Ocupação: Bombardeando Gaza, Israel manteve ofensiva na Cisjordânia

O fim dos bombardeios de Israel contra a Faixa de Gaza, quase dois meses após o lançamento da ofensiva que matou cerca de 2.200 palestinos, trouxe de volta à atenção o outro avanço da ocupação e da opressão dos palestinos, na Cisjordânia. A Organização para a Libertação da Palestina (OLP) divulgou um documento sobre a agressão israelense lançada ainda em junho contra o território ocupado, disseminando graves violações, a repressão e a morte dos palestinos.

Por Moara Crivelente*, para o Vermelho

Israel - AFP

Enquanto o mundo teve sua atenção apreendida pelo massacre dos palestinos em Gaza, que fez parte de uma política contínua e abrangente de ocupação da Palestina e do genocídio perpetrado pelo regime israelense, na Cisjordânia uma operação lançada ainda em 12 de junho, “Guardião Fraterno”, continuava a deter palestinos em massa, demolir casas como “medida punitiva” e a matar manifestantes ou resistentes.

Denunciou-se a intensificação de políticas e violações disseminadas e já cotidianas na Cisjordânia – mesmo durante a ofensiva contra Gaza – sustentada com o pretexto da busca pelos responsáveis, já pré-determinados pelo regime de Israel, sem evidências, pelo sequestro de três jovens colonos, depois descobertos mortos.

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“Embora os porta-vozes de Israel tenham tentado apresentar seus ataques a Gaza como uma ação específica contra os grupos palestinos de resistência, as políticas de ocupação e colonização israelenses em todo o Estado Ocupado da Palestina tornam claro que o objetivo central de Israel continua a ser impedir o estabelecimento de um Estado da Palestina soberano,” afirma o documento, emitido pelo Departamento para Assuntos das Negociações da OLP, nesta sexta-feira (29).

Quase um mês antes de lançar a “operação Margem Protetora” contra a Faixa de Gaza, em 8 de julho, o governo de Israel havia enviado mais soldados à Cisjordânia, já ocupada militarmente, para participarem das buscas que envolveram as detenções massivas e arbitrárias, casos brutais de abuso da força e assassinatos, além das destruições de casas e outras estruturas e a expansão da colonização, constante, com a construção de mais casas das colônias ilegais israelenses.

O documento da OLP retoma uma declaração feita pelo primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu ainda em 11 de julho, no início dos bombardeios contra Gaza, em que tentaria “justificar”, com o exemplo do território litorâneo sitiado há quase oito anos e, segundo ele, liderado por “terroristas” – o Hamas, principalmente – a permanência do regime de ocupação da Cisjordânia. “O povo israelense entende agora o que eu sempre disse: não pode haver uma situação, sob qualquer acordo, em que abrimos mão do controle securitário dos territórios a oeste do Rio Jordão,” disse Netanyahu, referindo-se à ocupação militar da quase totalidade da Cisjordânia.

Entre 13 de junho e 26 de agosto – quando foi anunciado um cessar-fogo e a suspensão dos bombardeios em Gaza – a ofensiva “Guardião Fraterno” contra a Cisjordânia resultou nas mortes de 32 palestinos, assassinados pelas tropas israelenses ou por colonos, em uma onda de intensificação dos ataques também rotineiros desse grupo contra os residentes palestinos. Mais 1.397 pessoas ficaram feridas em diversos confrontos ou nas agressões diretas, e as tropas israelenses realizaram 1.573 batidas em toda a Cisjordânia e Jerusalém Leste, uma média de 21 invasões diárias.

Nestas ocasiões, 1.753 palestinos foram detidos, majoritariamente sob a chamada “detenção administrativa”, uma modalidade arbitrária – mas regulamentada em Israel – em que a detenção pode ser mantida por períodos renováveis de seis meses, sem acusação formal ou acesso a julgamentos. Várias crianças e parlamentares estão inclusos no número de detidos. Ao menos 50 lares e outras estruturas dos palestinos foram demolidos durante o período do relatório, deslocando forçosamente ao menos 112 pessoas, inclusive 66 crianças.

Cerca de 250 ataques diretos dos colonos, inclusive o assassinato brutal do adolescente Mohamed Abu Khdeir, de 15 anos, foram relatados pelos palestinos. Muitos são protegidos por soldados enquanto cometem agressões e seus ataques são majoritariamente negligenciados pelas autoridades israelenses. Ahmad Samad’a, Mohammed Dudin, de 14 anos, Jamil Suf, de 60, Mohamed Ismail, Ahmed Khaled, Fatima Rushdie, de 65, Mohammed Abdel Hadi Anati, de 10 anos, e Mustafa Aslan foram alguns dos palestinos mortos em ataques dos colonos ou em batidas dos soldados israelenses, inclusive em campos de refugiados. Veja a lista de nomes na imagem adiante, retirada do documento da OLP.

Ao menos mais seis mil colonos foram instalados na Cisjordânia neste período, com a construção de mais 1.472 casas nas colônias ilegais, principalmente na região palestina de Jerusalém Oriental. Para isso, várias extensões de terras palestinas foram desapropriadas ou confiscadas, isolando a capital ocupada do Estado da Palestina, com o intuito de inviabilizá-lo. São vastas as evidências das violações do direito internacional humanitário por Israel e da política reforçada de expulsão, despojo e massacre dos palestinos, em combinação com a agressão de mais de 50 dias contra a Faixa de Gaza.

*Moara Crivelente é cientista política e jornalista, fez parte da redação do Portal Vermelho e integra o Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz).