Evaldo Lima entrega título de cidadão de Fortaleza ao ex-jogador Nando

Fernando Antunes Coimbra tem inegáveis raízes em solo fortalezense. Seja pela militância política nos anos de ditadura militar ou pelo talento desempenhado em campo vestindo o preto e branco do Ceará Sporting Club no emblemático 1968. É por direito um cidadão abençoado por Iracema.

Com o objetivo de formalizar o justo reconhecimento desta história, o vereador Evaldo Lima (PCdoB) entregou, na noite da última segunda-feira (28/09), o título de cidadão de Fortaleza a Nando, em sessão solene realizada no Plenário da Câmara Municipal. Autor do projeto que possibilitou a entrega do título, Evaldo também presidiu a sessão solene, representando o presidente da Casa do Povo, vereador Salmito Filho.

Estiveram presentes na mesa Carlos Campelo Costa Júnior, secretário-executivo da Secretaria de Esporte de Fortaleza; Marcos Gaúcho, presidente do Sindicato dos Atletas de Futebol do Estado Ceará (Safece); Mário Albuquerque, conselheiro da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça; Vera Felício, presidente do Centro Cultural do Ceará Sporting Club; Inês Cabral, coordenadora da ala feminina do Ceará Sporting Clube e Francisco Ernande da Silva, o Mirandinha, ex-jogador e ex-embaixador da Copa no Ceará de 2014.

Durante o evento, Nando recebeu palavras de admiração pelo seu histórico de luta a favor da democracia, que acabaram custando sua carreira de atleta profissional na ditadura militar. O ex-jogador foi o primeiro esportista a receber anistia no Brasil por promover "ideias subersivas", segundo os militares, como professor do Plano Nacional de Alfabetização (PNA).

“Nem todos que amam o futebol serão grandes atletas, mas todos aprendem a lição de que jogar bola também é opção de educação para a vida e seus irmãos simbolizam um pouco do sonho brasileiro de talento e superação, euforias e tristezas de um país que ainda luta para construir a cidadania extensiva a todos e que precisa resgatar páginas arrancadas da nossa memória. Hoje Nando é sinônimo de heroísmo e digno de infinitas homenagens. A partir dessa solenidade, ele é cidadão de Fortaleza por sua luta política e por seu belo Futebol. Os que apoiaram o golpe militar se envergonham daquela fase negra da história do Brasil. Já nós nos orgulhamos de sua trajetória, Nando, cidadão de Fortaleza”, discursou Evaldo Lima.

Histórico de Nando

Fernando Antunes Coimbra nasceu no bairro do Quintino Bocaiúva, na cidade Rio de Janeiro, em 12 de outubro de 1945. Carioca apaixonado, ele seguiu desde cedo dois caminhos com dedicação: o dos gramados e o da política progressista. De família boleira, detentor de sobrenome que dispensa apresentações, atuou como atleta profissional de futebol, marcando história ao vestir a camisa do Ceará na década de 1960. No campo acadêmico, estudou na Universidade de Filosofia do Rio de Janeiro, chegando a ser professor do Plano Nacional de Alfabetização (PNA), projeto baseado nas propostas do pedagogo Paulo Freire para combater o analfabetismo entre jovens e adultos e que foi encerrado após o Golpe Militar de 1964.

Nos anos de chumbo, o membro da família Coimbra sofreu perseguição e foi preso pelo DOI-CODI enquanto ainda exercia atividade nas quatro linhas. Episódio este que é uma mancha vergonhosa na história do futebol brasileiro. Sofreu pelas mãos da intolerância de um governo antidemocrático, que interrompeu a sua carreira, e nos privou de desfrutar por mais tempo da sua admirável aptidão e sensibilidade para o futebol-arte.

Fora da prisão, Nando foi forçado ao exílio. Antunes foi o único esportista anistiado no Brasil. Tentou jogar futebol fora do Brasil, migrando para Portugal, nação de origem dos seus pais. Por lá, sofreu ameaças da polícia do ditador Salazar, a mando dos ditadores brasileiros. Diante disso tudo, o professor não desistiu tendo em vista o desejo por um futuro democrático. Nem que para isso fosse colocada em xeque sua promissora carreira de atleta profissional.

Antes de ter sua trajetória no esporte barrada pelo “cale-se” ditatorial, o jogador talentoso encantou os torcedores do Alvinegro de Porangabuçu em 1968. Honrou o manto preto e branco. A breve passagem pelo Vovô foi o bastante para ele se tornar eterno na memória do tradicional clube, tanto devido à sua elegância com a bola nos pés quanto por suas diversas qualidades como humanista.

Em 2011, Nando lançou o livro “Futebol e Ditadura: as várias faces do futebol no Brasil”, uma coletânea de artigos sobre futebol, política e sua história de vida. Hoje, caminha pelos campos da poesia, escrevendo as belezas que o motivam a seguir acreditando numa nação democrática e pelos direitos dos cidadãos. Em muitos de seus versos, inclusive, fala do encanto nutrido pelo Ceará – terra e agremiação. Onde até hoje é sinônimo de heroísmo e digno de infinitas homenagens. Nando é fortalezense pela raiz de luta e pelo seu futebol, dois dos bens maiores do povo brasileiro.

Fonte: Assessoria do vereador Evaldo Lima (PCdoB)