PHA: “Governo precisa pautar democratização dos meios de comunicação”

Em um auditório lotado por cerca de 500 pessoas na Assembleia Legislativa do Ceará, o jornalista e blogueiro Paulo Henrique Amorim lançou, na noite da última sexta-feira (18/09), seu novo livro “O quarto poder – uma outra história” (Editora Hedra), que reúne uma série de entrevistas realizadas ao longo de sua carreira que comprovam a força da Rede Globo no sistema político brasileiro.

Para ele, o poder da empresa, um dos maiores conglomerados midiáticos do mundo, é tão grande que nem seria mais o “quarto poder”: “Esse é o primeiro poder! Que interdita e censura o debate público! Que provoca a censura política, ideológica e cultural”, denunciou, ao lado do jornalista Alberto Perdigão; dos representantes da Fundação Maurício Grabois no Ceará, Benedito Bizerril; e do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, Inácio Carvalho, além do secretário estadual de Ciência e Tecnologia e Educação Superior, Inácio Arruda.

E o Jornal Nacional é sua maior expressão: “Lá não tem lugar para pobre, negro ou trabalhador. A maior vítima dessa hegemonia é o trabalhador brasileiro”, disse.

PIG

Editor do blog “Conversa Afiada” e membro do conselho consultivo do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, PHA analisou a histórica falta de espaço para debate nos meios comerciais. “Vargas foi a primeira vítima do PIG [Partido da Imprensa Golpista]”, lembrou.

“Aonde que o Lula fala hoje? Na TVT [TV dos Trabalhadores], que só pega em São Paulo? Na Telesul?”, reclamou. “O Brasil não criou canais de comunicação que permitissem uma via de mão dupla. O PT tinha que ter feito isso”, ponderou.

PHA criticou a falta de legislação para o setor comunicacional no país e a fraca atuação do Conselho de Comunicação Social (CCS), que esvaziam o debate e impedem a participação cidadã. “A Globo não deixa ter outra lei. Não está interessada se tem gente querendo se comunicar. Ela transforma o país em uma minoridade que beneficia a sua própria hegemonia”.

Como exemplo, o jornalista citou sua visita ao Porto de Pecém, localizado na região metropolitana de Fortaleza, ocorrida no mesmo dia. “Todo brasileiro deveria experimentar visitar o Porto de Pecém. É uma obra fantástica do Estado do Ceará. Um projeto offshore que dá orgulho, que melhora a autoestima do brasileiro. Mas quem fala dele?”, provocou.

Crise dos impressos

No evento, o jornalista analisou ainda a atual crise mundial do jornalismo, impactada pelas mudanças advindas com a era digital e a formação dos grandes conglomerados infocomunicacionais, e que começa a ter reflexos no mercado brasileiro. “Há uma queda de audiência histórica no Jornal Nacional. A Rede Globo atravessa uma crise irreversível. A publicidade migra em direção ao aparelho móvel e jornais e revistas estão em estado terminal”, afirmou.

“A TV por assinatura está em decadência. A TV aberta é menos vista no mundo todo. As agências agora têm em primeiro lugar a publicidade para internet”, verificou. “A Globo não sustenta seu próprio custo. São 15 milhões de reais só pra pagar os salários dos atores que não estão no ar. Cada capítulo de novela custa mais do que um programa. Hoje o Jornal Nacional tem 22% de audiência. No Plano Cruzado era 92%. Nos anos 80, o Fantástico tinha 45% de audiência, hoje são 18%”, exemplificou.

Livro

Na publicação, o jornalista que responde a 40 processos judiciais narra uma série de episódios, muitos deles históricos, por meio de entrevistas e informações que coletou ao longo de sua carreira. Um dos militantes mais corajosos da luta pela democratização dos meios de comunicação, PHA aponta as lacunas e ilumina os enormes desafios que o país ainda precisa enfrentar. A batalha pela ampliação dos direitos dos trabalhadores e por mais justiça social passa também pela comunicação.

De Fortaleza,
Monica Simioni (especial para o vermelho-CE)