Palestinos garantem unidade e ONU decide investigar crimes de guerra

Um relatório divulgado pela Organização para a Libertação da Palestina (OLP) nesta quarta-feira (23) indica que já são 655 vítimas fatais entre os palestinos da Faixa de Gaza, bombardeada há 16 dias por Israel. As condições humanitárias agravam-se rapidamente, mas ao contrário da intenção do governo israelense, as lideranças de Gaza e da Cisjordânia afirmam unidade na resistência, enquanto a ONU decide investigar as denúncias de crimes de guerra.

Por Moara Crivelente, da Redação do Vermelho

Faixa de Gaza - Reuters

Uma declaração emitida pela OLP na terça-feira (22), após uma reunião liderada pelo presidente Mahmoud Abbas, garante que as reivindicações dos habitantes do território sitiado pelo fim da agressão israelense e do bloqueio imposto há sete anos são as “exigências de todo o povo palestino.” A reunião, na sede do governo palestino na Cisjordânia, Ramallah, também afirmou a “brava resistência contra o exército da ocupação, que tem perpetrado massacres e crimes continuamente.”

A declaração oficial, citada pela agência palestina de notícias al-Watan, afirma a expectativa dos palestinos sobre um papel ativo do Egito na proteção da unidade nacional palestina, restabelecida após um acordo de reconciliação finalmente alcançado em abril, episódio que esteve na base do lançamento da ofensiva israelense. O governo de Israel manifestou claramente a sua oposição à formação de um governo de unidade nacional entre a OLP e o Hamas, partido à frente do governo de Gaza e que as autoridades israelenses classificam de “terrorista”, devido à resistência armada contra a ocupação.

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O secretário-geral do Hamas, Khaled Meshaal, em conversações Abbas, o presidente da Autoridade Palestina (órgão de autogoverno palestino nos territórios ocupados por Israel, na Cisjordânia – o Executivo da OLP), discutiu formas de cessar a agressão israelense contra a Faixa de Gaza e levantar o bloqueio. O Hamas propôs as bases de um plano de "trégua de 10 anos", mas a busca por uma mudança significativa da situação, com o fim do bloqueio entre as reivindicações, foi rechaçada por Israel.

Crimes de guerra

Nesta quarta, um documento divulgado pelo Departamento para Assuntos das Negociações da OLP atualiza a situação da Faixa de Gaza, no mesmo dia em que os 47 membros do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas resolveram aprovar uma resolução esboçada pelos palestinos para criar um comissão de investigação das denúncias de crimes de guerra. A última vez que esta medida foi adotada resultou em um relatório abrangente com conclusões contundentes sobre a conduta criminosa durante uma ofensiva de 22 dias que matou cerca de 1.400 palestinos, entre dezembro de 2008 e janeiro de 2009. O documento, entretanto, foi engavetado.

Os Estados Unidos, que sustentam declaradamente a sua aliança com o governo criminoso de Israel, votaram contra a resolução, enquanto países europeus se abstiveram. O presidente estadunidense Barack Obama afirmou reiteradamente o seu apoio à "autodefesa" de Israel ainda que o massacre venha sendo condenado a nível mundial. O texto foi aprovado com 29 votos favoráveis de todos os países da América Latina membros do Conselho (inclusive o Brasil), a Rússia, a China e os países árabes.

Entre os diversos crimes apontados pelos residentes de Gaza estão os ataques à infraestrutura civil, ao não cumprimento das obrigações de proteção da população inocente, o uso de armas proibidas, como as bombas de fragmentação (que disparam cerca de 10 mil pequenas flechas em várias direções) e a execução arbitrária de civis, como mostra o vídeo divulgado na terça pelo Movimento Internacional de Solidariedade através de diversos portais que cobrem a ofensiva desde Gaza, assim como do próprio jornal estadunidense The New York Times. O vídeo contém imagens fortes do momento em que um atirador de elite dispara contra Salem Khaleel Shamaly, de 23 anos de idade.

Salem, acompanhado por um grupo de voluntários internacionais, procurava por sua família nos escombros do bairro de Shuja’iyah, na Cidade de Gaza, alvo de uma brutal ofensiva ainda no domingo (20). Em sua página oficial, o exército israelense alega que o bairro é a "fortaleza do terror" do Hamas. Ao menos 17 crianças e mais de 20 membros de uma mesma família foram mortos.

Entre os bombardeios realizados pela força área israelense e pelos tanques que já invadiram Gaza na semana passada destacam-se a destruição ou danos sérios a centenas de casas, hospitais, escolas, mesquitas, centros de saúde, poços de água – deixando quase toda a população de 1,7 milhão de habitantes desabastecida – e emissoras de TV.

Além disso, os palestinos de Gaza contam apenas com três horas diárias de eletricidade, enquanto os geradores de hospitais, por exemplo, dependem do combustível cuja entrada no território é controlada por Israel, ou se dá através dos túneis subterrâneos também bombardeados, sob o pretexto de serem usados para "atividades terroristas".

De acordo com a OLP, já são mais de 4.200 palestinos feridos, 145 mil pessoas obrigadas a deixar seus lares, quase duas mil casas destruídas e quase 19 mil danificadas, seis hospitais e seis clínicas parcialmente destruídas, 13 centros de saúde fechados e três mesquitas destruídas. Ao menos oito edifícios do governo também foram danificados, assim como mais de 60 mesquitas e duas igrejas. A seguir, os nomes e idades das vítimas fatais apurados até agora pela OLP: