México: ONU alerta sobre impunidade por desaparecimentos

O Comitê contra o Desaparecimento Forçado da ONU criticou fortemente o governo mexicano, na sexta-feira (13), por sua incapacidade de encerrar um dos capítulos mais obscuros de sua história recente: o desaparecimento de milhares de pessoas durante a guerra contra o narcotráfico.

Protesto em Guerrero (México) pelos estudantes desaparecidos em Iguala. - Fonte: EFE

Longe de considerá-lo um fenômeno isolado e já superado, as Nações Unidas alertaram que este tumor ainda se estende “por grande parte do território” e que representa para as autoridades um “sério desafio em termos de prevenção, investigação e sanção”.

Como exemplo dessa praga, a ONU destacou a recente tragédia dos 43 estudantes sequestrados em Iguala pela Polícia Municipal e, que, segundo a versão oficial, foram assassinados por pistoleiros do narcotráfico. O Governo mexicano não recebeu de forma positiva as conclusões da ONU.

“As recomendações emitidas pelo Comitê não refletem adequadamente a informação apresentada pelo México nem fornecem elementos adicionais que reforcem as ações e os compromissos postos em prática para solucionar os desafios mencionados”, ressaltaram em comunicado conjunto as secretarias de Governo e de Relações Exteriores.

A análise do comitê é fruto de uma minuciosa revisão que levou em consideração o Estado mexicano e representantes da sociedade civil. Embora as conclusões reconheçam tanto os avanços conseguidos em âmbito legislativo como o diálogo construtivo mantido com os representantes governamentais, a maior parte do documento está centrada nas graves carências na luta contra este terrível crime.

O Governo mexicano contabilizou 23.701 desaparecimentos, mas os dados não são precisos.
Seis Estados (Tamaulipas, Coahuila, Sinaloa, Chihuahua, Jalisco e Sonora) acumulam 30% dos casos. Não existe uma lei geral sobre desaparecimentos forçados e nem um registro único centralizado, embora sua criação tenha sido prometida.

O quadro traçado pela ONU coloca o Governo mexicano na corda bamba. Os principais pedidos do comitê, entre eles a criação do registro único e da lei geral de desaparições, já foram assumidos pelo presidente do México em sua segunda agenda de reformas. E a disposição do Executivo, segundo fontes governamentais, é levar adiante a maioria das recomendações. Os especialistas, no entanto, alertam que o objetivo continua distante e que o país ainda terá que conviver durante anos com esse mundo espectral formado pelos desaparecidos.

Fonte: ONU