Oposição equatoriana ignora gesto conciliador de Rafael Correa

Os chamados da oposição para que se continuem os protestos, apesar de terem sido retirados temporariamente os projetos de lei que supostamente os provocavam, trazem a preocupação de que o gesto conciliador do presidente Rafael Correa tenha caído em ouvidos surdos.

"A América Latina não vai mais aceitar o neocolonialismo" - Wikicommons

"Marchar com mais vontade, não só contra o atropelo, mas contra o engano. No dia 25 (de junho), Guaiaquil protesta", escreveu o prefeito dessa cidade portuária, Jaime Nebot, em sua conta do Twitter.

Outros que também recorreram às redes sociais para convocar a população foram o ex-candidato presidencial Guillermo Lasso e os legisladores Andrés Páez e Lourdes Tiban, opositores acirrados do projeto de Revolução Cidadã liderada por Correa desde sua chegada ao poder em 2007.

Nesta segunda-feira (15), em uma mensagem à nação, Correa anunciou que para fomentar a tranquilidade e a calma, sobretudo às vésperas da chegada do Papa Francisco, no próximo dia 5 de julho, retirava temporariamente as propostas que procuram aumentar os impostos das heranças.

“Para evitar que estes grupos provoquem mais violência, principalmente quando teremos a visita do Papa Francisco e precisamos de um ambiente de paz, felicidade e reflexão para sua recepção, decidi retirar temporariamente os projetos de lei mencionados”, explicou.

De acordo com o chefe de Estado, desta forma, será aberto um grande debate nacional sobre as propostas, as quais, reiterou, jamais afetariam os pobres nem a classe média, como argumentam seus detratores.

“Queremos debates, não gritos, queremos argumentos, não manipulação”, enfatizou Correa, que há dias denunciou que por trás dos protestos dos últimos dias se esconde um plano desestabilizador orquestrado pela direita local, com assessoria estrangeira, para tirá-lo do poder.

O mandatário, inclusive, desafiou a oposição a reunir as assinaturas necessárias para chamar um referendo revocatório de seu mandato, em lugar de aplicar estratégias golpistas.

“Vamos opositores, em vez de usar a violência, a força, utilizem a Constituição: vamos à consulta revocatória, onde os derrotarei mil vezes”, afirmou o mandatário.

Contrários à reação de Jaime Nebot e dos demais líderes opositores, outros setores da sociedade equatoriana aplaudiram o mandatário.

“Ele demonstrou que defendemos os princípios da vida antes de qualquer questão política”, declarou o legislador da Aliança Pais, Carlos Velasco.

O chanceler Ricardo Patiño, por sua vez, afirmou através do Twitter que a opção do governo sempre tem sido o diálogo e a verdadeira democracia, enquanto a parlamentar María Augusta Calle também destacou a decisão de Correa.

“Estamos tirando o pretexto (da oposição), estamos estendendo a mão e dizendo com a generosidade própria de um revolucionário, que nos sentemos para conversar”, disse Calle ao canal Telesur.