Por mais unidade e contra o retrocesso, entidades fundam a UNA

São Paulo está sendo o palco neste fim de semana, do encontro de fundação da União Nacional LGBT (UNA), que reúne 400 militantes de 19 estados, representando diversas entidades do movimento LGBT brasileiro. O intuito do fórum é o fortalecimento da unidade de luta, travando o debate sobre direitos civis e os desafios a serem enfrentados em uma conjuntura reacionária que vem tentando retirar históricas conquistas sociais.

Por Laís Gouveia

Por mais direitos e contra o retrocesso, entidades fundam a UNA

A cerimônia de abertura ocorreu nesta sexta-feira (16) à noite, e contou com a presença da presidenta nacional do PCdoB, deputada federal (PCdoB-PE) Luciana Santos, a deputada estadual Leci Brandão (PCdoB-SP), a ex-deputada estadual Ângela Albino (PCdoB-SC) e a vice- prefeita de São Paulo, Nádia Campeão (PCdoB-SP).

Além da análise da conjuntura internacional e nacional, o encontro também é alvo de debates sobre o processo de políticas públicas e quais foram os avanços e os principais desafios para a população LGBT.

Um dos idealizadores da UNA e há 17 anos militante LGBT, Andrey Lemos considera que, o momento atual, requer cuidado e unidade das forças progressistas. “Estamos vivendo um momento do obscurantismo, onde há forças conservadoras, machistas e racistas, que se organizam para reagir contrariamente há uma série de avanços e conquistas no campo da democracia e dos direitos civis da população LGBT. Há um clima de ódio presente na sociedade, para cada conquista LGBT temos várias ações homofóbicas. Estamos vivendo um momento histórico e oportuno para ser lançado um novo instrumento de luta, para fortalecer a unidade de ação. A UNA tem o objetivo de de unificar diferentes forças políticas, movimentos sociais, em uma só trincheira, onde tenhamos condições de combater às ameaças de retrocesso e opressões”.


Segundo Andrey, a luta emancipacionista e o direito da liberdade das diferentes entidades de gênero são o cerne da questão. “Temos muitas legislações, precisamos analisar de que forma as normativas se tornam realidade nos municípios. “No interior do Brasil as travestis, transexuais, gays e lésbicas são assassinados, violentados e excluídos da sociedade”, afirma.

Também participante do encontro, o militante LGBT, Toni Reis, considera um imenso retrocesso a retirada do "gênero" dos Planos Municipais de Educação. “Foi um Tsunami reacionário e fundamentalista em todo país, transformaram a palavra “gênero” em um monstro. 

Toni Reis

O diretor da União Nacional dos Estudantes (UNE), Harikan Heven, afirmou a importância da fundação da UNA. “Precisamos de unidade que a entidade irá proporcionar, para enfrentarmos todas as formas de opressão e retrocesso”.

Ao final deste sábado (17), será eleita a nova diretoria, composta por homens e mulheres, gays, lésbicas, travestis, transexuais, trangeneros e um estatuto será aprovado. Andrey Lemos deverá ser conduzido à presidência da entidade.

Na tarde do domingo (18), ocorrerá o 1º encontro nacional LGBT da União da juventude Socialista (UJS). No fórum, será encaminhado um calendário de luta para 2016.

Leia a íntegra da carta de princípios da entidade

Carta de princípios – UNA LGBT

A sociedade civil organizada, composta por mulheres e homens, lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais de todo território brasileiro, reunidos(as) para a fundação da UNA-LGBT (União Nacional LGBT), na cidade de São Paulo – SP, em 16 de outubro de 2015, como instrumento de luta pela emancipação política e humana ao defender idéias no campo da consciência de classe e de garantia de direitos, aprovam os seguintes princípios norteadores desta entidade:

Enfrentar o machismo, o racismo, a lesbofobia, homofobia, bifobia e transfobia, em todas as suas formas de manifestação, particularmente as ações sistêmicas que impedem o usufruto pleno dos direitos de cidadania de mulheres e homens com diferentes orientações sexuais e identidades de gênero.

Enfrentar todas as formas de discriminação de gênero, sistêmicas ou não, particularmente aquelas que afetem as mulheres lésbicas, travestis e transsexuais.

Enfrentar a exploração de classe em todas as suas manifestações, colocando-se ao lado dos interesses das trabalhadoras e dos trabalhadores.

Defender intransigentemente a livre orientação sexual e às diferentes identidades de gênero.

Solidarizar-se com a luta de todos os movimentos sociais e populares que se colocam no campo progressista.

Solidarizar-se com a luta dos oprimidos em todo mundo. Travar contato e estabelecer alianças para a luta com organizações LGBT nos diversos países.

Promover, a partir da concepção da emancipação política e humana, rupturas no sistema capitalista ou aprofundar as já existentes a partir de ações que incidam sobre o imaginário coletivo de toda a população.

Desmistificar os padrões construídos e naturalizados na sociedade através do desenvolvimento do capitalismo.

Apresentar à população LGBT e a população em geral um novo modelo de sociedade solidária, equânime, igualitária e livre de opressões, a sociedade socialista. Nós, militantes da UNA-LGBT, em território nacional, declaramos publicamente que defenderemos estes princípios de forma consciente e voluntária, como parte de um projeto de construção de um futuro feliz e digno para as nossas e as futuras gerações.