Forças de esquerda latino-americanas se reúnem no 20º Foro de SP

A cidade de La Paz, na Bolívia, abriga o 20º Foro de São Paulo (FSP) que começa nesta segunda-feira (25). Partidos e organizações de esquerda se reúnem para “Derrotar a pobreza e a contraofensiva imperialista, conquistar o bem viver, o desenvolvimento e a integração na Nossa América”. O Vermelho embarca com a delegação do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), que participará do evento na terra de Evo Morales, Bartolina Sisa e Tupac Katari.

Por Théa Rodrigues, da Redação do Portal Vermelho

Foro de Sao Paulo se realizará pela primeira vez na Bolívia - Reprodução

O Foro de São Paulo foi criado em 1990, quando partidos da América Latina e Caribe se reuniram com o objetivo de debater a nova conjuntura internacional pós-queda do Muro de Berlim e as consequências da implantação de políticas neoliberais pela maioria dos governos da região. A proposta principal foi discutir uma alternativa popular e democrática ao neoliberalismo, que estava entrando na fase de ampla implementação mundial.

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Vinte e quatro anos depois, diante de uma profunda crise do sistema capitalista, o FSP comemora o êxito da unidade latino-americana e caribenha em um contexto de diversidade. O Documento Base do encontro afirma que “nossa pluralidade é um feito que valorizamos positivamente, mas nossos inimigos são comuns”. Segundo o texto, “o ciclo progressista e de esquerda iniciado em 1998 tem força porque não é único, nem uniforme”.

Está previsto no programa do encontro a realização de um balanço dos governos progressistas, de esquerda e da contraofensiva imperialista. Para tal avaliação, devem ser discutidas as conjunturas internacional (situação econômica e política) e regional (processos de integração, panorama político e eleitoral, lutas sociais e plano de ação). Da mesma forma, é um dever dos partidos reunidos no FSP fazer um balanço das posturas adotadas por seus governos em diversos âmbitos.

“Inimigos comuns”

Há uma grande preocupação dos organizadores do FSP em alertar os países da região a respeito da contraofensiva imperialista. Uma alternativa à invasão militar direta (privilegiada durante o governo de George W. Bush, nos EUA) vem ganhando adeptos entre os opositores de direita na América Latina: o chamado “golpe suave”. Trata-se de uma ampla gama de instrumentos subversivos direcionados aos governos que não respondem aos seus interesses.

Ações desestabilizadoras são fomentadas em busca de “uma mudança no regime”. Frequentemente, resultam em “revoltas populares”, que podem preceder um conflito armado. Esta estratégia ficou evidente na Venezuela, quando a oposição tentou, de diversas formas, criar um descontentamento contra a administração do presidente Nicolás Maduro, no início deste ano.

Em Cuba, a criação da rede social ZunZuneo, financiada pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid, na sigla em inglês), escancarou mais um plano subversivo contra o governo. A denúncia feita pela Associated Press (AP) revelou a tentativa de iniciar uma “guerra não convencional” por meio da utilização das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) no país dirigido por Raúl Castro.

Segundo o conceito, a primeira etapa de qualquer guerra não convencional é unir a população contra o governo vigente e prepará-la para aceitar o apoio dos Estados Unidos.

O progresso e a união dos governos de esquerda na América Latina oferecem uma “ameaça” à hegemonia norte-americana e às corporações do capital financeiro, que sobrevivem das relações de comércio injusto e das matérias-primas dos países da região.

A crise do capitalismo também será debatida no FSP, assim como a estratégia progressista e revolucionária para combater a agressão proveniente desta situação, com a apresentação de um projeto político para as Américas.

Avançar nas mudanças

“É preciso avançar para além das conquistas sociais que foram importantes nos últimos anos”, diz o Documento Base do FSP. Neste sentido, mesas com temáticas como “A juventude em defesa dos processos dos governos progressistas na América Latina” e “As mulheres na integração regional da América Latina e Caribe” fomentarão o debate sobre as mudanças estruturais que os países da região ainda precisam fortalecer.

O Foro de São Paulo acompanha com atenção as questões sociais na América Latina e Caribe. "Unificar critérios, definir uma política e coordenar esforços, em todas as frentes da luta política” são objetivos traçados para esse 20º encontro.

Continente de paz

Em janeiro deste ano, os presidentes e chefes de Estado dos 33 países reunidos na Cúpula da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) estabeleceram a América Latina e o Caribe como uma zona de paz.

O documento assinado por eles ressalta o compromisso de respeitar plenamente o direito inalienável de todo estado de eleger seu sistema político, econômico e social ou seus níveis de desenvolvimento.

Dentre as oficinas oferecidas pelo FSP, temáticas como independência, descolonização, soberania e livre determinação promoverão a luta pela paz no continente.

Ainda neste sentido, o fim do conflito armado na Colômbia é um dos assuntos que estarão em pauta em vários debates. As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o governo colombiano discutem desde novembro de 2012 uma agenda de seis pontos com o propósito de marcar uma solução política que permita o estabelecimento de uma paz estável e duradoura, após mais de cinco décadas de confronto.

As partes já chegaram a pré-acordos sobre desenvolvimento agrário integral, participação política e solução ao problema das drogas ilícitas. Contudo, a garantia da aplicação destes acordos ao término das negociações segue sendo uma preocupação.

Os delegados do FSP devem manifestar seu apoio a este processo, bem como o incentivo ao início de um processo de paz com o Exército de Libertação Nacional (ELN), que se declarou disposto a isso.

A presidenta do Conselho Mundial da Paz e do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz), Socorro Gomes, estará presente no encontro do Foro de São Paulo, onde fará uma conferência sobre a militarização, as guerras imperialistas e a luta pela paz. No momento do seu embarque para La Paz, Socorro declarou ao Vermelho que "é indispensável a união dos partidos políticos progressistas e movimentos sociais para deter a mão agressiva do imperialismo". Segundo ela, na frente da paz e da solidariedade o prioritário neste momento é o apoio ao povo palestino, vítima de massacre genocida por parte do regime sionista, e a contribuição para o êxito dos diálogos de paz na Colômbia.

Delegação do PCdoB

A delegação do PCdoB no FSP será dirigida pelo secretário de Relações Internacionais, Ricardo Alemão Abreu. Também fazem parte deste grupo Altair Freitas, diretor executivo da Escola Nacional do PCdoB; Alysson Lemos, membro da direção da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG); Liège Rocha, secretária da Mulher; Mateus Fiorentini, membro da direção da União da Juventude Socialista (UJS) e da Organização Continental Latino-Americana y Caribenha de Estudantes (Oclae); Ronaldo Carmona, membro do Comitê Central; Ronaldo Leite, presidente da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), do Rio de Janeiro e Vitor Espinosa, secretário de Juventude da CTB.