Camilo Santana: queremos um Ceará melhor para todos

 O deputado estadual Camilo Santana (PT), candidato ao governo do Ceará pela coligação “Para o Ceará Seguir Mudando” concedeu entrevista ao jornal O Estado sobre sua ideias centrais para o desenvolvimento econômico e social do estado: segurança pública, desenvolvimento regional, sustentabilidade, habitação, além dos desafios futuros do próximo governador e expectativas eleitorais. Veja abaixo a entrevista na íntegra.

Quais são as expectativas para a campanha este ano?

Nós estamos iniciando uma campanha positiva, percorrendo o máximo de municípios do Ceará. Até agora, já visitei cerca de 20 municípios, fazendo diversas discussões com os setores da sociedade e mostrando projetos em construção no Ceará e no Brasil, sobretudo melhorando a vida das pessoas. Queremos apresentar aquilo que a gente (governo) vem fazendo, aprofundando as mudanças, e garantir um Ceará melhor para todos.

Na sua visão, qual é o maior problema enfrentado no Estado e, caso eleito, como fará para solucioná-lo?

É preciso pensar o Ceará no futuro, e temos que preparar as bases necessárias.  O Ceará é importador de energia, nós não tínhamos nem energia suficiente para garantir os empreendimentos e as demandas do próprio estado. Hoje, o Ceará, está exportando energia, para a gente poder atrair os investimentos das indústrias, de uma refinaria e uma siderúrgica. Precisamos ter as condições necessárias para isso. Para se ter ideia, 35% da energia produzida no Ceará é eólica, uma sustentável. Por outro lado, temos que garantir a infraestrutura da água, que é um problema grave para um estado situado no semiárido e com adversidades climáticas.
Nós não sabemos se ano que vem vai chover, então, o Estado tem pensado não só nas ações emergenciais, na cisterna de placa, Projeto São José, mas nós temos pensado em uma infraestrutura da água, que é a integração do São Francisco e o Cinturão das Águas, que permitirá levar água, especialmente, para o oeste do Ceará, uma das áreas onde o problema da seca é mais grave.
Nesse momento, a obra da “transposição” de águas do Rio São Francisco, tocada pelo Ministério da Integração Nacional, está entre os municípios de Jati e Nova Olinda, no Rio Cariús. Nós pretendemos dar continuidade ao projeto, garantindo, assim, não só água para beber, mas para produzir, irrigar e para a indústria. Sendo assim, com a parceria com o governo federal, vamos trazer a refinaria e dobrar o nosso Produto Interno Bruto-PIB e garantir desenvolvimento para todo o estado. Outra importante obra para o Ceará é a Transnordestina, que vai cortar todo o Estado, garantindo que essa expansão do desenvolvimento possa acontecer de forma mais centralizada e não ficar só no Complexo Portuário do Pecém. Entretanto, precisamos qualificar a mão de obra.

E na educação?

A educação será prioridade em nosso governo, por isso, e a maior demonstração disso, é a escolha da ex-secretária de Educação do Estado, Izolda Cela, para ser candidata a vice-governadora, responsável pelo avanço profundo na educação do Ceará. Nós não tínhamos nenhuma escola profissionalizante do Estado e hoje já são 102 funcionando, fora as que estão em obra, e agora são mais 22 conveniadas com o governo federal de tempo integral, para que possamos formar profissionais, qualificar a mão de obra no Estado, até para atender esse projeto que está em construção no Ceará.

O senhor tem falado que dará continuidade ao projeto Ronda do Quarteirão. Como vê a questão da segurança hoje?

A questão da violência é uma epidemia hoje, no Brasil. E, nós, compreendemos que ela se agravou muito com a questão das drogas. O crack está invadindo as famílias, os lares brasileiros e cearenses. Uma das grandes ações é fazer um trabalho de polícia de fronteira, para evitar ou, pelo menos, diminuir fortemente a entrada de drogas no Ceará. Duas questões que vamos priorizar, a questão das fronteiras e reorganizar o Ronda do Quarteirão. Esse programa teve um resultado fantástico, foi criado em 2008, onde tem 249 áreas com equipamentos, estrutura, policial treinado, capacitado com o que há mais de moderno na Polícia no mundo todo, para poder garantir o trabalho efetivo no Ceará. É a polícia cidadã, presente nos bairros, em que as pessoas têm o telefone dos policiais, que a Polícia chega até cinco minutos,  quando é chamada, que bate na porta do cidadão.
Se você conferir os índices de criminalidade, após a criação do Ronda observará que tivemos um período em que diminuímos ou estabilizamos o problema da violência no estado do Ceará. O que aconteceu, a partir daquele motim, a paralisação no dia 1º de janeiro de 2012, é que houve uma ascensão do problema da violência no Estado. De certa forma, precisamos reorganizar o programa, voltar a cumprir com o papel inicial com o que foi criado, aumentar o efetivo da Polícia, tanto civil como militar. Para se ter uma ideia, a cada três policiais efetivos, dois foram contratados ao longo dos últimos sete anos.
Nós compreendemos que precisamos de mais policiais, como também no corpo de bombeiros, restabelecer a disciplina em relação à hierarquia, inclusive nas questões salarias, os policiais precisam estar bem estimulados, bem pagos, com promoções, para poder cumprir o seu papel e garantir a segurança das pessoas, não só da capital, mas também no interior do estado. Vamos criar as delegacias 24 horas, para que as pessoas possam ser atendidas a qualquer hora do dia. O estado investiu muito em equipamento e temos hoje a melhor Academia de Polícia do Brasil, então, precisamos também integrar as polícias. O problema da violência não se resolve só com a polícia, nós temos que ter integração de políticas públicas de governo.

A questão do combate à violência passa pelo enfrentamento às drogas. Qual as prioridades em relação aos dependentes químicos?

Primeiro, vamos evitar que a droga chegue ao estado pelas fronteiras, depois, vamos trabalhar a questão dos dependentes, acolhendo essas pessoas. A ideia é trabalhar em parceria com as prefeituras, as casas de acolhimento para recuperação desses jovens e assim, reintroduzi-lo na sociedade, além de trabalhar uma grande ação criando oportunidades, para que jovens não caiam novamente nas drogas. Para isso, é preciso escolas de tempo integral, CUCAs funcionando nos bairro, pista de skate. Repito, nós não vamos resolver o problema da violência não só com a contratação de policiais, mas criando condições para que o jovem não caia, nesse problema das drogas.  Precisamos agir com inteligência e quebrar esse elo em relação ao tráfico de drogas, que não é um problema que ocorre apenas no Ceará, precisamos integrar as polícias, uma parceria forte com o governo federal. Monitoramento por câmeras é fundamental para a segurança pública.  É um conjunto de ações, que estamos apresentando, queremos aprofundar. Vou agarrar essa questão da segurança com unhas e dentes, com vontade, com os melhores especialistas nessa área.  Estamos ouvindo o que há de melhor, para que a gente possa, com responsabilidade e segurança, apresentar à população cearense o que queremos e vamos fazer para o povo do Ceará.

Atualmente, os abrigos de Fortaleza estão superlotados e isso também contribui para a questão da marginalização destes jovens. Inclusive crianças acabam sendo abandonadas ainda bebês. Caso eleito, como pretende trabalhar esta realidade?

Além de criar espaços públicos, o próprio Estado e Prefeitura precisam fazer essa parceria, apoiar as iniciativas da própria sociedade civil. Você não consegue resolver só com as ações institucionais do Estado. Eu conheço vários trabalhos feitos por entidades sociais e ONG’s com bons resultado. Pretendemos  apoiar, fortalecer e criar uma rede, para que possamos otimizar os recursos para investir e garantir bons resultados.
 
O indicador referente à quantidade de pessoas sem moradia no Ceará caiu três pontos percentuais entre 2007 e 2011, passando de 12,55% para 9,49%, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Apesar da redução, ainda existe um grande déficit habitacional no Ceará, de acordo com o Sindicato da Indústria da Construção Civil do Ceará (Sinduscon-CE). Nesse contexto, quais são os planos que o senhor pretende executar para amenizar um dos grandes gargalos do Estado? E como a avalia o programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV) no Ceará?

Eu fui secretário das Cidades e foquei muito nessa questão quando assumi a pasta. O Ceará foi o Estado que mais contratou empreendimento. Em Fortaleza, de 2011 para frente, contratou 2.900 unidades pelo MCMV1. Agora, no MCM2, mais 30 mil unidades. Segundo dados do IBGE, Fortaleza tem um déficit de 79 mil casas. Estamos falando quase na metade do déficit oficial. Quando se trata de habitação, tem-se déficit qualitativo, que são as pessoas com moradia muito precária, e você têm o déficit quantitativo, que são as pessoas que não tem casa. Eu considero um dos maiores programas que o governo federal criou. Uma casa, hoje, o preço do empreendimento está em volta de cerca de 63 mil reais, o governo propôs uma lei, aprovada pela Assembleia Legislativa, que permite ao Estado aporte de recursos adicionais para viabilizar os empreendimentos. O primeiro é Conjunto José Walter, o maior do Nordeste, com 5.530 unidades. Considero fundamental o direito à moradia. Ainda existe o programa Casa Melhor, em que você tem um crédito de R$ 5 mil para comprar móveis. Nós, portanto, queremos avançar. Tenho uma proposta para o governo federal de fortalecer nos municípios abaixo de 50 mil habitantes, além de acabar com as casas de taipa no Ceará.
 
Uma das grandes polêmicas que há anos se arrasta na cidade de Fortaleza é a regulamentação do Parque do Cocó. Espera-se que a atual gestão o regularmente antes de deixar o governo. Qual o seu plano para manutenção/proteção do parque e atuação contra a especulação imobiliária na unidade?

Minha ideia é avançar neste projeto. Quando a gente olha o Cocó, só se vê o Cocó da Praia do Futuro até a BR-116. Entretanto, ele nasce depois no quarto anel viário. Nós estamos fazendo o maior projeto de reurbanização da Capital, que é o Projeto Maranguapinho. Aprovamos uma Lei na Assembleia Legislativa, em que ampliamos a área de preservação do Rio Cocó. São mais 105 hectares protegidos, preservando esse espaço para a sociedade cearense. A área será toda urbanizada, com a construção de vias paisagísticas do lado esquerdo e direito, com equipamentos para esporte e até ciclovias. As obras foram iniciadas na nascente do Cocó, para controlar as cheias. Sendo assim, serão retiradas 3.600 famílias em área de risco, inclusive acrescentando ao Cocó um espaço que antes não tinha.
 
Embora a estiagem seja uma situação mais que conhecida pelo povo nordestino, em pleno século XXI, com inúmeras tecnologias, os cearenses continuam reféns da seca e dos argumentos sobre a falta de chuva. Quais as suas projeções para as políticas de convivência com a seca?

O Estado tem suas ações emergenciais. Imprevisível o que vem no ano seguinte. Estamos em dois anos de seca, encaminhando para o terceiro. Ao longo dos anos, o Estado tem criado políticas públicas que tem garantido a permanência das pessoas no interior.  Na seca, no passado,  as pessoas próximas a Fortaleza,  ou vinham pedir dinheiro nos sinais para comprar alimentos ou realizavam saques nos comércios no interior do Estado.  Hoje, não acontece mais isso, haja vista a forte política de Seguro Safra,  onde o  Ceará é o primeiro lugar no Nordeste, com 300 mil agricultores cadastrados. O programa é um seguro que, caso  tenha seca, paga ao agricultor uma pequena parcela mensal,  para, pelo menos, ter uma renda para comprar alimentos para a sua família. E isso, agregado aos programas sociais, como o Bolsa Família, deu a oportunidade de pelo menos das pessoas viverem, sem sair do sertão. Além disso, o Estado vem investindo fortemente na política de cisterna de placas, principalmente nas regiões com maior escassez de água. Hoje, o Ceará é o segundo lugar do Nordeste, perdendo apenas para a Bahia, que é um estado maior. Essa política não tem nem um ano, por mais que seja um pior ano de chuva, nós não temos nenhum ano que chova suficientemente para encher uma cisterna de placa.  Agora, nós estamos com a cisterna de polietileno, que tem durabilidade maior. A terceira, e grande ação, são as pequenas adutoras que estão sendo feitas, por meio do Projeto São José, da Sohidra, que leva a água para as casas das famílias. Emergencialmente, o governo está com grandes projetos, que são as adutoras emergenciais.  Se não tivéssemos feito essas adutoras, Tauá, Crateús teriam colapso de água, por exemplo.  O governo vai fazer uma adutora saindo do Açude de Araras até Crateús, que são quase 150 km.  Da mesma forma em Canindé, que já tinha uma adutora e vai ser construída outra desde o município de General Sampaio até Canindé.
 
Muitas críticas a atual gestão estão atreladas a execução de grandes obras, que, segundo os críticos, são grandes “elefantes brancos”, a exemplo do Acquário e da Ponte Estaiada. Caso eleito, o senhor dará continuidade a essas obras ou outras do tipo? E qual sua avaliação sobre a necessidade delas?

O Acquário é um projeto que vai garantir um novo público do turismo no Estado do Ceará, principalmente, em Fortaleza.  A grande vocação que nós temos são nossas praias. É preciso criar um turismo para que as pessoas passem mais tempo na capital. O Acquário além de ser educativo, científico, e a previsão é que se tenha um aumento de um milhão e 200 mil turistas por ano na capital.  As pessoas questionavam o Centro de Eventos.  O nosso turismo restringia-se ao turismo de férias; hoje, temos turismo de negócios. Se você perguntar a um taxista quanto aumentou o número de passageiros, no mínimo, cresceu 30%. Aumentou as ocupações nos hotéis, melhorou as atividades nos restaurantes. Isso fomenta a economia no estado inteiro, e é com isso que o Acquário vai contribuir. Sem falar que os recursos que estão sendo investidos advêm de uns empréstimos realizados em um banco internacional, destinado apenas para isso.
Nós não estamos deixando de investir em educação e em áreas como a saúde. Os resultados na educação nos dá orgulho. Na saúde, não havia nenhum hospital público estadual no interior, já temos dois, vai ser construído o terceiro, e nós vamos construir o quarto, além de um quinto que vai ser construído na Região Metropolitana de Fortaleza.  Não havia nenhuma policlínica, ou Unidades de Pronto Atendimento (Upas), mas agora tem. É preciso ter o olhar muito mais além, do que se restringir a meras críticas.
 
Com o Centro de Formação Olímpica do Nordeste (CFO) pronto e as Olimpíadas acontecendo em menos de dois anos, o senhor já tem definidas as políticas públicas que vão sustentar tamanho investimento em esporte no Ceará? Se sim, quais?

Para nós, em Fortaleza, é um privilégio ter um centro olímpico que representa todo o Nordeste.  Um equipamento que vai proporcionar experiência aos nossos jovens.  São 18 modalidades e vai ter tudo que é mais moderno nesse centro.  Aliás, quando se fala na questão da violência, essa é uma oportunidade que nós vamos ter de garantir esse espaço para os nossos jovens no Ceará. Vamos fortalecer as políticas para os nossos jovens, como construir mais espaços, pistas de skate, Programa Segundo Tempo,  bolsa esporte,  a questão dos Cucas, até porque são ações que complementam as políticas educacionais nas escolas. Nós estamos construindo esse plano, nós estamos ouvindo os segmentos,  ouvindo as pessoas, não quero fazer nada de cima para baixo; quero ouvir e sentir o que as pessoas querem, pretendem e avaliam. Nenhum gestor constrói um governo, lidera um Estado, sem ouvir o seu povo. Esse é o meu estilo de governar.
 
Qual o maior desafio do próximo governador do Estado?

Trazer a credibilidade aos cearenses sobre a questão da Segurança Pública. Eleito, vou abraçar isso com muita garra, muita energia, para que os cearenses possam se sentir seguros, principalmente em Fortaleza.

Fonte: O Estado