Promessa tucana, maior parque linear do mundo continua no papel

Apresentado em julho de 2010 pelo então governador José Serra (PSDB) como o maior parque linear do mundo, o Várzeas do Tietê ainda não saiu do papel. Pelo projeto, que aparece com destaque no site do Departamento de Águas e Energia Elétrica (Daee), vinculado à Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos do estado de São Paulo, terá 75 quilômetros de extensão ao longo do rio Tietê e área total de 107 quilômetros.

Promeça eleitoral tucana, maior parque linear do mundo continua no papel

Vai unir o Parque Ecológico do Tietê, no bairro da Penha, na zona leste da capital, e o Parque Nascentes do Tietê, no município de Salesópolis, onde nasce o rio.

Com a promessa de recuperar e proteger as margens, com diques para contenção das cheias e ao mesmo tempo constituir área de lazer, pretende beneficiar diretamente 3 milhões de moradores da zona leste da capital e toda a população da região metropolitana de São Paulo, especialmente de São Paulo, Guarulhos, Itaquaquecetuba, Poá, Suzano, Mogi das Cruzes, Biritiba Mirim e Salesópolis.

O investimento previsto é de R$ 1,7 bilhão até 2022. Na primeira fase, entre 2011 e 2016, o parque deveria ter sido implementado ao longo dos 25 quilômetros entre o Parque Ecológico do tietê e a divisa de Itaquaquecetuba. A segunda fase tem 11,3 quilômetros e inclui a várzea do rio em Itaquaquecetuba, Poá e Suzano. Seu término estava previsto para 2018. E a última, de 38,7 quilômetros, vai de Suzano à nascente do rio Tietê. Tudo já deveria estar pronto em 2022.

De acordo com informações sobre os resultados da execução dos programas aprovados no Plano Plurianual 2012-2015, publicados no Diário Oficial em 29 de abril, das quatro metas, apenas uma foi realizada até 2014: a análise crítica do projeto básico, elaboração do programa executivo e assistência técnica à obra de três núcleos do Várzea do Tietê, que deve ocorrer em 2015.

Procurado, o Daee não atendeu a reportagem. Mas em ofício encaminhado à promotoria de Justiça do Meio Ambiente do Ministério Público estadual em março passado, que investiga os impactos ambientais na região pela extração de areia nos 1970 e 1980, informou que o projeto está em sua primeira fase, o que inclui ações de limpeza e desassoreamento em pontos críticos ao longo do canal do rio Tietê entre a barragem da Penha e a foz do córrego 3 Pontes, já na divisa com Itaquaquecetuba, desde outubro de 2010.

Informou ainda que os trabalhos de campo na Vila Itaim foram iniciados em junho de 2014; que o cadastramento imobiliário e laudos avaliativos da área para o processo de desapropriação estão sendo analisados pelo seu departamento jurídico; e o que o processo de decretação da utilidade pública foi interrompido por falta de recursos; e que as intervenções para desassoreamento numa lagoa formada pela extração de areia trarão poucos benefícios na capacidade de escoamento.

Com as enchentes do verão de 2009 para 2010, o então prefeito Gilberto Kassab decretou situação de calamidade pública no distrito de Jardim Helena, pertencente à Subprefeitura de São Miguel. A região engloba, dentre outros, os bairros de Jardim Romano, Chácara Três Meninas, Vila das Flores, Jardim São Martino, Jardim Novo Horizonte, Vila da Paz, Jardim Santa Margarida, Vila Seabra, Jardim Noêmia, Vila Aimoré, Vila Itaim e Jardim Pantanal.

O líder comunitário Euclides Mendes, morador da Vila Itaim, reclama que as enchentes do Tietê, comuns no verão, alagam diversos bairros. Porém, apenas aqueles que chamam mais a atenção da imprensa, como o Jardim Romano e Pantanal, receberam obras.

"A Vila Itaim já ficou sob as águas por mais de 84 dias. Baixava numa rua, mas não baixava na outra. Os moradores fizeram manifestações. Quando a água baixou, ficaram o lixo e os focos de insetos e ratos. Levou quase três meses para ser limpo", conta Euclides.

Com as enchentes do verão de 2009 para 2010, a região foi declarada em situação de calamidade pública pelo então prefeito Gilberto Kassab. No ano seguinte, novamente as enchentes.

Não é de hoje que os moradores dali sofrem. Nos anos 1960 e 1970, foram retirados 33 hectares de areia de uma lagoa na região. "Com o fim da exploração, veio a instalação de um lixão ali, que foi fechado a partir dos protestos dos moradores. Até hoje não houve compensação ambiental pela exploração da mineradora, que poderia ser convertido em obras contra as enchentes."

De acordo com o líder comunitário, em 2014 o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e o prefeito Fernando Haddad (PT) estiveram no local e prometeram construir ali os chamados pôlderes, obras que incluem diques, redes de drenagem e sistemas de bombeamento para proteção das áreas em períodos de cheias.

De acordo com a prefeitura, essas obras são de responsabilidade do governo estadual. E que, sem esse projeto, não tem como remover as famílias. É preciso conhecer a extensão da obra para determinar quantas famílias devem ser removidas. Isso porque, se fizer a remoção antes, muitas outras famílias poderão vir a ocupar o local.