Luta anti-imperialista e a busca da paz são bandeiras do Foro de SP

A luta anti-imperialista é uma das bandeiras fundamentais do 20º Foro de São Paulo. Ela marca a criação do evento e segue vigente em um momento que a crise capitalista culmina em uma contraofensiva desta política de domínio. Para falar dos desafios da América Latina neste sentido, a organização do encontro ofereceu a oficina “Continente de Paz”, com a fala de Socorro Gomes, presidenta do Conselho Mundial pela Paz (CMP). 

Por Théa Rodrigues, de La Paz para o Portal Vermelho


Por Théa Rodrigues, de La Paz para o Portal Vermelho

No dia mais movimentado do encontro, com diversas atividades acontecendo ao mesmo tempo, o debate “Continente de Paz: Independência, descolonização, soberania, livre determinação e luta pela paz” reuniu um grande número de pessoas e fomentou um debate fundamental para o progresso da integração latino-americana.

Em sua fala, Socorro Gomes, que também está à frente do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz), afirmou que a atualidade apresenta novos desafios aos povos em relação à luta por um mundo mais justo. Segundo ela, a integração “vai além das economias e mercados”, deve ser “cimentada no respeito pela soberania e pela autodeterminação de cada povo”.

Socorro comentou a histórica decisão da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), que declarou a região como “Zona de Paz”, em uma reunião de cúpula com os chefes de Estado, no início deste ano, durante a presidência temporária de Cuba. Para ela, a consolidação deste feito deve passar pelo combate às inúmeras tentativas de deposição do conjunto de governos progressistas da região.

“As grandes potências tentam sair da crise agredindo os povos“, afirmou a presidenta do CMP, que disse em entrevista exclusiva ao Portal Vermelho, que “a dominação norte-americana acontece em países que possuem abundância de recursos naturais (gás, petróleo, água, etc.) ou em regiões estratégicas”.

Ela lembrou que não se trata de um problema apenas para os latino-americanos, mas de uma questão de ordem mundial. “O imperialismo não é um inimigo qualquer, é um inimigo extremamente perigoso que apesar de estar em decadência, tem bases militares no mundo inteiro e que utiliza a tecnologia a serviço a serviço da dominação, como é o caso dos drones”, disse Socorro.

Neste sentido, em sua apresentação, ela exemplificou recordando a questão dos trabalhadores na Europa e as guerras no Oriente Médio. Socorro falou também que os Estados Unidos se utilizam de distintos instrumentos para promover tais conflitos: “os grandes meios de comunicação e as redes de espionagem, que articulam a guerra suja com os mercenários que promovem o terror”.

Como não poderia deixar de ser e diante das barbáries que têm ocorrido nos últimos meses, a presidenta do CMP falou também sobre a questão da Palestina. “O povo vive um constante martírio imposto pelo governo colonialista de Israel”. Segundo ela, existe um “genocídio” dos palestinos, que “conta com apoio total do imperialismo estadunidense”.

Recentemente, “o governo dos Estados Unidos enviou mais de 225 milhões de dólares ao exército israelense apenas para a instalação do sistema antimísseis”, citou Socorro, para reforçar seu argumento de que existe “ampla proteção” aos crimes de guerra cometidos pelo Estado de Israel.

A representante brasileira mencionou também as chantagens e manobras do governo norte-americano contra quaisquer organismos internacionais que se oponham ao seu projeto de dominação. Ela fez menção à Organização das Nações Unidas (ONU) e ao Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef, em sua sigla em inglês). A líder pacifista lembrou que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) relaizará uma reunião de cúpula no País de Gales, no próximo dia 4 de setembro.

Socorro vê isso com preocupação, conforme comentou ao Vermelho: “Depois dos anos 1990, quando a Otan invadiu os Bálcãs e destruiu a Iugoslávia, esta aliança vem adotando novo conceito estratégico. A Otan surge em 1947 com o objetivo claro de deter o socialismo – ela foi um grande instrumento da Guerra Fria. Quando o Muro de Berlim caiu, a Otan deveria ter acabado (na verdade nem deveria ter existido). A partir daí ela passa a tratar outras ‘ameaças’. Depois, a Otan passa a intervir em todo o mundo. E  atua em nossa região, como nas Ilhas Malvinas e nas Guianas".

Socorro afirmou que a Otan nada mais é do que um braço armado dos Estados Unidos e da União Europeia, que indicam os cargos mais importantes do organismo.  

Durante o debate, ela ressaltou a importância de que as forças progressistas empenhadas na consolidação da integração latino-americana sigam atentas às prioridades da luta pela paz e da resistência anti-imperialista.

Assim como muitos, durante este 20º Foro, Socorro também alertou para as tentativas de desestabilização que ocorrem na Venezuela, na Bolívia, em Cuba e em outros países da região. “Temos importantes conquistas a comemorar e a possibilidade de alcançar cada vez mais nossos objetivos de reformulação do sistema internacional, por uma paz que seja a sustentação das relações globais”, disse.

A presidenta do CMP acredita que os latino-americanos devem defender suas conquistas e fortalecer a luta “nesses tempos que apresentam os mais graves desafios”, referindo-se à constante busca do imperialismo de fazer o capitalismo sobreviver às custas dos povos.

Ouça a entrevista com Socorro Gomes na Rádio Vermelho.
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