Na Colômbia, Socorro Gomes afirma anti-imperialismo pela paz soberana

O Dia pela Dignidade das Vítimas do Genocídio contra a União Patriótica foi marcado em Bogotá com uma grande marcha e mesas de debate sobre o conflito na Colômbia, seus impactos para a América Latina e os rumos do processo de paz. Socorro Gomes, presidenta do Conselho Mundial da Paz, participou com balanços do conflito, dos diálogos e da luta por justiça, denunciando a influência do imperialismo estadunidense no respaldo às elites oligárquicas e a militarização de todo o continente.  

Foto: Reiniciar  

O evento, realizado na sexta-feira (10) e no sábado (11), foi aberto por uma grande marcha em memória dos militantes da União Patriótica mortos em uma perseguição sistemática e aberta contra o grupo de esquerda durante m

ais de duas décadas. Até hoje, estima-se mais de seis mil assassinados e diversas vítimas de desaparecimento forçado. A luta atual é pela verdade, por justiça e por reparações como elementos centrais no processo de paz empreendido na Colômbia.

A organização Reiniciar, de defesa dos direitos humanos no país, foi a responsável pelo evento, com painéis e mesas de debate sobre o conflito armado que já dura cerca de seis décadas, de raízes ainda mais profundas e anteriores ao eclodir ou à intensificação da violência, sobretudo no campo.

Na conferência “O que significa a paz para a América Latina”, Socorro Gomes, que também é presidenta do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz), denunciou a militarização na região e o apoio dos Estados Unidos à oligarquia opressora e ao terrorismo de Estado. Ela enfatizou a unidade latino-americana na luta pela paz para fazer frente às ainda atuais ameaças imperialistas contra a integração regional progressista e à soberania de cada país.

O painel “Para além do conflito Armado” abordou as raízes do conflito colombiano – e seu caráter regional – com a avaliação das práticas militaristas e da política securitária dos sucessivos governos colombianos, assim como a perseguição sistemática a defensores dos direitos humanos e nas tentativas de desestabilização dos processos de paz.



“A justiça foi postergada e, em seu lugar,” disse Socorro, “mais violência foi institucionalizada, sobretudo com o apoio do imperialismo norte-americano, que se alimenta das fraturas nacionais e do sofrimento popular. A militarização da repressão foi o plano central dos sucessivos governos apoiados e infiltrados pelos Estados Unidos em nosso continente.”

Já na mesa de debates sobre “Experiências comparativas de Processos de Paz”, os diálogos correntes entre o governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo (Farc-EP), realizados em Cuba desde 2012, foram o tema central. As experiências, conquistas logradas no âmbito da agenda de negociações e o modelo de participação implementado foram tópicos de análise e comparação com outros processos e acordos de paz nem tão positivos. É o caso dos processos da Guatemala e El Salvador, avaliados por Socorro como evidências de que a participação popular e o compromisso da liderança com o acordado são cruciais para a prevenção contra o retorno à violência.

     

Colombianos realizam marcha em Bogotá no Dia pela Dignidade das Vítimas do Genocídio da União Patriótica.
Foto: Reiniciar

Imperialismo, conflito e diálogos

Para a presidenta do Cebrapaz e do Conselho Mundial da Paz, os colombianos rejeitaram o modelo da exploração oligárquica sobre o povo e sobre o campo, “exigiram justiça social, distribuição, reforma agrária e democracia. A resposta às suas demandas foi a violência, assim como na Guatemala, em El Salvador, Honduras e Nicarágua, que também tiveram de empreender seus próprios processos de paz conturbados.”

Além disso, a atuação externa para propiciar a eclosão e aprofundamento dos conflitos na América Latina foi sublinhada por Socorro de maneira enfática, na afirmação da necessidade de unidade latino-americana em prol da luta pela paz e pela integração regional soberana, anti-imperialista.

A presença “belicosa e militarista dos Estados Unidos em nossos países é cada vez mais rechaçada, nossos povos afirmam e lutam por sua soberania e sua autodeterminação,” afirmou Socorro. “A ‘guerra’ dos Estados Unidos e seus instrumentos alegadamente contra as drogas, usada como plataforma de achaque contra os povos da América Latina, é posta por terra. A conexão direta entre esta política, a disseminação de bases militares e a tentativa de dominação das nossas economias e nossa política se evidencia, numa clara demonstração dos reais desígnios de domínio e saque da potência do norte.”

Por isso, continuou Socorro, a participação popular no processo de paz colombiano, “com as mesas regionais de proposições e demandas, é fundamental, um exemplo a ser seguido por outros processos, conduzidos a portas fechadas por líderes comprometidos com suas próprias agendas. Os colombianos fortalecem as bases de um novo modelo de diálogos,” em prol da construção de uma paz justa, inclusiva e abrangente, pelo fim da militarização e da ingerência imperialista na América Latina.

Com informações do Cebrapaz, para o Vermelho