Cordel Umbilical (Outros Poemas): Recordando o Cedro

Leitores vocês recordam
Que Cedro já foi pra frente
Berço de filhos ilustres
Jovens fortes e inteligentes
Mas hoje tudo mudou
Cedro não se acabou
Porém está diferente

Tenho visto muita gente
Falando do seu regresso
Botando culpa no povo
Pela falta de progresso
Mas digo a realidade
O que falta na cidade
Eu narrarei neste verso

Pela falta de comércio
Vimos então a derrota
Aqui tudo foi abaixo
A cidade ficou morta
Ainda nesta semana
Vimos a Pernambucanas
Encerrar as suas portas

Produto não se exporta
Devido às dificuldades
Até as próprias indústrias
Foram pra outras cidades
Está tudo se acabando
Por hora só está ficando
A cicatriz das saudades

Vejo na realidade
O que primeiro se desfez
Foi se acabar o movimento
De nossa Indústria Cortez
Que tão rápido aumentou
Porém depressa acabou
Com tudo de uma vez

Ainda me recordo o mês
Quando esta fábrica fechou
O silêncio em nossa rua
Muito nos acabrunhou
Tudo ficou solitário
Não ficou um operário
Com tristeza se mudou

Muito tempo se passou
De tanta preocupação
Pois a Cortez atingia
Muito mais de um quarteirão
Exportava lã todo dia
E ainda se extraía
O óleo de algodão

Tinha fábrica de sabão
Constantemente exportado
Pois tudo naquele tempo
Dava melhor resultado
Mas tudo se acabou
Unicamente ficou
Só prédio velho fechado

Está tudo liquidado
Pois já dei a explicação
Vamos falar no SENAI
Amigo do coração
Que tanto bem fez à gente
Levou crianças pra frente
Com saber e profissão

É triste a narração
Daquele prédio fechado
Pois a escola de artes
Já deixava preparado
Todo jovem inteligente
Já conduzia em frente
O meio de ser empregado

Graças a Dr. Geraldo
Que foi muito interesseiro
Ensinando a muitos jovens
A arte de marceneiro
Ou mecânico preparado
Saindo pra outro estado
Só iam ganhar dinheiro

Hoje vejo em Juazeiro
Os funcionários daqui
O SENAI em pouco tempo
Muito se evoluir
Nada mais nos resta agora
O SENAI já foi embora
Nós não podemos impedir

Também já se foi daqui
Grande indústria de algodão
A fábrica exportadora
De grande exportação
Hoje os prédios estão fechados
Não há um só empregado
Parece uma solidão

Outra fábrica de algodão
De Marques & Companhia
Soltava muito dinheiro
Para toda freguesia
Porém, esta se acabou
Tudo enfim se liquidou
Estava justo o seu dia

Não existe mais alegria
Tudo indo para trás
A Escola Hugo Rocha
Foi embora e não voltou mais
É tudo se acabando
É Iguatu carregando
Só deixa os restos mortais

Desejo ao menos que a paz
Cubra o nosso torrão
Que os filhos desta terra
Permaneçam em união
Dando a nós o privilégio
Deixando aqui o colégio
E a estátua de São João

Resta aqui a estação
Pois o depósito acabou
Foram embora os empregados
Pois Iguatu carregou
Para o bem da nação
Aqui só ficou São João
Nosso fiel protetor

Pedimos a Nosso Senhor
Como Pai de caridade
Que deixa ficar aqui
A nossa maternidade
Que ainda é um prédio novo
E tanto bem faz ao povo
Da nossa pobre cidade

Para falar a verdade
Como é sempre natural
Só tem de bom neste Cedro
Para nós o Hospital
Que tem médicos competentes
Para atender seus clientes
Cada qual é mais legal

Deus nos defenda do mal
Pois Cedro está liquidado
Até o rio Vaca Brava
Botaram pra outro lado
Os rios estão indo embora
Todos procuram melhora
Aqui só ficam os coitados

Todo mundo aperreado
Pra seus filhos educar
Os meus cursando o Normal
São obrigados a parar
Vejo se acabando tudo
Uma bolsa de estudo
Nunca pudemos arranjar

Sempre vivo a implorar
Uma ajuda com certeza
Porque sei que o estudo
É a arma da defesa
E um terminando o curso
É fácil fazer concurso
Para qualquer uma empresa

Eu queria que a pobreza
Do Cedro se retirasse
Iguatu que levou tudo
Também ela carregasse
Se não merecemos nada
Deixe a cidade fechada
Com o fim de liquidar-se

Pode ser que o asfalto passe
Trazendo alguma melhora
Pois quero ficar aqui
Não desejo ir embora
Digo sempre para os meus
Faltando a terra de Deus
Chega a de Nossa Senhora

Ninguém vai caçar lá fora
Aquilo que não perdeu
Se alguém fala zombando
Que o Cedro já morreu
Isto entristece a gente
Pois sabemos exatamente
Os dias que ele viveu

Não é um instinto meu
Falar da minha cidade
É pena vê-la cair
Com tanta facilidade
Vejo o comércio parado
Melhores prédios fechados
Isto é a mais pura verdade

Como está muito tarde
Minhas rimas vou parar
Já sei que nossas indústrias
Nunca mais hão de voltar
O que Iguatu levou
Fique sabendo o leitor
Que nunca vai entregar