Em encontro com movimentos sociais Papa defende reformas estruturantes

Em encontro realizado desde segunda-feira (27) no Vaticano, com movimentos sociais de diversas frentes de atuação e todos os continentes, o Papa Francisco, durante o encerramento nesta quarta-feira (29), criticou a exploração do homem pelo “deus mercado” onde “os lucros são mais importantes que as pessoas”, e defendeu reformas estruturantes, essenciais para um mundo mais igualitário. Eentre elas a reforma a agrária, o direito à moradia, reforma urbana, valorização do trabalho e combate à fome.

Papa Francisco com movimentos sociais - AFP

Representantes de movimentos sociais de várias partes do mundo, independente de ideologia política, religião ou etnia, participaram do Encontro Mundial de Movimentos Populares com o Papa Francisco e outras autoridades religiosas, a fim de debater ações locais e globais para o desenvolvimento de um mundo mais justo e igualitário.

O encontro deixou a percepção que as injustiças são muito parecidas em todas as partes do mundo. Em vários países há movimentos que, como no Brasil, lutam para ter direito à terra e desenvolver agricultura familiar sem agrotóxicos, defendem o direito à moradia e cidades mais humanas, combatem a fome e o trabalho escravo, enfrentam o grande setor financeiro em busca de salários dignos.

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Em seu discurso de encerramento do evento, o papa Francisco destacou que “os pobres não só padecem a injustiça, mas também lutam contra ela, e “não se contentam com promessas ilusórias, desculpas ou pretextos. Também não estão esperando de braços cruzados a ajuda de ONGs”. Pelo contrário, “querem ser protagonistas, se organizam, estudam, trabalham, reivindicam e, sobretudo, praticam solidariedade”.

Neste sentido, o líder religioso defendeu que solidariedade também significa “lutar contra as causas estruturais da pobreza, a desigualdade, a falta de trabalho, de terra e de moradia a negação dos direitos sociais e trabalhistas. É enfrentar os destrutivos efeitos do Império do dinheiro”.

De forma veemente o papa defende o fim do monopólio da terra, que tanto assola os países, principalmente mais pobres. "A reforma agrária é, além de uma necessidade política, uma obrigação moral", disse. Também pediu aos dirigentes dos movimentos sociais que continuem a luta pela dignidade da família rural, pela água, pela vida e para que todos se beneficiem dos frutos da terra.

O direito à moradia também é uma preocupação do pontífice, “Eu disse e repito: uma casa para cada família”. Criticou o desenvolvimento desenfreado das cidades, onde milhões vivem à margem enquanto poucos lucram e se desenvolvem. “Hoje, vivemos em imensas cidades que se mostram modernas, orgulhosas e até vaidosas. Cidades que oferecem inúmeros prazeres e bem-estar para uma minoria feliz… mas se nega o teto a milhares de vizinhos e irmãos nossos”.

A valorização do trabalho, e das pessoas, ao contrário do sistema posto onde o lucro e o capital são a prioridade também é uma proposta do papa. “O desemprego juvenil, a informalidade e a falta de direitos trabalhistas não são inevitáveis, são o resultado de uma prévia opção social, de um sistema econômico que coloca os lucros acima do homem, se o lucro é econômico, sobre a humanidade ou sobre o homem, são efeitos de uma cultura do descarte que considera o ser humano em si mesmo como um bem de consumo, que pode ser usado e depois jogado fora”, afirmou.

Criticou o sistema capitalista onde crianças, idosos e jovens não são respeitados, e nem têm oportunidades, por serem considerados improdutivos. Alertou ainda que, em períodos de crise, como a que se enfrenta atualmente no mundo, esta situação torna-se ainda mais crônica. Defendeu a recuperação do equilíbrio, da valorização do trabalho e da inclusão dos considerados “improdutivos”, para alcançar um mundo mais igualitário.

Por fim, a autoridade religiosa destacou sua preocupação com a exploração exacerbada dos recursos naturais sem fiscalização, ou planejamentos futuros. “Um sistema econômico centrado no deus dinheiro também precisa saquear a natureza, saquear a natureza, para sustentar o ritmo frenético de consumo que lhe é inerente”.

Aponto que mudanças climáticas, perda de biodiversidade e desmatamento já causam hoje efeitos devastadores, cujos mais atingidos são pobres. “Os movimentos populares expressam a necessidade urgente de revitalizar as nossas democracias, tantas vezes sequestradas por inúmeros fatores. É impossível imaginar um futuro para a sociedade sem a participação protagônica das grandes maiorias, e esse protagonismo excede os procedimentos lógicos da democracia formal”, finalizou.

Mariana Serafini, da redação do Vermelho