Superação do racismo é ação que envolve toda a sociedade, diz ministra

As políticas afirmativas, como a inclusão de cotas para o ingresso de negros em universidades federais e no serviço público, são fundamentais para correção de desigualdades históricas no Brasil. É o que afirma a nova ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Nilma Lino Gomes, em entrevista ao Fala Ministro.

Fala Ministro - TV Vermelho

Segundo ela, essas políticas têm o potencial, de no médio e longo prazo, mudar o perfil da sociedade brasileira, tornando-a realmente justa e democrática.

“São importantes para que possam colocar a população negra num lugar de visibilidade social, de visibilidade política, embora, muitas vezes, essas políticas sejam vistas pelo lado negativo, e não pelo lado da cidadania, do direito”, pontuou a ministra, destacando que o Estado precisa sair da posição de neutralidade e assuma as políticas de correção de injustiças históricas para, assim, promover a justiça social.

A ministra também falou sobre as suas metas à frente da Seppir, que completa 11 anos de funcionamento. Ela reafirmou o compromisso de dar continuidade ao que já foi feito e ressaltou a necessidade de avançar em quatro eixos. "O eixo das ações afirmativas, da questão quilombola e dos povos de comunidades tradicionais, da nossa juventude – com enfoque na juventude negra – e também na internacionalização e aí pensando na internacionalização articulando América Latina e região e também África, com foco também nos países africanos de língua portuguesa, pelo nosso diálogo, que nos aproxima pela questão da própria língua", disse ela.

A ministra enfatizou a importância do diálogo com os outros ministérios. "A política de promoção da igualdade racial não é algo exclusivo da Seppir, a política de promoção da igualdade racial é de todos nós. A superação do racismo, a construção de oportunidades iguais, essa é uma política e uma ação cidadã que envolve toda a sociedade brasileira", declarou.

Obra de Monteiro Lobato

Sobre a polêmica em torno do parecer da obra Caçadas de Pedrinho, do escritor infantil Monteiro Lobato, a ministra afirmou: “Esse parecer dá orientações, faz contextualizações para o sistema de ensino e para as escolas em relação não só a essa obra, mas em relação a obras literárias cujos estudos críticos hoje mostram a presença de estereótipos raciais. O que nós fizemos foi orientar as editoras que inserissem uma nota explicativa nos livros falando sobre a questão dos estereótipos raciais na obra do Lobato, assim como em outras obras literárias falando do contexto hoje no Brasil, da superação do racismo, enfim, como um ato educativo”.

Para a ministra, alguns setores da mídia fizeram uma interpretação errônea do parecer. “As pessoas não leram o parecer, leram muito mais manchetes espalhadas por vários veículos midiáticos e também por conversas nas redes sociais e criou-se a ideia que o parecer estava vetando a obra do Lobato, de que o parecer estava mandando tirar livros das bibliotecas, inverdades foram criadas”, salientou.

Nilma enfatizou a importância dessa ação para a formação de professores e alunos. “O parecer prevê que a formação do professor inclua a discussão dos estereótipos raciais na literatura e das questões ligadas ao racismo. Porque o professor é o grande mediador na hora da criança trabalhar em sala de aula com livro, com uma obra literária. Ele faz uma mediação. E nessa mediação, esse professor enquanto formador e educador, ele tem que ter subsídio para poder orientar essa criança. Para explicar às crianças que hoje nós estamos em outros tempos. Para que o professor consiga conduzir o debate para que não se criem situações de constrangimento para as crianças negras dentro da escola, que aquilo que está numa personagem não possa se transformar em apelidos pejorativos, por exemplo, para crianças negras dentro da escola”, asseverou.

Confira a entrevista na íntegra.


Fonte: Blog do Planalto