Ana Mary C. Cavalcante: Espelho, espelho meu…

Por *Ana Mary C. Cavalcante

Manifestações de desprezo de brasileiros pelo Brasil têm surgido com muita força nas redes sociais e nas conversas cotidianas. A cada post ou dia, surgem mais pessoas que demonstram uma vontade (raivosa e indiferente) de deixar o País para trás.

É compreensível a fuga diante da violência que tem roubado rotinas, encontros e o gosto dos lugares e contra a qual somos o lado mais frágil e impotente.

O que não compreendo são as justificativas que se baseiam no ódio pelos semelhantes (brasileiros, cidadãos, gente) e se encadeiam como as velhas argolas das senzalas de um passado colonizador e vergonhoso.

Se a distância social entre ricos e pobres brasileiros têm diminuído com determinadas (e pontuais, e rasas, e…) políticas públicas, a profundidade desse abismo nacional histórico aumentou consideravelmente pela falta de honestidade, compromisso e respeito em todas as esferas de poder. Mas também pela falta de amor próprio.

A verdade (e a verdade é um espelho da Branca de Neve) é que não aceitamos ser um País latino-americano (há um desejo de origem e invejoso de sermos só americano ou mesmo europeu), com as mazelas e as riquezas próprias.

Não aceitamos ser quem somos, ou só aceitamos ser nossa melhor parte, e isso nos dói e nos custa a alma. Falo de indivíduos e de Nação. Desde sempre, queremos o brinquedo ou o talento do outro, é humano. Mas a natureza humana é também possível de transformações.

Sim, acredito que podemos aprender sentimentos, para o bem ou para o mal. Amor também se ensina e se aprende, eu acho.

Mas, de tudo o que escrevi, o que eu queria dizer mesmo é que quem tem vontade de deixar o País planeje a viagem. Junte o dinheiro, seja de investimentos bancários ou do Bolsa Família, e vá. Na boa. Muitas vezes na vida é preciso ir embora para ser feliz ou para sentir saudades. E leve o desprezo, o ódio e a indiferença pelo Brasil para bem longe daqui. Esses sentimentos não fazem falta.

Para os que permanecerem, desejo perseverança e fidelidade nas tentativas de amar este País. E um amor correspondido.

*Ana Mary C. Cavalcante é repórter especial do jornal O Povo.