Terceiro nanossatélite brasileiro será enviado ao espaço

O satélite de pequeno porte Serpens, desenvolvido por estudantes de universidades federais, será enviado, na segunda-feira (17), à Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês) pelo veículo lançador japonês H-IIB. Ele é o primeiro nanossatélite do projeto Sistema Espacial para a Realização de Pesquisa e Experimentos com Nanossatélites (Serpens), criado pela Agência Espacial Brasileira (AEB/MCTI).

nanosatelite brasileiro - Reprodução

A missão do equipamento é inspirada no Sistema Brasileiro de Coleta de Dados, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe/MCTI), responsável por colher informações ambientais do país. Em órbita, ele receberá informações enviadas via rádio, acumular esses dados no computador de bordo e depois enviá-las para as estações de solo das universidades que integram o consórcio acadêmico que desenvolveu o cubesat.

Pesando 2,6 quilos e com dimensões de 10 centímetros x 10 centímetros x 30 centímetros, o Serpens foi desenvolvido por alunos dos cursos de engenharia aeroespacial das universidades de Brasília (UnB), Federal de Minas Gerais (UFMG), Federal do ABC (UFABC) e Federal de Santa Catarina (UFSC). O Instituto Federal Fluminense (IFF) foi parceiro no processo de instalações das estações de solo. A AEB investiu cerca de R$ 800 mil no nanossatélite.

"Essa primeira missão do projeto Serpens está sendo coordenada pela UnB. A ideia é que cada instituição coordene pelo menos uma missão", explica o diretor de Satélites da AEB, Carlos Gurgel. Os projetos de nanossatélites como este, diferentemente das ações de desenvolvimento de satélites, têm foco na questão educacional. O principal objetivo do projeto Serpens é a capacitação de engenheiros e técnicos, além de consolidar os cursos brasileiros de engenharia espacial.

"O fato de estudantes estarem envolvidos com uma engenharia de sistemas aeroespacial complexa é fundamental para que eles identifiquem e antecipem problemas que não são discutidos em sala de aula", explica o bolsista da AEB, Gabriel Figueiró. "Isso faz parte das atividades práticas da engenharia aeroespacial."

O Serpens foi desenvolvido em um ano e meio. Parte da tecnologia dele é brasileira e alguns equipamentos foram adquiridos de diferentes empresas do exterior. "Fizemos essa opção para que os estudantes pudessem exercitar a engenharia de sistemas, que é a integração de partes diferentes", explica Figueiró.

Segundo Pedro Nehme, bolsista da AEB, mesmo que algum problema no lançamento do veículo H-IIB impeça o Serpens de chegar à ISS, a missão pode ser considerada bem sucedida. "Os nanossatélites tem uma abordagem na construção. Quando chegamos ao estágio em que o cubesat está pronto para ser lançado, estamos com 90% dela concluída", detalha Nehme, que será o primeiro brasileiro civil a ir ao espaço. "Colocar os nanossatélites educacionais em órbita e operá-los é considerado, internacionalmente, como um bônus. O sucesso é por conta da contrapartida profissional e educacional."

Custos, riscos e missões

Além das dimensões, o que difere um nanossatélite de um satélite convencional é o tripé custos,
riscos e quantidade de missões. Um satélite grande tem riscos mínimos, custos altos e as missões reduzidas, enquanto os nanossatélites têm riscos elevados, custos baixos e o número de missões é alta. "Esse será o terceiro cubesat brasileiro lançado em um ano", destaca Gabriel Figueiró.

Os riscos assumidos pelo Brasil, neste momento de formação e qualificação dos cursos de graduação em engenharia aeroespacial e outros correlatos, é o envolvimento de pessoal com pouca ou nenhuma experiência no processo de desenvolvimento de nanossatélites. "O principal objetivo da primeira missão do Serpens é a formação de recursos humanos", reforça Figueiró.

Após chegar à ISS, o nanossatélite entrará numa lista de espera para ser posto em órbita. O cronograma ainda não foi definido, a previsão é de que o lançamento ocorra até a primeira semana de outubro. O Serpens ficará em órbita a 400 quilômetros de altura. Essa distância permite que o satélite fique no espaço por até seis meses, antes de retornar à Terra.

O primeiro satélite científico nacional foi lançado em 19 de junho 2014 com a missão tecnológica de testar no espaço o circuito integrado projetado totalmente no Brasil. O NanosatC-BR1 também cumpre a missão científica de coletar dados para estudo de distúrbios na magnetosfera, principalmente na região da Anomalia Magnética do Atlântico Sul e do setor brasileiro do Eletrojato Equatorial Ionosférico. O nanossatélite, que ainda está em órbita, pode ser acompanhado em tempo real.

O Aesp-14, o primeiro a ser desenvolvido integralmente no Brasil, foi lançado da Estação Espacial Internacional em 5 de fevereiro deste ano. No entanto, uma falha na abertura da antena de transmissão de telemetria tornou o equipamento, que foi desenvolvido pelo Instituto de Tecnologia da Aeronáutica (ITA), inoperante. Com as dimensões de 10 centímetros nas laterais, ele pesava cerca de 700 gramas.