Entrevista com líder do PC mostra a dificuldade dos comunistas nos EUA

Em entrevista dada ao Gawker, um jornal online estadunidense, o atual líder do Partido Comunista dos Estados Unidos, John Bachtell, discorre sobre temas como sindicalismo, racismo, luta de classes e a luta política dos comunistas em uma sociedade tão refratária ao tema quanto a americana.

John Bachtell, em uma manifestação em Chicago

O atual presidente do PCEUA cresceu em Ohio, com os pais militando no movimento de direitos civis e contra a guerra. Começou a ter interesse no comunismo quando entrou na universidade e passou a militar no partido em 1977. Na entrevista, ele abordou a participação dos comunistas no apoio de candidatos que denominou de "democratas progressistas", visto que o sistema eleitoral nos Estados Unidos é demasiado restritivo – toda e qualquer propaganda política é paga. Como custa caro, apenas os candidatos mais ricos conseguem ser vistos pela população.

Sobre as mudanças no partido durante os últimos 30 anos, ele afirma que atualmente a organização é menor e menos influente que nos anos 1980. "Tivemos enormes perdas a partir da derrocada de 1991, em consequência do fim do campo socialista, que também teve enorme impacto não só nos partidos comunistas ao redor do planeta como também em toda a esquerda, de modo geral".

Bachtell diz que ainda há a incerteza de se o partido conseguiu se recuperar do impacto. Ele também acredita que muita gente que milita nos movimentos sociais americanos ainda não se deu conta do que significou o fim do socialismo na Europa Oriental. "Ao mesmo tempo, a história nos mostrou que precisávamos realizar uma série de mudanças. Nós podemos dizer que foram mudanças que modernizaram o partido, que fizeram com que construíssemos um partido do socialismo do século 21, o que pode nos trazer das margens para o centro da política".

Bachtell, sobre a administração Obama, pensa que poderia ter sido um momento de transformação para o país. Mas a esquerda subestimou a força da oposição, tanto do Partido Republicano como de parcelas da burguesia. Para ele, essa oposição forçou Obama a permanecer mais à direita, inclusive com oposição dentro do próprio Partido Democrata. "A sensação é de que Obama poderia ter ido mais longe do que foi, mas, em parte, isso também é responsabilidade do Partido Republicano, que colocou em suas proposições um forte freio", pensa o dirigente comunista.

Sobre a luta política travada pelo partido, Bachtell diz que o conceito estratégico com que o partido trabalha vem desde 1980 e é relativo a ascensão da direita, da extrema direita, na política americana. "Tudo que passou a vigorar a partir da era Ronald Reagan, inclusive a tomada pela extrema-direita da direção do Partido Republicano é nosso alvo. Coisas que alteraram profundamente os direitos dos trabalhadores, das mulheres, a desvalorização e supressão dos eleitores e uma série de leis que prejudicaram os sindicatos, passaram a vigorar".

Para Bachtell, a direita só será derrotada dentro de um movimento que envolva também os ricos, aqueles que não estão alinhados com os trilionários irmãos Koch. Isso engloba além de parcelas da burguesia os sindicatos, os movimentos civis ligados às mulheres e aos negros, os movimentos a favor dos direitos dos homossexuais, dos imigrantes, em suma, todos os movimentos democráticos. "De outra forma, não seremos bem sucedidos na luta contra esta extrema-direita", finaliza.