O papel da Argentina no projeto de integração latino-americano

Não só a Argentina, mas toda a América Latina luta com capacidade solidária e de reação para frear a onda das empresas multinacionais que pretendem derrubar os governos progressistas através de “golpes brandos”.

Chávez, Kirchner e Lula

A presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, tem destacado o legado político de Néstor Kirchner e Hugo Chávez na região, que inspiraram o poder de transformação em milhares de jovens não só da Argentina e da Venezuela.

“Foram exemplos de homens que ousaram fazer o que durante muito tempo nos disseram que não era possível, que não poderíamos transformar, governar para incluir, que não se podia crescer economicamente incluindo os setores vulneráveis e castigados pelo neoliberalismo”.

A mensagem de Cristina, proferida em 2014, antes de participar da Cúpula do Mercosul destaca o feito de que a Celac integra todos os países países latinos, inclusive Cuba. “Se me dissessem em 2003 que íamos estar todos juntos em organismos de integração regional, eu diria que era impossível, porém foi possível graças a Chávez e sua transformação”.

Um novo capítulo na história argentina

Em 25 de maio de 2003 a história argentina escreveu um novo capítulo, quando Néstor Kirchner assumiu a presidência. Ele recebeu o país com mais de 50% de pobreza. Medidas econômicas, obras públicas e políticas inclusivas deram início à “Década de ganhos”.

A Argentina assumiu o grande desafio de seguir construindo um modelo regional próprio com soberania alimentar, por exemplo. Enquanto na Europa a crise financeira se escondia sob uma lógica neoliberal que dá inúmeras mostras de fracasso com relação à qualidade de vida da população, na América Latina a soberania política e econômica não é algo que se possa ceder tão facilmente.

Existem mecanismos erroneamente chamados de “integração” decorrentes de blocos econômicos conformados por países com distintas realidades que terminam submetidos a uma única moeda. A Argentina, em contrapartida, trabalha desde 2003 em um modelo diferente, com redução da dívida e aumento da soberania política. “Se trata de novos instrumentos multilaterais regionais que substituam os atuais devido à sua provada ineficiência para resolver os conflitos internacionais”, afirmava a presidenta em 2012.

Qual é a importância da Argentina para o projeto de integração continental?

A Argentina é um dos centros de poder da América do Sul. Néstor Kirchner, em seu mandato, fortaleceu a integração latino-americana e caribenha. Em junho de 2003, o então presidente argentino, viajou ao Brasil em sua primeira visita oficial ao exterior e fortaleceu uma coalizão que começava a surgir com presidentes sul-americanos, que firmaram em Cuba as bases para a criação da Alba (Aliança Bolivariana dos Povos de Nossa América), para contrapor a Alca, em 2004.

A política exterior de Néstor apontou para a independência das nações latino-americanas e caribenhas, mediante a integração e união, frente ao domínio estrangeiro. Sua esposa, e atual presidenta, Cristina Kirchner, se encarregou de continuar esta política exterior e foi a primeira mulher que ousou denunciar na ONU e na Cúpula das Américas toda a ingerência estadunidense nos países da América Latina.

Cristina se somou à batalha política durante as eleições legislativas de outubro de 2005 com uma vantagem de 25 pontos, mediante uma jornada de participação eleitoral de aproximadamente 75% do total de eleitores. A Frente Popular para a Vitória se impôs em 17 das 24 províncias e consolidou sua força no Congresso Nacional. Desta forma, a esposa do ex-presidente assumiu o mais alto cargo da República Argentina.

Entre suas principais obras, se destacam a Asignacón Universal Por Hijo [equivalente ao Bolsa Família no Brasil], a reestatização a previdência social, o programa Conectar com Igualdade [de inclusão digital], aumento do investimento em ciência e tecnologia, a Lei de Serviços de Comunicação Audiovisual [democratização dos meios], Lei do Casamento Igualitário [LGBT], nacionalização da empresa de petróleo (YPF), reforma do Banco Central e criação do Código Civil e Comercial.

Cristina também seguiu o caminho do fortalecimento das relações diplomáticas com a América Latina; em novembro de 2010 a Cepal (Comissão Econômica para América Latina e Caribe) afirmou que a pobreza na Argentina havia reduzido 34.1%, ocupando a posição de segunda mais baixa do continente.

A nação de Evita Perón entrou em um seleto grupo de oito países que construíram ou têm em órbita seu próprio satélite. O Sul tem demonstrado seu potencial em matéria de ciência e tecnologia; em pleno século 21, Venezuela lançou os satélites Simón Bolíviar e Miranda; Bolívia o Tupac Katari e Argentina o Arsat-1.