Por que José Dirceu foi preso novamente?
Alguns vão dizer que o texto a seguir é fruto de puro maniqueísmo. E vai parecer mesmo, pois em tempos de golpe político, em tempos como o atual em que há um claro e aberto confronto entre forças progressistas de um lado e o consorcio oposicionista de direita do outro, é natural que cada campo tenha definido suas estratégias e suas táticas.
Por Claudio Machado*
Publicado 03/08/2015 12:05 | Editado 04/03/2020 16:42
A estratégia da oposição objetiva derrotar até 2018, impreterivelmente, o projeto iniciado com a primeira vitória de Lula em 2003 e vitorioso eleitoralmente pela quarta vez em 2014, mesmo que haja divergências quanto ás táticas dessa estratégia.
Há setores mais à direita do consórcio oposicionista que pregam abertamente o golpe, o impeachment a qualquer custo, a volta dos militares e coisas do tipo. Outros preferem a tática do sangramento, do desgaste permanente do governo, do PT e de seus aliados mais à esquerda, para tê-los moribundos em 2018 e poder derrotá-los no voto.
Mas estas táticas não são excludentes. Se o golpe vingar, o setor "democrático" do consórcio oposicionista irá apoiá-lo e buscará se legitimar para conduzir o novo governo resultante do golpe.
A prisão de José Dirceu é um dos ingredientes táticos da estratégia oposicionista, entretanto, estou convicto, não era para acontecer nessa segunda feira e sim na próxima.
A prisão daquele que representa para a direita o "maior símbolo petista do mal" deveria ocorrer na próxima segunda feira (10), com o objetivo de insuflar a manifestação marcada para o dia 16 de agosto.
Os fatos – sempre os fatos – precipitaram a operação. Era preciso tirar da pauta jornalística o ataque terrorista ao Instituto Lula o mais rápido possível, pois este ato hediondo da direita fascista iria comprometer de imediato a mobilização para as manifestações do dia 16/8, ao mesmo tempo em que poderia contaminar e deslegitimar o consórcio oposicionista e causar estrago irreparável em sua estratégia para voltar a governar o Brasil a partir de 2019.
A mídia hegemônica já havia tratado de dar o menor destaque possível ao atentado contra o Instituto Lula, mas precisava de algo que justificasse essa esdrúxula inversão de pauta.
Estava ficando difícil explicar o inexplicável, o porquê de tão pouco destaque dado a fato tão relevante e tão agressivo ao estado de direito e à democracia, mas que foi merecedor de manchetes tímidas e logo relegado à notinhas de rodapé ou de cantos de páginas menos nobres.
A prisão de José Dirceu cumpriu esse papel, não tenho dúvidas. Os desdobramentos políticos e as manchetes dos próximos dias me darão razão.
Resta a manifestação do STF, pois é algo muito estranho um Juiz de primeira instância decretar a prisão de alguém que já está preso por decisão da suprema corte, ainda que em regime domiciliar. Com a palavra, o Ministro Barroso.