que houve, ali, um equívoco, ferindo a própria razão de ser desta entidade, a exigir esta autocrítica, pois se tratou de apoio explicito à destituição do então presidente João Goulart, que ocupava legitimamente o cargo”, diz a nota assinada pelo presidente da entidade, Walter Pinheiro. Confira a nota na íntegra:
“ABI E O GOLPE DE 1964
A Associação Bahiana de Imprensa – ABI junta-se a tantos que, na Bahia e no Brasil, neste cinquentenário do golpe militar, renovam na lembrança do povo brasileiro, principalmente das gerações mais jovens, o horror que foi o regime ditatorial que aniquilou liberdades, violou direitos, torturou e ceifou vidas e fez imergir o país no mais longo período autoritário da sua História.
Consciente da necessidade de se buscar a verdade, sobretudo em respeito aos que ainda choram entes queridos desaparecidos, a ABI tem priorizado o tema nas pautas de suas últimas reuniões, em debates maduros, colaborando com as evocações trazidas pela data, mas certa de que melhor seria se tal mancha não existisse.
Assim, realizou, em abril, a Mesa Redonda Imprensa e Censura, onde se ouviu depoimentos inéditos de jornalistas que passaram pela torturante experiência profissional sob o regime de exceção instalado, marcado por drástica censura à imprensa, perseguições, prisões, cassações, torturas e mortes.
O marco dos 50 anos do golpe tem sido oportuno para uma revisão histórica, de modo que as gerações atuais e futuras possam compreender melhor esse período dramático da vida brasileira e fortaleçam a disposição de lutar e defender, permanentemente, o estado democrático de direito.
Neste sentido, a ABI também faz sua autocrítica, perante a sociedade e os jornalistas, ao lembrar que, naquele momento nebuloso, omitiu-se, em alguns aspectos, deixando de agir da forma aguerrida e tenaz como deveria, no cumprimento de seus postulados em defesa das liberdades democráticas.
Consta, por exemplo, que, à época, fez publicar um convite aos seus filiados “para tomarem parte da ‘Marcha da Família com Deus pela Democracia’, em Salvador, que foi uma homenagem às Forças Armadas e um gesto de apoio ao golpe militar. Entende a atual diretoria que houve, ali, um equívoco, ferindo a própria razão de ser desta entidade, a exigir esta autocrítica, pois se tratou de apoio explicito à destituição do então presidente João Goulart, que ocupava legitimamente o cargo.
Uma das marcas da arbitrariedade do regime, além das torturas e mortes, entre as vítimas muitos jornalistas, foi justamente a supressão da liberdade de imprensa e da livre manifestação do pensamento, através de censura radical aos meios de comunicação e de outras formas de expressão, o que, de pronto, estaria a exigir imediato repúdio desta instituição.
Fazemos esse reparo em nossa própria história, por entender que o compromisso da entidade é de sempre lutar pela sagrada e inegociável liberdade de imprensa e pela livre manifestação do pensamento. Desta forma, a ABI reafirma-se, no presente e com um olhar no futuro, como intransigente defensora da democracia, dos princípios republicanos, das liberdades públicas, dos direitos individuais e coletivos, tendo sempre como fundamento básico a preservação da vida e da dignidade da pessoa humana.”
De Salvador,
Ana Emília Ribeiro
Com agências