Os três últimos heróis cubanos presos nos EUA foram libertados

O presidente cubano Raúl Castro anunciou nesta quarta-feira (17) que chegaram a Havana os três últimos prisioneiros antiterroristas cubanos que permaneceram em cárceres norte-americanos por mais de 16 anos. 

Após cinco anos de prisão, Cuba libertou nesta quarta-feira (17) o norte-americano Alan Gross, que cumpria pena de 15 anos na ilha por espionagem. Em troca, Washington libertou também os últimos três dos Cinco Cubanos presos nos EUA, também acusados de espionagem. As libertações representam o maior sinal de mudança nas relações EUA-Cuba desde a imposição do bloqueio à ilha, em 1961.

Gross estava em Cuba, segundo o governo dos EUA, para distribuir equipamentos via satélite com o objetivo de “promover a democracia” no país. Já os cubanos estavam em território norte-americano em operações de contrainteligência.

Gross está em trânsito entre Cuba e os EUA, em um avião do governo norte-americano.
O presidente Barack Obama deve anunciar também, ainda nesta quarta-feira, outras medidas em relação a Cuba. 

Cinco Cubanos

Os “cinco heróis”, como são conhecidos em Cuba, foram presos na Flórida em 1998 e, três anos mais tarde, condenados pela Justiça do país por "espionagem e envolvimento no abatimento de dois aviões".

Gerardo Hernández, René González, Tony Guerrero, Fernando González e Ramón Labañino eram agentes do serviço secreto de Cuba infiltrados nos Estados Unidos para prevenir ações terroristas deste país contra Cuba. Os cinco faziam parte de uma complexa operação batizada como Rede Vespa. Instalados na Flórida e disfarçados de desertores do regime cubano, o esquadrão de 14 integrantes tinha a tarefa de munir Havana com informações sobre as organizações terroristas anticastristas que operavam no país.

Criadas por cubanos exilados que fugiram do país após o triunfo da Revolução em 1959, as organizações anticastristas tinham o objetivo explícito de lutar pelo fim do comunismo cubano e pela queda do líder Fidel Castro. Algumas delas, inclusive, não faziam questão de esconder que apoiavam e financiavam ações terroristas para alcançar o almejado fim.

Uma vez detectada a estratégia de Havana, o alvo dos milionários exilados passou a ser os imponentes resorts do balneário de Varadero, além dos pontos turísticos mais visitados da capital cubana. “A opinião pública precisa saber que é mais seguro fazer turismo na Bósnia-Herzegovina do que em Cuba”, estampavam os folhetos de algumas dessas organizações – que realizavam desde sequestro de aviões e pequenas explosões, até sobrevoos nos quais eram despejados cartazes com propaganda anticomunista pelas avenidas de Havana.

Alan Gross

Gross trabalhava para a Development Alternative, Inc (DAI), contratada pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID, na sigla em inglês), que responde ao Departamento de Estado.

De acordo com Washington, Gross estava em Havana para ajudar os membros da comunidade judaica cubana a “se conectarem com outras comunidades judaicas do mundo”. Mas a mesma comunidade judaica de Havana contradiz a versão oficial dos Estados Unidos e da família Gross.

Desde julho deste ano, Gross se negava a receber visitas da família e da equipe do Escritório de Interesse dos Estados Unidos em Havana, em protesto pelo que considerava falta de ação por parte do governo de Washington para obter sua libertação.

Julgamento

Após anos de operação sigilosa,o serviço de contra-inteligência dos EUA acabou detectando a atuação da Rede Vespa e prendeu dez dos agentes cubanos. Metade deles fez acordos com a Justiça norte-americana e, por meio da delação premiada, pegou pena mínima e ingressou no programa de proteção à testemunha do Departamento de Estado.

Em um longo e controverso julgamento – a cidade de Miami é majoritariamente anticastrista –, os cinco cubanos acabaram condenados pelo júri em 2001. Alguns anos mais tarde, Leonard Weinglass advogaria pro bono pelos cubanos. Sem sucesso, porém, o “caso dos cinco” somente se acumularia à afamada lista de causas defendidas pelo advogado: a atriz Jane Fonda, os Panteras Negras e, antes de morrer, o criador do site WikiLeaks, Julian Assange, seu último caso.

Com informações da Opera Mundi