Coral de crianças refugiadas no Brasil pede paz no mundo

Um coral formado por crianças de diversos países, que vivem no Brasil na condição de refugiadas, pediu paz no mundo. Vestidas de branco e acompanhadas pela atriz e cantora Letícia Sabatella, as crianças cantaram Heal de World (Cure o mundo), de Michael Jackson, e chamaram todos: “Venha, já é hora de acender a chama da vida e fazer a terra inteira feliz”.

Coral de crianças refugiadas - Tomaz Silva/Agência Brasil

O ato pela paz – realizado nesta sexta-feira (19) – fez parte das ações do Dia Mundial do Refugiado, celebrado neste sábado (20). Por causa da frente fria, o evento, que seria no Cristo Redentor, foi transferido para o Espaço Cultural do Trem do Corcovado, no Cosme Velho. A estátua foi iluminada com a cor azul no início da noite. A pequena Verônia Mira Gusaneb, do Sudão do Sul, agradeceu a acolhida que recebeu no país há quatro anos e pediu ajuda para as 30 milhões de crianças que vivem atualmente como deslocadas ou refugiadas.

“Todos os anos milhões de crianças são obrigadas a deixar suas casas, por causa da guerra. Muitas vivem em campos de refugiados, sem poder estudar ou brincar. Eu peço que vocês ajudem essas crianças que não tiveram a mesma sorte que eu. Este é um ato pela paz, feito por crianças que não querem mais saber o porquê de tudo isso. O que a gente quer saber é até quando”, disse ela.

De acordo com o secretário nacional de Justiça e presidente do Conselho Nacional para Refugiados (Conare), Beto Vasconcelos, o número de pedidos de refúgio no Brasil aumentou muito nos últimos dois anos. Ele explicou que 7.946 pessoas são reconhecidas como refugiadas no país, e há cerca de 14 mil processos em análise pelo órgão, que está passando por uma reestruturação para que a avaliação dos pedidos seja feita em até seis meses.

“O Brasil é historicamente um país construído por imigração, com pessoas vindas de todo o mundo. É um país acolhedor, indiscutivelmente compreende e tem a sensibilidade de saber que essas pessoas estão fugindo de situações de perseguição, de conflitos armados e de grandes violações de direitos humanos. É óbvio a solidariedade de recebê-los, afinal somos todos migrantes aqui”, segundo ele.

A lei brasileira estabelece que aquele que estiver em território nacional e solicitar refúgio já tem a garantia e proteção, e pode tirar documentação, carteira de trabalho e se inserir na sociedade com assistência médica e educacional. Apresentadora do evento, a atriz Malu Mader, disse que ficou emocionada e impressionada quando soube do número de refugiados no mundo.

Ela ressaltou que “desde a Segunda Guerra Mundial não havia um número tão grande de refugiados, são 60 milhões, sendo 30 milhões de crianças e jovens no mundo todo. Porque a humanidade chega às vezes num ponto tão absurdo desse? A única coisa que a gente tem para se alegrar é que o nosso país tem recebido essas pessoas e acolhido”.

De acordo com o representante no Brasil do Alto Comissariado das Nações Unidas para
Refugiados (Acnur), Andrés Ramirez, o número de deslocados e refugiados no mundo atualmente é recorde. “Nós estamos vivendo uma situação trágica, onde as guerras antigas continuam, como as do Iraque e do Afeganistão; conflitos como na República Democrática do Congo, que não para e está piorando; e ainda estão surgindo conflitos novos. Então, conflitos novos com conflitos velhos fazem com que o número de refugiados forçados tenha aumentado demais, [bem como] o número de pessoas que, depois de ter sido deslocados, forçados a nível interno, tiveram que atravessar uma fronteira internacional para procurar refúgio”.

Segundo Ramirez, Síria e Afeganistão são os países que têm mais cidadãos refugiados atualmente.