Após mobilizar contra cobrança de refeições, JBS demite trabalhadora

A JBS – maior produtora de carnes e detentora das marcas Seara e Friboi -, apesar de gastar muito com propaganda com estrelas globais como Tony Ramos e Fátima Bernardes, acumula uma série de irregularidades contra seus empregados.

Andreia Pires de Oliveira, trabalhadora da JBS de Osasco

Os trabalhadores denunciam o excesso de jornada de trabalho, chegando até 12 horas seguidas; descumprimento da pausa de 20 minutos a cada 1h40 em ambientes frios; falta de locais adequados para o intervalo de recuperação térmica dos trabalhadores expostos à temperaturas extremamente frias para o corpo humano (entre 5º C e -15º C).

Irregularidades como essas resultaram em quatro condenações trabalhistas em fábricas da JBS no Acre, Maranhão, Rio Grande do Sul e Mato Grosso, apenas em 2014, que lhe custaram R$ 8 milhões em indenizações.

Reportagem publicada no Viomundo denuncia a demissão por justa causa, em 16 de janeiro de 2015, de Andreia Pires de Oliveira, trabalhadora da JBS de Osasco. Andreia explicou o motivo: “Fui demitida porque comecei a passar um abaixo-assinado pedindo à JBS para rever a decisão de cobrar as nossas refeições. Nós, funcionários, não pagávamos a refeição. De repente, arbitrariamente, a empresa passou a cobrar R$ 28,22 por mês. Já estávamos com mais de 200 assinaturas”.

Como Andreia foi cipeira (funcionário eleito para integrar a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes, a Cipa) tem estabilidade até setembro 2015, o que torna a demissão ilegal. A lei garante essa estabilidade ao trabalhador cipeiro durante o período de seu mandato e um ano após. É uma garantia ao trabalhador para que possa exercer de forma plena a sua função, sem ingerência ou pressão, apurando e denunciando irregularidades que violem a segurança e saúde nos locais de trabalho, observando o cumprimento de normas básicas, como o uso correto dos EPI´s (equipamentos de proteção individual), o excesso de trabalho e assédio moral da chefia.

Por lei, ciperio tem estabilidade

A demissão de um cipeiro só é aceita em caso de justa causa, sendo garantida a interpelação jurídica para verificação dessa justificativa. No caso da Andreia, a JBS diz que ela tinha um “excesso de suspensões”. Em três anos de trabalho, ele tinha oito suspensões, sendo sete por atrasos no horário de entrada. A última suspensão foi dia 15 de janeiro, um dia antes da sua demissão, por ter saído uma hora mais cedo no dia 12 de janeiro. Segundo a empresa, o supervisor não havia sido informado, configurando abandono de trabalho. Contudo, o superior imediato de Andreia, o líder, havia sido informado e encarregado de avisar ao supervisor, como é de costume.

Em carta dirigida aos trabalhadores, Andreia destaca: “Todos que me conhecem nessa fábrica sabem que não fico quieta frente a tanta coisa errada que fazem, seja com o trabalhador ou com o alimento que produzimos. Esta semana estávamos passando um abaixo assinado para não cobrarem nossas refeições, quase 200 assinaram e eu estava ajudando. Por isso é que fui demitida, porque não querem aceitar nem o mínimo que podemos fazer para nos defender. Eles tiram dentista, encarecem o convenio, tiram várias coisas de benefícios e quem fala alguma coisa é mandado sem direitos?!”.

Em outro trecho da carta a trabalhadora desabafa: “Faz 3 anos que trabalho aqui, foram muitas noites de trabalho pesado junto com a equipe do terceiro turno. Assim como vários colegas, também tenho buraco de sabão corrosivo na mão, muitas vezes tive que correr pra torneira com os olhos ardendo, trinquei um dedo em acidente, arrastamos peso, esfregamos chão, parede, placas pesadas da formax, damos o sangue toda noite para essa fábrica ficar limpa e agora o que recebo em troca quando tento me defender?”

Andreia, que luta pela readmissão, finaliza: “Faço essa carta para denunciar a todos essa grande injustiça que fizeram comigo. Agradeço aos colegas de todos os turnos com os quais pude trabalhar, continuarei lutando com unhas e dentes, seja onde estiver, por melhores condições de trabalho, contra tanta exploração”.

Da redação, com informações do Viomundo