José Reinaldo: Cúpula do Brics assinala mudança na conjuntura

O Brasil sediou nos dias 15 e 16 de julho um dos mais importantes eventos da vida econômica e política mundial.

Por José Reinaldo Carvalho*

A 6º Cúpula do Brics – agrupamento que engloba Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – foi um evento marcante, o que pode ser atestado pela Declaração de Fortaleza, em que o perfil do grupo ficou muito bem delineado, pelas posições ali perfiladas e pelas decisões tomadas.

O Brics firmou-se não apenas como uma associação de economias de grandes países emergentes. Se se restringisse a isto, já seria uma grande construção. Afinal, estamos falando de 26,8% da área do planeta, 42,8% da população total mundo, 21% do PIB mundial e 15% do comércio internacional. São dados reveladores de uma nova ordem econômica, ainda no nascedouro, que gradualmente encontra meios e modos de contornar as relações de dominação neocolonialista exercidas pelos grandes potentados econômicos internacionais, por meio de seus organismos financeiros.

É sobre esta base objetiva que a Cúpula do Brics decidiu criar o Novo Banco de Desenvolvimento e o Arranjo Contingente de Reservas, instrumentos inovadores que contribuirão para o desenho de uma nova arquitetura financeira mundial. Com esses novos meios, os países do Brics e outras nações emergentes passam a dispor de uma ferramenta fundamental de cooperação, num mundo capitalista em crise, em que os meios de financiamento do desenvolvimento dos países emergentes são escassos, caros e sujeitos a insustentáveis condicionalidades. O princípio proclamado pelos Brics, além da prevenção para os momentos de crises de liquidez, é o da cooperação para assegurar benefício mútuo nas relações econômicas, tomando o desenvolvimento como critério fundamental.

Tendo dado um passo decisivo para se firmar como novo polo econômico-financeiro, o Brics também dá um salto de qualidade na sua afirmação como ponderável fator geopolítico em favor da paz, das soluções políticas para os conflitos internacionais por meio do diálogo, da defesa do direito internacional e do multilateralismo e pela democratização das relações internacionais. Foram duas nações poderosas do Brics – a Rússia e a China – que com sua firme ação diplomática ajudaram a impedir a intervenção armada estrangeira contra a Síria no ano passado.

Ambos os aspectos da consolidação do Brics – como polo econômico e geopolítico – terão importante impacto sobre o desenvolvimento da situação internacional. O mundo não pode mais ficar à mercê do poder dos monopólios da oligarquia financeira nem do ditame das potências imperialistas.

Sob todos os aspectos que se analise, o Brics é um fator positivo que se acrescenta à resistência e à luta dos povos pela paz, o direito internacional, o desenvolvimento e o progresso social.

*José Reinaldo Carvalho é Jornalista, Diretor do Cebrapaz, membro da Rede de Intelectuais em Defesa da Humanidade e editor do Vermelho