Dez anos da morte de Arafat: os palestinos vivem com novos inimigos

Há dias atrás, os palestinos lembraram a ausência de sua liderança mais marcante, Yasser Arafat. Apenas em Ramallah, sede da Autoridade Nacional Palestina foi possível realizar um ato público popular já que em Gaza, o Hamas alegou falta de segurança interna para um ato similar. A mensagem do Hamas chegou alta e clara. Porém vergonhosa.

Por Assad Frangieh, no Instituto de Estudos Geopolíticos do Oriente Médio

Yasser Arafat - AFP

Quando a conciliação palestina deu seus passos firmes antes da Guerra de Israel contra Gaza em julho de 2014 e a resistência palestina demonstrava que sua composição militar ultrapassava os guerreiros do Hamas abrangendo outras facções organizadas, disciplinadas e distantes da ideologia da Irmandade Muçulmana, a mobilização e as declarações das lideranças do Hamas apontavam pelo “sequestro” da vitória da Resistência em Gaza sob a aba dos elogios ao Qatar e Turquia ignorando literalmente os reais aliados que os suportaram em armas, logística e finanças.

As lideranças do Hamas, sem exceção nenhuma, estão longe de qualquer compromisso com a Causa Palestina desenhada por Yasser Arafat e mantida dentro de circunstâncias duras pela Autoridade Nacional Palestina de Mahmoud Abbas. Não há absolutamente nenhuma diferença manter-se sob a aba do Qatar, da Turquia ou de Israel. Esses países sustentam financeiramente o Hamas e consequentemente são donos de seus corpos e suas almas. De longe, qualquer chefe do Hamas poderá relatar dignidade ou liderança. São apenas agentes.

A posição dura e a resposta violenta do Egito aos ataques terroristas realizados contra suas tropas no norte do Sinai não são atitudes vingativas oriundas apenas pelas ações acumulativas da Irmandade Muçulmana. Há fortes indícios e evidências do envolvimento das lideranças do Hamas, o financiamento da Monarquia no Qatar, a diplomacia hipócrita da Turquia e a conivência de Israel, incentivando modelos similares em menor escala dos grupos takfiristas tipo “Estado Islâmico” e “Al Nusra” para desestabilização do Egito. O próprio Sissi declarou isso em palavras claras. A responsabilidade do aperto do Egito sobre Gaza deve ser atribuída às lideranças do Hamas e não ao Governo Egípcio. A questão humanitária é o papel de chantagem usado para limpar a barra do Hamas perante a mídia árabe e internacional.

A situação na Cisjordânia está tensa a ponto de muitos analistas apontarem a possibilidade de uma terceira Intifada eclodir. A carta escrita ontem por Marwan Al Barghouti de sua prisão relatando a opção de resistência como a alternativa para derrotar Israel, o levou à prisão solitária e novamente à posição da voz mais lúcida e creditada da Resistência Palestina.

Os anos mostraram que o Hamas tem sua lealdade aos ensinamentos islâmicos fundamentalistas e que o Poder é uma meta a ser alcançada a qualquer custo. A Causa Palestina para o Hamas é apenas uma fachada para a mídia e a população em Gaza apenas “produtos” para negociação.
Os povos na Cisjordânia e em Gaza não precisam de reconciliação. O que é preciso é renovar os interlocutores em Gaza e buscar as lideranças que tremulam a bandeira Palestina e não a bandeira Verde. De qualquer forma, é bom Israel levar a sério a comoção palestina afinal não são estas lideranças falantes que resistiram ao passar dos anos. A resistência continuará sendo nas pedras dos jovens e na determinação dos guerreiros.