Cresce rejeição a bases militares dos EUA na América Latina

A União de Nações Sul-americanas (Unasul) quer discutir a permanência das bases militares dos Estados Unidos na América Latina, onde tem ao menos 30 dessas instalações.

Em sua edição digital, o diário Tempo Argentino ressalta que o secretário-geral da Unasul, Ernesto Samper, referiu-se à conveniência de que a Cúpula das Américas, que se realiza nos dias 10 e 11 no Panamá, se torne um foro para discutir este palpitante tema.

O problema voltou a ser notícia esta semana – assinala o jornal – quando Washington anunciou que criará uma força especial para a América Latina, com sede em Honduras.

A nova unidade funcionará na base de Palmerola, em Honduras, a mesma à qual os militares hondurenhos conduziram Manuel Zelaya durante o golpe de Estado, em 28 de junho de 2009, e dali o conduziram à Costa Rica.

Segundo o jornal argentino, a nova base contará com 250 homens e disporá de poderosos recursos de guerra.

Em 27 de março último, Samper expressou sua preocupação pela multiplicação de bases no continente e propôs sua eliminação definitiva para equacionar as sempre conflitivas relações entre os Estados Unidos e os países da região.

O ex-presidente sugeriu que os primeiros passos para começar a discutir o tema poderiam ser dados no foro continental de 10 e 11 de abril.

Quanto ao número de bases norte-americanas na América Latina, não se pode falar de uma cifra oficial, mas há estimativas.

O Movimento pela Paz, a Soberania e a Solidariedade entre os Povos contabilizou 47 bases, embora nem todas sejam norte-americanas; também há as da Otan ou de países europeus, como a França e o Reino Unido.

A jornalista argentina Telma Luzzani realizou uma extensa pesquisa que publicou em 2012 sob o título "Territórios vigiados: como opera a rede de bases militares norte-americanas na América do Sul", na qual identificou mais de 30 locais de operações em pelo menos 17 países.

Trata-se de pequenas bases, nas quais vigoram as leis estadunidenses. Operam em rede e são utilizadas para recolher dados, proteger oleodutos, vigiar fluxos migratórios e realizar vigilância política.

Também apoiam golpes de Estado, sejam os que dão certo, como o desferido contra Zelaya em Honduras, ou fracassados, como os que ocorreram contra o presidente Hugo Chávez na Venezuela ou Rafael Correa no Equador. Algumas bases, como a localizada na Baía de Guantânamo, funcionam como centros de detenção e tortura.

O objetivo destes complexos é, por um lado, econômico. Não é casualidade que as fronteiras da Venezuela e do Brasil estejam cercadas por bases militares estadunidenses, adverte Tempo Argentino.
A Venezuela é um dos maiores produtores de petróleo do mundo, enquanto o Brasil descobriu há poucos anos uma impressionante reserva no fundo do Oceano Atlântico. A isso se soma a riqueza em recursos naturais e minerais da Amazônia.

E recorda que em 1º de julho de 2008, a Quarta Frota voltou a patrulhar as águas do Atlântico e do Pacífico Sul, depois de 58 anos de inatividade e motivada, segundo denunciaram vários especialistas, pela vigilância dos recursos naturais.

Um ano depois, a Colômbia permitiu a abertura de sete bases militares em seu território, algo que preocupou toda a região e inclusive gerou conflitos entre alguns presidentes.

Prensa Latina