Luciano Martins: As candidaturas na pista de decolagem

A denúncia de que o senador Aécio Neves (PSDB), quando governador de Minas Gerais, aprovou a criação de um aeroporto com dinheiro público em terreno pertencente a um tio, no município de Claudio, mantido até hoje sob controle privado de sua família, representa um teste para a mídia tradicional na cobertura da disputa eleitoral.

Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa

Aeroporto em Cláudio (MG)

Esse desafio se manifesta na necessidade de dar ao noticiário um aspecto de equilíbrio, enquanto se tenta condicionar as opiniões em favor deste ou daquele candidato. No caso da obra pública que se mantém em mãos particulares quatro anos depois de concluída, os jornais se veem obrigados a publicar a sequência dos fatos que surgem naturalmente, como decorrência da guerra midiática que caracteriza a luta nas urnas.

Na terça-feira (22), os leitores ficam sabendo, por exemplo, que a empreiteira encarregada de construir a pista de 1 quilômetro por 30 metros de largura foi doadora da campanha de Aécio Neves em 2006, quando se reelegeu governador.

Nas redes sociais, ativistas do Partido dos Trabalhadores engajados na batalha por corações e votos comparam o custo do aeródromo com aeroportos mais sofisticados homologados recentemente pela Agência Nacional de Aviação Civil e afirmam que a obra em Minas foi superfaturada. Os jornais ainda não enxergaram esse aspecto da questão. Os indícios de irregularidade podem levar o Ministério Público de Minas a investigar a possibilidade de improbidade administrativa durante o governo de Aécio Neves.

Tudo isso faz parte do noticiário deste período pós-Copa, em que os partidos preparam o material que deverá ser levado à televisão e ao rádio a partir do dia 19 de agosto. Esse será o ponto que poderá consolidar ou alterar tendências no curto espaço de menos de dois meses até a votação em primeiro turno. Por esse motivo, o noticiário das próximas semanas terá uma importância fundamental nas pesquisas que irão anteceder a campanha propriamente dita, aquela que ocupa os meios de comunicação massivos.

Preparando a largada

A presidente Dilma Rousseff, que lidera as pesquisas de intenção de voto, tem como desafio maior chegar ao início da campanha propriamente dita com essa vantagem intocada, para manter a tendência. Ao contrário da eleição de 2010, quando iniciou a campanha sob intenso bombardeio da imprensa, que lançou mão até mesmo de facções religiosas para mantê-la na defensiva, agora sua grande dificuldade vem da economia, que apresenta indicadores preocupantes, manipulados diariamente pela mídia dominante.

Quanto ao outro candidato da oposição, o senador Eduardo Campos (PSB), seu dilema é diferente: ele precisa demonstrar que representa de fato uma alternativa aos dois polos em que se tem encalacrado a política nacional. Para isso, necessita de maior protagonismo de sua vice, a ex-senadora Marina Silva, que teve 19,33% dos votos no primeiro turno das eleições de 2010, quando foi candidata a presidente pelo Partido Verde.

Os jornais não parecem acreditar muito nas chances da dupla, e nas entrelinhas colocam em dúvida seu potencial para produzir as mudanças que a campanha promete. O discurso heterodoxo da ex-senadora e ex-ministra, comparado com a linguagem típica da politica tradicional, é tema de anedotas entre jornalistas, e eventualmente uma dessas blagues sai na imprensa.

Por exemplo, na terça-feira (22) a coluna “Painel”, da Folha de S. Paulo, comenta que, na inauguração do comitê central da campanha, Marina Silva teria dito que o comitê “será um polo estabilizador (…) para realizar a agregação dispersiva”.

Os coordenadores de campanhas – e os editores – sabem que começar a etapa mais intensa da propaganda eleitoral sob pressão da mídia representa uma perigosa desvantagem, porque o candidato em questão terá que gastar o tempo se defendendo, o que atrapalha a estratégia e emite sinais de fragilidade.

Por isso, o candidato que está hoje sob o olhar crítico do eleitorado precisa se mover rapidamente para uma posição mais confortável, e para isso tem que contar com a boa vontade da imprensa. Portanto, vale a pena observar por quanto tempo os jornais vão manter em evidência o caso do aeroporto da família Neves.