Depois de lucrar alto, montadoras demitem 9,5% dos metalúrgicos

Nos últimos anos as montadoras lucraram alto com a venda de veículos e remeteram quantias substanciais às suas matrizes fora no Brasil. Agora, querem enfrentar a baixa nas vendas com demissões. Dados divulgados nesta quinta-feira (7), pela Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), aponta que em um ano reduziram o seu quadro de funcionários em 9,5%.

Por Dayane Santos

Adilson Araújo no Dia do Trabalhador - Renato Bazan

Apesar da forte mobilização dos trabalhadores, que tem impedido que esse índice seja ainda maior, as empresas manobram em direção à eliminação de postos de trabalho e se utilizam da crise para pressionar o governo a reimplantar políticas como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e flexibilização de direitos.

A Volkswagen em São Bernardo do Campo, região metropolitana de São Paulo, anunciou que colocou em férias cerca de 8 mil funcionários desde segunda-feira (4). O motivo, de acordo com a empresa, é “adequar o volume de produção à demanda do mercado”, sem dar detalhes sobre a medida. O Sindicato dos Metalúrgicos da ABC afirma que a linha de produção da unidade, que tem 13 mil funcionários, ficará parada por dez dias.

A General Motors (GM), em São José dos Campos, também anunciou que vai suspender os contratos de 325 trabalhadores por três meses a partir da próxima sexta-feira (8). Com a medida, a montadora passa a ter 798 trabalhadores em 'layoff' até agosto. Além da suspensão dos contratos, a montadora abriu um novo Plano de Demissão Voluntária (PDV).

Na terça (5), 467 funcionários da unidade da GM em São Caetano do Sul, no ABC paulista, também foram colocados em licença remunerada e sem previsão para o retorno ao trabalho. Os metalúrgicos afastados se juntam a outros 819 da mesma unidade que estão com os contratos suspensos de 10 de abril a 9 de junho.

Isenções e lucro alto sem contrapartidas

“As montadoras e os grandes grupos econômicos concentraram grande lucratividade devido ao aumento da produtividade nos últimos anos. Ao tempo que o governo foi célere no atendimento das reivindicações do setor empresarial, sobretudo nas políticas de desonerações, incentivos fiscais e empréstimos do BNDES, vimos que as multinacionais remeteram cifras vultosas ao exterior para suprir os dividendos das suas matrizes”, lembrou o presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Adílson Araújo.

Marcelo Toledo, metalúrgico da região do ABC e dirigente sindical da CTB, afirma que as medidas são reflexos da retração do mercado, mas também diz se tratar de uma política das multinacionais.

“As empresas aproveitam esse processo de crise na demanda, para fazer um processo de reestruturação produtiva. Não se trata de uma rotatividade conjuntural. É estrutural, ou seja, faz parte do sistema capitalista fazer reestruturação produtiva com alteração de cargos e salários”, avalia Marcelo.

Segundo ele, a cadeia automotiva é a ponta do iceberg, pois dela depende vários segmentos da indústria. “Quando o setor começa a apontar crise concreta, isso significa que seus efeitos tendem a abarcar todo segmento da cadeia produtiva”, declarou Marcelo.

Os sindicalistas destacam ainda que apesar da pressão as multinacionais continuam a demitir por meio do Programa de Demissão Voluntária (PDV). Eles alertam que para cada 1 emprego direto perdido numa empresa automotiva, significa a perda de 3 a 5 vagas na cadeia produtiva.

Redução do quadro

A realidade mostra que a preocupação dos sindicalistas tem fundamento. Em um ano as montadoras reduziram o seu quadro de funcionários em 9,5%. E para o presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, ainda é pouco.

“Nós fizemos um ajuste de pessoal, basicamente utilizando o PDV [Programa de Demissão Voluntária]. Mas, reconheço que mesmo com essa redução ainda estamos com excedente de pessoal. Basta ver o nível de produção e [comparar] com o nível de pessoal”, disse ao apresentar o balanço do setor.

O balanço aponta que de janeiro a abril, as fabricantes de veículos demitiram 4,6 mil funcionários. No início do ano, 144,2 mil trabalhadores atuavam no setor. Em abril, o número caiu para 139,6 mil. Em relação a abril de 2014, foram cortados 14,6 mil postos de trabalho.

Sete grandes montadoras multinacionais implantaram o sistema de férias coletivas, licenças remuneradas e o layoff (suspensão temporária do contrato de trabalho), entre outras medidas semelhantes. Agora, pressionam o governo para que implantar o que chamam de ‘flexibilização’ dos direitos estabelecidos em contratos, sob a justificativa de que isso manterá os empregos.

“A nossa proposta é que, se a crise é de 30%, você possa reduzir a jornada de trabalho em 30%. Se for de 20%, em 20%. Se for de 5%, em 5%. Seria uma forma de ajustar a mão de obra à necessidade da produção”, disse Luiz Moan, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

As empresas afirmam que o setor registrou queda de 16,2% no acumulado do primeiro trimestre do ano, na comparação com o mesmo período do ano passado. No entanto, o setor também registrou alta de 22,9% entre fevereiro e março.

Adilson salienta que nesse momento de crise política e de certa estagnação na economia “as empresas buscam utilizar esse elemento crítico para jogar o ônus da crise nos ombros do trabalhador”.

“Tentam reeditar políticas de flexibilização de direitos, precarizando ainda mais as relações de trabalho”, destaca o presidente da central. Segundo Adilson apesar de ter lucrado muito nos últimos anos, graças aos benefícios como a redução do IPI, as empresas não se colocam à disposição para manter os empregos. “A verdade é que o empresário não quer abrir mão da elevada margem de lucro”, pontuou.

“Há uma retração no mercado o que pressupõe uma redução de venda. Isso não pode significar uma redução de benefícios, salários e direitos”, defende.

Do Portal Vermelho, com informações de agências