José Augusto Valente: O Brasil não conhece o Brasil!

A imprensa, que deveria ser uma instituição que atende ao direito à informação dos cidadãos brasileiros, tem como foco as notícias e não as informações. Segundo uma das definições da imprensa tucana, em vigor, “notícia é tudo aquilo que alguém não quer ver publicado, o resto é propaganda”. Claro, essa máxima tem aplicação variada segundo quem é esse alguém.

Por José Augusto Valente*, na Carta Maior

Estão em andamento ou sendo projetadas para até 2016, no Brasil, 12.265 grandes obras.

Senão, vejamos. Na prática, ela significa omitir as realizações do governo federal, que mudam a vida do povo para melhor, “por se tratar de propaganda”. O mesmo não acontece com os governos tucanos, especialmente de São Paulo. É só conferir como foi tratado o colapso de abastecimento de água, fruto de gestão temerária da Sabesp, em que foi e continua sendo omitida a situação crítica por que passam os paulistas.

As concessões de TV, dadas à Globo e outras, teriam um papel fundamental para garantir o direito à informação da sociedade, dado o seu alcance e capilaridade, ainda mais quando associadas às emissoras de rádio. Um dos motivos é o tamanho continental do país e a enorme dificuldade que tem a população de conhecer os múltiplos aspectos das diferentes regiões.

Por exemplo, no caso dos investimentos em infraestrutura logística nas rodovias federais, a maioria dos moradores de um município somente consegue se informar sobre o que está sendo feito em todo o país com o seu dinheiro de contribuinte se a TV Globo ou outra emissora de TV ou rádio cumprir o serviço público de informar sobre as obras nas demais regiões distantes daquele município.

Quando a Globo divulga a pesquisa anual feita pela CNT sobre as condições das rodovias, apesar dos bons resultados relativos ao pavimento, as imagens que são mostradas, e as entrevistas com caminhoneiros, mostram apenas as exceções que apresentam problemas, em trechos de baixo volume de tráfego e, portanto, de menor relevância para a população como um todo. A ideia que a TV Globo pretende e consegue passar, no entanto, é de que a maior parte da malha está ruim. O que, diga-se de passagem, não corresponde à verdade desde 2006.

Desse modo, o contribuinte, corretamente, fica inconformado de pagar impostos e não ver as estradas melhoradas.

Alguém poderia dizer: mas se o que ele vê é diferente do que a TV apresenta, ele deve desacreditar da Globo, certo? Errado!

Já, de partida, há a credibilidade de uma “informação” supostamente isenta veiculada pela televisão. Mas não é só isso. As pessoas vivem nas cidades e, em geral, realizam deslocamentos por estradas – muitas vezes sem distinguir se é federal ou estadual – num raio de 100 a 150 quilômetros de onde moram. Se a pessoa mora no Rio, ela provavelmente conhece as rodovias que acessam as regiões dos Lagos, Serrana, Sul Fluminense, Litoral Sul Fluminense. Todas essas rodovias têm seus pavimentos em bom estado de conservação.

Quando essa pessoa vê na TV Globo a divulgação tendenciosa da pesquisa CNT, longe de questionar a parcialidade da emissora, ela pensa que “exceto essa área onde circulo, o restante da malha rodoviária está um lixo!”.

Ela está errada em pensar assim? Está certa, principalmente, porque a TV Globo mostra estradas de baixo volume de tráfego – portanto, com baixo impacto na logística de cargas e de passageiros – como se fosse um quadro de toda a malha rodoviária nacional.

É preciso ressalvar que a CNT não tem nada a ver com essa manipulação, na medida em que publica um relatório substancial com o verdadeiro quadro no que respeita às condições do pavimento e da sinalização.

Se a TV Globo divulgasse o que mostra a pesquisa, as pessoas teriam provavelmente uma outra avaliação sobre o estado geral das estradas e tenderiam a acreditar que está valendo a pena pagar o dinheiro dos seus impostos federais. Talvez isso até ajudasse a reduzir o volume gigantesco de sonegação de impostos, que ocorre anualmente.

Além disso, se as emissoras de rádio e TV quisessem realmente mostrar o que é relevante sobre as condições das estradas brasileiras, deveriam mostrar ao país que passou-se a garantir manutenção a mais de 50 mil quilômetros de rodovias a partir de 2007, aproximando-se da meta de 100% de cobertura da malha rodoviária federal.

Deveria mostrar que, nos últimos oito anos, mais de 50% dos contratos relativos a estradas feitos pelo governo federal corresponderam a Cremas (recuperação e conservação permanente) e restaurações. Em 2014, os contratos Crema e de restauração vigentes já representavam 75% dos serviços contratados pelo Dnit. Como Lula gosta de afirmar (com razão), “nunca dantes” foram garantidos contratos permanentes de manutenção da malha rodoviária federal!

Mas como a imprensa “entende” que isso seria propaganda, não divulga. Essa omissão, além de escandalosa, é inaceitável, pelo fato de que, apesar de ser uma concessão de serviço público, não cumpre sua finalidade informativa prevista na Constituição.

A esse exemplo das rodovias, poderiam ser agregados os quase dois mil quilômetros de ferrovias construídas ou em construção em apenas doze anos de governo, dos quais 1.160 quilômetros concluídos nos últimos quatro anos. Deu no Jornal Nacional ou no Globo Repórter?

Poderiam ser incluídos os investimentos em modernização dos portos, especialmente dos terminais de contêineres, cuja alta produtividade de Santos – superior a Roterdã e Hamburgo – somente ganhou espaço no jornal Valor, numa declaração do CEO da Hamburg Sud, no meio de matéria sobre portos.

As emissoras de rádio e TV mostram as elevadas performances de regularidade e pontualidade da aviação comercial brasileira, inclusive em relação aos países desenvolvidos? Mostram a modernização de aeroportos como os de Brasília, Guarulhos, Campinas, Santos Dumont, uns sob concessão outros sob gestão da Infraero?

E assim, cada vez mais, “O Brasil não conhece o Brasil!”

O governo federal tem alguma responsabilidade nisso, por não criar, salvo raras exceções, fatos políticos e jornalísticos que furem esse bloqueio e mostrem a realidade construída e em construção.

Mesmo a EBC – Empresa Brasileira de Comunicação não faz matérias mostrando essa realidade. Se as produzisse, em vídeos curtos, as pessoas nas redes sociais fariam o trabalho de amplificação gratuitamente e começaríamos a mudar esse quadro.