Alemanha novamente é antagonista, agravando a crise na Europa

Aqueles que lutam por outro mundo possível, baseado na justiça e na igualdade de soberania dos povos, devem se unir em solidariedade a Grécia, que se vê acuada entre as potências mais ricas da União Europeia, entre as quais a mais poderosa economicamente é a Alemanha.

Por Lucivânia Nascimento dos Santos

Angela Merkel

A Alemanha só se tornou tão poderosa porque além de ter em seu território importantes reservas de minérios necessárias para a indústria – reservas que disputou com a França desde o século 19 e que de fato motivaram a rivalidade entre as vizinhas França e Alemanha que foram as principais antagonistas no processo que levou às duas grandes Guerras – a Alemanha contou com o perdão de suas dívidas de guerra, as duas grandes guerras mundiais das quais a Alemanha saiu derrotada (felizmente) e com dívidas a pagar pelos transtornos e perdas de guerras que ela causou. Os EUA injetaram dólares na Alemanha Ocidental, muito dinheiro mesmo, para forjar uma reação econômica a profunda crise em que ela se viu no pós-guerra, para evitar o avanço do socialismo no contexto da Guerra Fria, pois naquele contexto de crise e miséria seria mais fácil um trabalhador ter consciência de classe ao perceber o sistema econômico, político e social em que ele estava inserido: o sistema capitalista, que é cruel e genocida e ocasionou as duas Guerras Mundiais.

O fato é que a França não ficou triste ao ver, no fim da Segunda Guerra Mundial, a Alemanha dilacerada e ocupada por ela, por outra potência europeia (Reino Unido) e por duas superpotências: URSS e EUA. A França não queria que a Alemanha se reerguesse pois ela não queria uma concorrente. A potência em ascensão constante na Europa era a França, mas os EUA como aliados da Inglaterra interferiam na Europa tendo a Inglaterra como aliada incondicional e isso desagradava o Estado francês que via os EUA como um forasteiro se intrometendo nos assuntos europeus. O país europeu que demonstrava potencial para fazer maior concorrência à produção industrial da França seria a Alemanha, sua vizinha ao Leste, com jazidas de ferro e carvão, necessários para a produção industrial. Isso preocupava os chefes de Estado franceses entre o século 190 e a década de 50 do século 20.

Diante de muitos conflitos e de rivalidades que impulsionaram duas grandes guerras, onde a Alemanha ameaçou o sistema de equilíbrio europeu invadindo territórios de outros países da Europa, sendo que, no período que antecedeu a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha cometeu o genocídio de judeus, testemunhas de Jeová e homossexuais, presos em campos de concentração nazista por ordem do então chefe de Estado alemão Adolf Hitler. Estes prisioneiros foram utilizados como mão de obra escrava nos campos de concentração nazista para a indústria alemã, para fábricas de automóveis alemãs, inclusive a Mercedes-Benz.

O Parlamento Europeu é ocupado por representantes dos países da União Europeia de modo proporcional ao número de habitantes de cada país. Portanto, tem maior número de parlamentares, maior número de votos, maior poder de decisão, o país da União Europeia que tiver maior população. A Alemanha, junto com a França, domina o Parlamento Europeu. Somando-se a isto, a maior potência econômica da UE é a Alemanha. Quem diria? Agora ela sacode as estruturas políticas e econômicas da Europa novamente. Antes a questão era território por recursos naturais e mão-de-obra, agora é capital pelo Sistema Financeiro.

O que se faz necessário, neste momento, é a solidariedade econômica e política a Grécia, que é um país entre os mais fracos da União Europeia, por isso está sendo o bode expiatório da crise do capitalismo que é cíclica e também constante e se manifesta sempre cobrando a conta dos mais fracos. Por que os EUA não injetam dólares na Grécia para salvá-la da crise e da chantagem da Alemanha e do Banco Central Europeu que ameaçam a Grécia de expulsá-la do bloco? E por que a UE e o FMI não demonstram flexibilidade com a Grécia nas negociações? A resposta é simples: o atual governo da Grécia é de esquerda, os partidos de esquerda venceram as eleições de 2015 na Grécia. Portanto, o objetivo da Alemanha e do Banco Central Europeu não é só acuar e humilhar um país e um povo: querem com isto, derrubar a esquerda e minar qualquer possibilidade progressista na Europa. Além de tudo isso, solidariedade não é uma palavra muito estimada pelo capitalismo, que é concorrencial e genocida.