Dilma afirma que sua gestão é alvo de “preconceito de gênero”

A presidenta Dilma Rousseff criticou, em entrevista ao jornal The Washington Post publicada na quinta-feira (25), o que chamou de “preconceito sexual ou de gênero” em relação a sua gestão na Presidência da República. Segundo ela, esse preconceito existe nas críticas que dizem que ela é uma gestora “controladora”.

Dilma Rousseff em entrevista coletiva dia 16 de março de 2015 - Agência Brasil

“Eu acredito que tem um pouco de preconceito sexual ou preconceito de gênero. Eu sou descrita como uma mulher dura e forte, que coloca seu nariz em tudo que ela não deveria, e dizem que eu sou cercada por homens “meigos”, disse a presidenta ao jornal norte-americano.

A entrevista de Dilma aconteceu por causa da visita da presidenta aos Estados Unidos. A presidenta embarcará para os EUA no sábado (27), onde se reunirá com o presidente Barack Obama.

“Você, alguma vez, já ouviu alguém dizer que um presidente homem coloca seu dedo em tudo? Eu nunca ouvi isso”, avaliou Dilma, ao responder sobre as críticas de que ela seria controladora.

Além disso, Dilma também voltou a defender o ajuste fiscal durante a entrevista e também falou sobre a relação bilateral entre Brasil e Estados Unidos.

Na entrevista, concedida na quarta-feira (24) no Palácio da Alvorada, Dilma defendeu o ajuste fiscal. “Estamos absolutamente certos de que é essencial colocar em prática todas as medidas necessárias, não importa quão duras elas sejam, para retomar as condições de crescimento no Brasil. Algumas medidas são fiscais, outras são estruturais”, disse.

Ela manifestou preocupação com o aumento do desemprego, mas que uma taxa de desocupação entre 6% e 7% não é alta. “É claro que eu me preocupo com isso, me preocupei desde o primeiro dia. Houve um aumento do desemprego nos últimos dois meses. Mas antes disso, já tínhamos criado 5,5 milhões de empregos. Queremos realizar um ajuste rápido porque queremos reduzir o efeito do desemprego”.

Sobre a queda na aprovação de seu governo, Dilma afirmou que o tema a preocupa, mas não a faz “perder os cabelos”.

“Você tem que conviver com as críticas e com o preconceito. Eu não tenho qualquer problema em assumir: quando se comete um erro, deve-se mudar. Em qualquer atividade, incluindo o governo, você deve incessantemente fazer ajustes e mudanças. Se você não fizer, a realidade não vai esperar por você. O que muda é a realidade”, frisou Dilma.

Dilma também falou sobre o esquema de corrupção na Petrobras. Reafirmou que não tinha conhecimento das denúncias quando era ministra de Minas e Energia e presidia o Conselho de Administração da estatal e salientou que a investigação só foi feita em seu governo. “Você não costuma ver a corrupção acontecendo. Isso é típico de corrupção, ela se esconde”.

Sobre a visita aos EUA, Dilma disse que espera estreitar relações com o país nas áreas de ciência, tecnologia e inovação, além de destacar que os Estados Unidos são os principais responsáveis pelo investimento privado no Brasil. “Esperamos também cooperação no campo da educação, principalmente no ensino primário”.

Dilma também defendeu a ampliação de cooperação com países emergentes, com o Mercosul como “uma grande conquista”, e disse que o Brasil tem uma “dívida social e cultural” com o continente africano.

“A África será sempre um continente onde teremos que desempenhar um papel ativo, porque temos uma dívida humana, social e cultural em relação a África. Cinquenta e dois por cento da população brasileira se declaram de origem negra. Somos o maior país negro fora da África. As nossas relações com a África são, em última instância, uma reabilitação da nossa história passada, considerando as práticas de escravidão que prevaleceu no nosso país desde o século 16. Este país viveu sob a escravidão até 1888, e deve superar a ferida histórica deixada pela escravidão”, avaliou.