Propaganda: Premiê de Israel diz que ofensiva contra Gaza é "justa"

O comitê forjado pela Chancelaria, o Ministério da Defesa e a Advocacia Geral Militar do Exército de Israel escalou o premiê Benjamin Netanyahu na campanha para rebater as denúncias de crimes de guerra, perpetrados em quase um mês de bombardeios contra a Faixa de Gaza. Netanyahu deu declarações à imprensa estrangeira nesta quarta-feira (6) dizendo "lamentar" a morte de civis palestinos, cerca de 80% das quase 1.900 vítimas fatais da sua ofensiva.

Por Moara Crivelente, da Redação do Vermelho

Israel - Ofer Vaknin / Haaretz

Como fica evidente, a maquinaria propagandística está frequentemente em movimento quando Israel prepara uma nova guerra, com antecedência. Isso inclui também “jogadas de marketing” como a decisão de nomear sua ofensiva contra Gaza de forma diferente entre o hebraico e o inglês, neste esforço das autoridades de garantir apoio internacional. Em hebraico – uma curiosidade – o nome da atual ofensiva, lançada em 8 de julho, é "Tzuk Eitan", algo como “Penhasco Poderoso”. Em inglês, ficou como "Protective Edge", ou “Margem Protetora”.

Até a noite desta quarta-feira, as delegações de Israel e da Palestina (inclusive dos partidos Hamas e Jihad Islâmica) no Egito não alcançaram um acordo para a extensão do "cessar-fogo" de três dias que entrou em vigor na manhã de terça-feira. Os representantes israelenses negam-se sobretudo a mudar as condições fundamentais, inclusive o fim do bloqueio de oito anos ao território, reivindicado pelo Hamas.

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Entre os chavões promovidos pela propaganda de guerra israelense, Netanyahu enfatizou que a segunda ofensiva que lançou contra Gaza em menos dois anos foi “justificada” e “proporcional”. São duas das principais posições das críticas e também das defesas da ofensiva de Israel contra os palestinos, também presentes nas teorizações pseudofilosóficas sobre a condução da guerra e ainda nas convenções do direito internacional humanitário.

  Foto: AFP

O princípio de “proporcionalidade” consta em documentos como as Convenções de Genebra assinadas no fim da década de 1940. Netanyahu o emprega, entretanto, para justificar a devastação repetida por ao menos três vezes em cinco anos, na Faixa de Gaza, atingindo principalmente milhares de lares, centenas de escolas e hospitais, além de mesquitas, igrejas, centros de saúde e a infraestrutura civil básica para a sobrevivência, o que é condenado pelo direito internacional humanitário. Nestes cinco anos, apenas durante o período das “operações militares” assim denominadas – fora os ataques aéreos pontuais – o Exército de Israel matou mais de 3.500 pessoas em Gaza.

O pretexto são as “atividades terroristas” do Hamas, partido à frente do governo em Gaza, que conta com as Brigadas Ezedeen al-Qassam no confronto contra as forças israelenses, invasoras ou em ataques à distância, como é mais usual, com o uso de caças F-16, helicópteros Apache de combate e uma frota mantida pela Marinha israelense na costa de Gaza, território de 365 quilômetros quadrados completamente sitiado há oito anos. Netanyahu voltou a enfatizar, também para se eximir da responsabilidade pela morte de tantos civis e pela devastação disseminada, que o Hamas lança foguetes contra Israel desde territórios habitados, usando, assim, “escudos humanos”.

Vários pontos são importantes aqui. Quando as autoridades israelenses fizeram a mesma acusação em 2008-2009, quando sua “operação Chumbo Fundido” matou mais de 1.400 pessoas em 22 dias e foi condenada mundialmente, um relatório do Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas com conclusões de uma missão de investigação enviada ao local considerou não haver evidências para sustentar essas alegações.

   Foto: AFP
O Hamas também rechaçou as acusações, indicando que o lançamento de foguetes é feito principalmente desde túneis subterrâneos ou locais isolados justamente para que não sejam detectados por Israel. Entretanto, lembram analistas locais, a Faixa de Gaza é um dos territórios mais densamente povoados do mundo; são cinco mil habitantes por quilômetro quadrado no estreito território sitiado, ou seja, a acusação israelense é intencionalmente ladeada por retóricas hipócritas que redundam novamente nos meios à disposição dos palestinos para a resistência. Aliás, ignora também a localização do Quartel-General do Exército israelense, que poderia ser um “alvo militar legítimo” – como não o são os hospitais e residências atingidas em Gaza, por exemplo – e que fica na moderna e turística Tel-Aviv.

“Israel lamenta profundamente as baixas civis”, disse Netanyahu aos atentos jornalistas estrangeiros, durante a primeira coletiva de imprensa após a “trégua humanitária”, momento usado inclusive para encontrar e recolher corpos pela Faixa de Gaza, devido à suspensão momentânea dos bombardeios e dos ataques com artilharia pesada dos soldados que se retiram do enclave palestino, quase 20 dias depois de o terem invadido por terra, aumentando exponencialmente o número de mortos entre os residentes.

“A tragédia de Gaza é a de que eles são governados pelo Hamas. Eles querem baixas civis, eles as usam como combustível para a sua promoção. Na verdade, o Hamas adotou uma estratégia que usa e sacrifica os civis de Gaza,” afirmou o representante de um dos governos mais fatais, mais colonizadores – aliás, Netanyahu disputa por este título – e também mais impopulares, principalmente no momento do rechaço mundial a mais um capítulo do massacre dos palestinos.