Está na moda ser preto, desde que você não seja preto
É bem comum encontrar nas redes sociais algumas pessoas defendendo a ideia de que o racismo não existe (em geral pessoas brancas, mas ainda é possível encontrar algumas pessoas pretas com a síndrome de Holiday) usando argumentos batidos como o da “democracia racial” e de que no Brasil o problema é social e não racial.
Por Rodrigo Teles Medrado, do Dente di Leão
Publicado 13/08/2015 11:39
Vejo também um esforço muito grande em disfarçar todos esses problemas com uma atitude que não consigo deixar passar batida, algo que faz parte do movimento “ser negro tá na moda”. Neste movimento vemos pessoas brancas se vestido com temas africanos, usando turbante, fazendo parte de diversos movimentos negros e até renegando a cor da sua pele (é, sei que não faz sentido, mas vamos lá).
Quem me conhece sabe que sou totalmente a favor da integração entre povos e culturas. Sabe que vejo com bons olhos jovens pretos e brancos juntos, discutindo o destino do nosso país. O que me incomoda é ser preto apenas quando lhe convém.
Ser preto no samba, no hip hop, no candomblé, ser preto assim é fácil. Gostaria que essas mesmas pessoas fossem “pretas” quando a polícia abordou com violência meu irmão na rua, quando uma pessoa perde uma vaga de emprego por ser preta. Quando um canal de TV exibe um programa com teor racista.
Gostaria que fossem pretos na riqueza e na pobreza, na alegria e na tristeza.
Na verdade o que vejo são pessoas se apropriando da nossa cultura, esvaziando seu significado, usufruindo apenas dos benefícios e ignorando as desvantagens.
Por que, quando seu amigo foi humilhado na escola você não disse nada? Por que você não se mostrou indignado quando fizeram aquele comentário racista sobre os haitianos no trabalho? Por que você não rebateu seu familiar quando, num almoço de família, disse que “agora tudo é racismo” e que não podemos dar ouvidos a esse mi mi mi?
Não fez nada porque ser preto está na moda, desde que você não seja preto.
Estudei em uma escola pública, mas que por muitos motivos era composta por muitos alunos brancos, e sei que o silêncio do “amigo” dói tanto quanto a piada racista.
O Brasil precisa de pretos fortes e de brancos desconstruídos e conscientes dos seus privilégios, pois só assim vamos avançar para uma cultura integrada.
Quer desconstruir? Acha o sistema racista odioso? Venha para o nosso lado, mas venha inteiro, não pela metade.