PCdoB defende municipários contra perdas do efeito cascata

Os servidores públicos de Porto Alegre passam por um momento delicado em meio à sua campanha salarial. Mais do que lutar por melhorias em seus vencimentos, os servidores estão mobilizados por algo ainda mais elementar: a garantia de direitos já adquiridos no processo de correção do efeito cascata, numa conjuntura marcada pela falta de diálogo da Prefeitura em relação aos seus trabalhadores.

Na Câmara, Jussara se reúne com representantes do Simpa e vereadores e defende mediação para ampliar diálogo

“O argumento que tem sido usado contra os servidores, segundo o qual a categoria seria insensível à situação de crise nas contas públicas da capital e do estado, não procede”, diz a vereadora Jussara Cony, líder do PCdoB na Câmara de Porto Alegre e presidente da Frente Parlamentar em Defesa dos Servidores e dos Serviços Públicos de Qualidade. “Na verdade, estes trabalhadores querem apenas poder manter seus direitos. Este discurso serve para desqualificar suas reivindicações e jogar a população contra os trabalhadores”, explica.

Efeito cascata

O risco da perda iminente em seus salários atuais e futuros, bem como em sua aposentadoria, ponto que tem sido enfatizado nos atos do Sindicato dos Municipários de Porto Alegre (Simpa), deve-se à necessidade, apontada pelo Ministério Público do RS, de a administração municipal corrigir o efeito cascata sobre os salários dos servidores, resultante de um cálculo errado feito a partir de 1998.

O efeito cascata ocorre quando há sobreposição de vantagens nos itens que compõem a remuneração dos servidores públicos. Neste caso, a ação do MP determina a revisão das gratificações RDE (exercício funcional em Regime de Dedicação Exclusiva), RTI (exercício funcional em Regime de Trabalho Integral) e FG (Funções Gratificadas). Para que não haja o tal efeito cascata, conforme estabelecido em lei, é preciso que todas as gratificações incidam apenas sobre o salário básico.

Perdas e falta de diálogo

Diante da decisão da Justiça, o Executivo propôs a criação de um grupo de trabalho envolvendo representantes do poder público e dos servidores. “O problema é que o Executivo nunca levou em consideração nossos argumentos nem no âmbito deste GT. A falta de diálogo tem sido a regra”, critica Alexandre Dias, diretor de Formação do Simpa.

O Sindicato elaborou uma minuta de projeto na qual propunha uma série de medidas capazes de corrigir as distorções sem prejuízo aos trabalhadores. Em síntese, o documento estipulava a fixação, em termos percentuais, da compensação remuneratória aplicada sobre o vencimento básico do cargo dos funcionários convocados para prestar regime de trabalho de tempo integral, de dedicação exclusiva suplementar e complementar. Porém, segundo dirigentes sindicais, a proposta foi ignorada quando da elaboração dos projetos encaminhados pelo Executivo para apreciação da Câmara: o Projeto de Lei Complementar 016/14 e o PL 042/14.

O Simpa tem criticado a proposta da prefeitura por transformar o salário em abono e liquidar com os planos de carreira dos servidores. De acordo com Silvana Conti, diretora-geral do Simpa, “a proposta do Executivo transforma 30% dos nossos salários em abonos. E abonos não são contabilizados para efeito de aposentadoria e, além disso, são congelados, não passíveis de negociação salarial, ou seja, o nosso futuro viraria uma incógnita”.

Para piorar o quadro de dificuldades na negociação e de incompreensão quanto às demandas dos servidores, em abril foi aprovada na Câmara o PLCE 10/2014, que reestrutura a Secretaria da Fazenda e atenta contra a isonomia dos servidores ao propor mudanças que beneficiam somente uma pequena parcela dos trabalhadores da pasta.

“A atitude do governo ao apresentar esta proposta foi duplamente negativa: por não ter sido negociada com a categoria e por passar por cima de um princípio básico do serviço público que é a isonomia”, criticou a vereadora Jussara Cony.

A defesa do serviço público de qualidade e a valorização dos servidores pelo seu papel no atendimento à população é uma bandeira histórica do PCdoB. “Entendemos que esta é uma questão crucial para o bom funcionamento da cidade e para o oferecimento, à população, de serviços que respondam à sua demanda. É um dever do Estado como um todo, nas esferas municipal, estadual e federal, zelar pelo bom funcionamento de seus serviços porque isso atinge diretamente a população, em especial a mais vulnerável do ponto de vista socioeconômico”, defende Adalberto Frasson, presidente municipal do PCdoB.

“Os servidores devem ser vistos pela gestão municipal como parceiros, porque é isso que são. Deles depende a nossa cidade. Por isso, estamos buscando, desde o começo deste processo, estabelecer um canal de diálogo entre os dois lados. E vamos sempre estar ao lado dos municipários, essenciais para o povo de Porto Alegre”, finaliza a vereadora Jussara Cony.

Mediação

Nesta quinta-feira, dia 21, Jussara Cony participou de reunião na Câmara, com outros vereadores, entre eles o presidente Mauro Pinheiro (PT), e representantes do Simpa. Uma das propostas defendidas para mediar o diálogo entre Prefeitura e servidores foi aceita na manhã desta sexta, 22: que os municipários liberassem a entrada do prédio da Secretaria da Administração e, por sua vez, a Prefeitura retirasse o projeto de lei apresentado à Câmara a fim de haver negociação entre as partes para a construção de uma nova proposta que não prejudique os trabalhadores.