Mães de Maio: ato lembra assassinatos de mais de 500 pessoas em SP

Um ato em frente a Catedral da Sé, no centro da capital paulista, lembrou nesta sexta-feira (15) os mais de 500 assassinatos ocorridos em maio de 2006, principalmente nas periferias das cidades de São Paulo e da Baixada Santista. O episódio, que ficou conhecido como Crimes de Maio, resultou na morte de 493 civis e 59 agentes públicos após ataques de grupos armados a policiais.

Mães de Maio: ato lembra assassinatos de mais de 500 pessoas em SP

O grupo Mães de Maio, criado por mães dos jovens mortos durante as ações, defendem que os números de assassinatos superam 600 e que foram cometidos pela polícia para “revidar” os ataques do crime organizado e vitimando, na maioria, inocentes – principalmente negros, pobres e moradores da periferia das cidades.

“Hoje faz nove anos que meu filho foi assassinado. Meu filho não volta mais, mas o Brasil tem de parar de ser uma fábrica de cadáveres da periferia, de favelados. Eles mataram em uma semana mais de 600 jovens, e todos os inquéritos foram arquivados. Não houve investigação”, disse a criadora do grupo Mães de Maio, Débora Silva, cujo filho, Edson Rogério Silva dos Santos, de 29 anos, foi assassinado em 15 de maio de 2006, a poucos metros da casa onde morava, em Santos, após parar para abastecer a moto em um posto de gasolina.

Segundo organizações de direitos humanos, como o Grupo Tortura Nunca Mais, os assassinatos foram uma reação de grupos de extermínio, com a participação de agentes do Estado, aos ataques da organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).

“É muito difícil, eu estou em choque, porque hoje é um dia que jamais eu vou esquecer. O dia que o Estado deu toque de recolher para matar. Ele colocou a população para dentro de casa, para a população não ser testemunha dos próprios crimes de braço armado do estado”, disse Débora.

Segundo a Comissão da Verdade da Democracia de São Paulo – instalada em fevereiro na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), com o objetivo de apurar violações cometidas pelo Estado brasileiro após a ditadura militar – as investigações sobre execuções e desaparecimentos dos Crimes de Maio foram quase todas arquivadas sem os devidos esclarecimentos e responsabilizações. Apenas um policial militar, Alexandre André Pereira da Silva, está preso pela morte de três jovens.

Murilo de Moraes Ferreira, Felipe Vasti Santos de Oliveira e Marcelo Heyd Meres estavam conversando em uma esquina do Jardim Brasil, na zona norte da capital paulista, quando homens em motocicletas passaram atirando. Em julho do ano passado, Alexandre André foi condenado em primeira instância, por homicídio qualificado, a 36 anos de prisão, em regime fechado e perda de cargo público.