Anne Ribeiro: Rap é compromisso, não é viagem

A frase do título chegou a se transformar em um jargão dentro do movimento, estampa de camiseta e para alguns pode ser vista até como clichê, mas para aqueles que conseguem entender a real essência do que é ter o compromisso com o Rap ser chamado de clichê é uma ofensa.

Por Anne Ribeiro*, no portal da UJS

Grafiti - Fábio W. de Sousa

Sempre vi o Hip Hop para além de um movimento cultural, ou uma expressão das ruas. É o empoderamento do povo que foi marginalizado, onde eles se reconhecem e tem fluidez. Quando me dispus a trabalhar com Beto Teoria para a realização das atividades que aconteceriam dentro do 54º Conune, foi agarrar o leão pelos dentes e ensina-lo a dançar breaking mesmo sem eu mesma saber dançar.

Ter a mente clara de que é aí que está o compromisso com o Rap. O compromisso de o Rap dar coragem e voz ao que foi emudecido, ter ousadia de chegar e garantir que não reduzam o nosso espaço. Incomodar. Porque hoje o preto, pobre e periférico está nas universidades e como o Hip Hop, incomoda.

Essa conquista se reflete na dança, na música, na arte e na rua porque a rua é nossa casa, sempre vai ser. O jovem negro dentro de uma universidade é um futuro ex-periférico mostrando o que pensa e deixando quem gosta de ter o controle com aquele leão que citei ali em cima, dançando um breaking em meio às suas vísceras.

A Nação Hip Hop Brasil me mostrou que é esse leão que para além do breaking sabe o norte de onde a dança e o movimento tem de estar, sabe que as ruas são nossas, mas as escolas e as universidades também. Conhece a voz dos jovens e consegue fazê-los se empoderar, pegar o mic e encarar a batalha que o leva do mercado de trabalho para o mercado profissional.

É esse o compromisso que Sabotage cantava, é com esse compromisso que eu vou falar.