Cesar Monatti: A diferença no resultado das eleições foi um Pará

Por mais que sejam, de modo geral, conhecidos o poder da linguagem e a força das palavras, é preciso reiterar, de tempos em tempos, esse aprendizado construído ao longo da história.

Por Cesar Monatti*, no Jornal GGN

Por outro lado, quando as palavras servem de veículo para números, num mundo em que se martela constantemente a importância de dados e medidas, aquele poder e força alcançam o valor da magia quando descrevem uma circuntância social complexa.

É o que tem ocorrido quanto à apresentação dos resultados das eleições presidenciais mediante a utilização de percentuais.

Ao longo de meses, sem que percebêssemos os perigos de uma potencial utilização tendenciosa de números relativos, pesquisas e mais pesquisas nos foram apresentadas dessa forma. A regra da maioria de votos, eventualmente relembrada, referia sempre a um cinquenta por cento antes da expressão "mais um", misturando as noções de fração e comparação entre números absolutos.

Sabemos muito bem no que isso redundou logo após a oficialização dos resultados das urnas. A imagem de um mapa colorido atribuindo o mesmo peso – isto é, o peso de uma unidade da federação – em cores, para estados com colégios eleitorais de tamanhos tão díspares quanto São Paulo e Amapá, cuja proporção é de 65 (sessenta e cinco!!!) vezes, difundiu uma interpretação simplista e preconceituosa dos porquês da totalização dos votos. Aliás, como se não fosse um padrão internacional a maioria dos eleitores votarem de acordo com sua própria avaliação sobre qual das candidaturas atende melhor seus interesses e necessidades imediatas.

Felizmente, por meio da internet, outras representações geográficas das eleições foram apresentadas e difundidas apontando a falácia fantasiada de argumentação estatística e cartográfica e valorizando o ponto mais importante em questão: uma eleição é decidida pelo tal "mais um" que aparece todo o tempo como apêndice do cinquenta por cento, isto é, ao fim e ao cabo, ela se define apenas pelo número de votos e não pela proporção entre eles, que é apenas uma simplificação visando facilitar a comunicação.

Dessa forma, considerando-se que a diferença de votos entre as duas candidaturas foi de cerca de três milhões e meio, é uma injustiça aritmética proclamar que a região nordeste foi responsável pela reeleição, pois na verdade, a subtração entre os totais de cada candidato equivale, em números absolutos, aproximadamente, ao número de eleitores que compareceram às urnas no Pará.

Isso é muita gente, e para efeitos de entendimento dos números finais do segundo turno essa é uma comparação válida, independentemente do percentual que votou num ou noutro candidato naquele, em todos os sentidos, grande estado.

*Cesar Monatti é aposentado, Salvador, BA