Conselho Mundial da Paz debate desafios atuais em Portugal

O Conselho Português pela Paz e Cooperação (CPPC) realizou um debate, nesta quarta-feira (17), em Lisboa, sobre os 65 anos do Conselho Mundial da Paz (CMP). A presidenta do CPPC, Ilda Figueiredo, a presidenta do CMP, Socorro Gomes, e o jornalista José Goulão abordaram o contexto do nascimento deste movimento mundial de oposição à guerra, ao fascismo e ao imperialismo, e os desafios atuais num planeta cada vez mais militarizado, onde os povos devem envidar cada vez mais esforços pela paz.

Reunião do Conselho Mundial da Paz em Portugal - Cebrapaz

O debate, intitulado “Conselho Mundial da Paz: 65 anos de Luta Pela Paz e Desafios Atuais”, contou com a participação de militantes e representantes de diversas organizações portuguesas dedicadas às lutas populares diretamente ligadas à questão da paz.

Ilda Figueiredo abordou o contexto em que nasce o CMP para enfatizar, entre outros pontos de elevada importância, a ameaça ainda representada pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), ressaltando a crescente militarização do continente europeu e o avanço em direção à vizinhança russa pela Otan, com grandes exercícios militares previstos para ocorrer entre setembro e novembro, principalmente em Portugal, Itália e Espanha. O maior contingente envolvido nos exercícios de guerra será o de 25 mil tropas, em outubro (na manobra “Trident Juncture 2015”), com ações no Mar Mediterrâneo e no Mar Negro.

Ilda recobrou a Constituição da República Portuguesa, de 1976. Em seu artigo 7º, o documento centra a política externa portuguesa na paz, nos direitos humanos, nos direitos dos povos, na igualdade entre Estados, na cooperação com os povos para a emancipação e o progresso da humanidade, entre outros princípios significativamente progressistas, opostos à política imperialista praticada através da Otan. Além disso, a presidenta do CPPC também se referiu à Cúpula dos Povos em alternativa à Cúpula da Celac-União Europeia, em Bruxelas, em 10 e 11 de junho. No evento, quase 350 organizações e movimentos sociais de 43 países reafirmaram compromissos de elevada importância para a luta dos povos contra o imperialismo e por uma paz justa.

O jornalista José Goulão, editor do Jornalistas Sem Fronteiras, também pontuou a importância da “guerra de informações” na construção da narrativa imperialista para justificar a militarização e as agressões contra diversos países. Para ele, “o imperialismo não quer saber da paz, porque a paz não dá lucros. A guerra é que dá lucros.” Por isso, enfatizou o jornalista, “a luta pela paz é uma luta política e global”, que precisa ser travada também através das informações, inclusive com a identificação clara do que significa a paz, em contraposição ao uso propagandístico e retórico da palavra pelas grandes potências.

Para a presidenta do CMP e do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz), Socorro Gomes, o tom central é justamente o do fortalecimento da unidade entre os movimentos anti-imperialistas para a ampliação do movimento global representado pelo CMP. Ela fez referência aos precursores do Conselho e ao momento em que se fortaleceu um movimento de alternativa à guerra, ao fascismo e ao imperialismo, a partir dos congressos de 1948, 1949 e 1950, quando também se impulsionou o Apelo de Estocolmo contra as armas nucleares.

Socorro pontuou que a dinâmica internacional exige a “constante avaliação dos momentos que atravessamos, com o desenvolvimento de novas tecnologias e políticas militares pelo imperialismo, que expandia seus tentáculos pelo mundo. Como ficou claro, o fim da Segunda Guerra Mundial apenas inaugurara outro tipo de guerra, com focos específicos que, mesmo que aparentemente separados, integravam uma esfera de violência de caráter globalizado.”

Além disso, continua Socorro, “as experiências bem-sucedidas no processo de construção de alternativas progressistas ou os governos e povos que resistem contra a imposição da agenda neoliberal e imperialista são alvos centrais da expansão das grandes potências.” Mesmo assim, ela enfatizou que os movimentos unem-se no enfrentamento das novas ameaças para continuarem exigindo a abolição das armas nucleares, o desmantelamento da Otan, a retirada das bases militares estrangeiras e o respeito às soberanias nacionais em relações internacionais mais justas. “O imperialismo não é invencível e, juntos, os povos podem vencê-lo”, concluiu.