Instituto promove abordagens alternativas sobre o Oriente Médio

O Instituto de Estudos Geopolíticos do Oriente Médio acaba de ser fundado, em São Paulo, com o intuito de agrupar formadores de opinião, pensadores e estudiosos do Oriente Médio no sentido de promover pesquisas e refletir visões alternativas às já predominantes nos meios de comunicação. Segundo o gestor do projeto, Dr. Assad Frangieh, o instituto tem como objetivo “incrementar o conhecimento e ampliar o horizonte das questões geopolíticas” da macrorregião.

Por Moara Crivelente*, para o Vermelho

Iraque e Síria - Mapa

Na passada terça-feira (14) deu-se oficialmente a fundação do Instituto, apresentado pelo Dr. Frangieh a um auditório composto por acadêmicos, estudantes, jornalistas e interessados na geopolítica do Oriente Médio. A presidenta do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz) Socorro Gomes, assim como o diretor, José Reinaldo Carvalho, também estiveram presentes.

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A abertura conceitual foi feita pelo professor Salem Nasser, presidente do Instituto de Cultura Árabe e professor de Direito da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo. Nasser abordou a “Guerra das Mídias e das Mentes”, afirmando a necessidade de uma nova narrativa sobre o Oriente Médio que possa oferecer uma perspectiva alternativa àquela já predominante nos meios de comunicação, assentada em preconceitos e manipulações ideológicas desde a perspectiva ocidental.

Nasser referiu-se à obra do importante pensador palestino Edward Said, “Orientalismo”, que aborda a construção de um “Oriente” pelo “Ocidente” no contexto da colonização, ou como sustentáculo da mesma. O enraizamento e a institucionalização da narrativa sobre o que foi cunhado pelos “orientalistas” – europeus, não “orientais” – como o Oriente e como “os orientais” permeou o movimento colonizador, sobretudo francês e britânico, mas também continua permeando, através de algumas “modernizações” do conceito, o imperialismo europeu e estadunidense contemporâneo.

Em seu livro, Said enfatiza também o papel fundamental da academia neste processo, em que importantes instituições de ensino e pesquisa serviram e ainda servem, consciente ou inconscientemente, como veículos e máquinas de justificativa do neocolonialismo e do imperialismo. Por isso, Nasser enfatizou a urgência da crítica, do debate e apropriação desta narrativa.

É neste sentido que a produção acadêmica e, principalmente, os discursos veiculados pelos meios de comunicação convencionais e conservadores sobre o Oriente Médio são discutidas na fundação do Instituto, que terá sede em Brasília.

De acordo com Frangieh, o projeto tem na Federação das Entidades Árabe Brasileiras (Fearab América) sua principal incentivadora. O instituto organizará palestras e também receberá colaborações de um vasto grupo de pesquisadores, estudantes e pensadores sobre a geopolítica no Oriente Médio para promover debates e abordagens alternativas.

*Moara Crivelente é cientista política, jornalista e membro do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz), assessorando a presidência do Conselho Mundial da Paz.