Guálter George: O perturbador silêncio da política

Aécio Neves, derrotado ano passado e ainda a voz política mais proeminente dos que são contra o governo e o PT, poderia buscar aconselhamento espiritual com o saudoso avô Tancredo Neves, que lhe saberia orientar sobre como se portar em tais momentos.

É muito triste o espetáculo que o momento brasileiro oferece à sua história. A disputa política insana ou, mais ainda, o interesse de ver fora do poder a qualquer custo o partido que atualmente o detém no plano federal, tem feito desaparecer o respeito que já foi sagrado em situações que envolviam, por exemplo, a dor de uma perda. O que se assistiu acontecer nos últimos dois dias em Belo Horizonte foi repugnante, deveria merecer de todos, incluindo quem faz oposição ao PT, uma atitude de reprovação que não veio. E, a depender dos que dão cara e voz a uma oposição movida pelo ódio, certamente não virá.

Os populares que se prestaram a perturbar o velório do ex-presidente do PT, José Eduardo Dutra, segurando faixas e distribuindo panfletos com mensagens ofensivas ao partido, aos seus integrantes e ao ex-presidente Lula, são o resultado de um ambiente político onde o desrespeito aos adversários resiste como a marca principal da estratégia agressiva, no sentido literal do termo, que se decidiu adotar.

É vergonhosa a prática política de hoje no Brasil. Nela está a origem de manifestações como a observada nas portas de um endereço no qual entes queridos e correligionários de um dirigente partidário tentavam lhe oferecer uma última despedida digna.

O episódio reforça a convicção de que as lideranças que atualmente fazem mover as peças da disputa política não se mostram à altura do que a fase contemporânea exige delas. Aécio Neves, derrotado ano passado e ainda a voz política mais proeminente dos que são contra o governo e o PT, poderia buscar aconselhamento espiritual com o saudoso avô Tancredo Neves, que lhe saberia orientar sobre como se portar em tais momentos. Ou, quem sabe, lhe daria os puxões de orelhas que está fazendo por merecer como líder de um processo que enche de vergonha os que tem dimensão do que seja civilidade, independente de ser governo ou oposição, petista ou tucano.

Gualter George é editor de conjuntura do jornal O POVO

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