Especialistas cobram mais espaço para crianças negras na mídia

A Semana Nacional pela Democratização da Comunicação começa nesta segunda-feira (19) e vai motivar debates em todo o país. Um dos aspectos que mais preocupam professores e especialistas é a baixa representação de crianças nos meios de comunicação.

Atores negros mirins

Ildete Batista dá aula para crianças de cinco anos em uma escola no Distrito Federal. Ela afirma que as questões raciais aparecem principalmente no momento de disputa e durante as brincadeiras. Professora há mais de 20 anos, Ildete acredita que faltam referências para as crianças. A profissional desenvolve, na escola, um trabalho contra o racismo e para colocar mais referências africanas na educação.

"No início do ano, uma menina me disse que não gostava do cabelo dela, por ser crespo. Em um desenho, por exemplo, ela se fez loira do olho azul. Agora, no final do ano, ela se desenha uma criança negra com cabelo enrolado. Isso mostra que o trabalho tem que ser feito e se ele é feito com respeito, a gente consegue vencer esses problemas."

Para a professora do curso de Comunicação Social da Universidade Católica de Brasília, Isabel Clavelin, há uma tendência de aumento na representação de crianças negras nos meios de comunicação nos últimos anos. No entanto, segundo a professora, elas figuram em papéis de coadjuvantes e a representação está aquém da proporção de negros no Brasil.

"Isso tem um efeito devastador, porque a criança se vê ausente ou não se vê como ela realmente é. Ela está sempre atrás. A interpretação dessas mensagens tem um efeito muito danoso, que é a recusa de se retirar do espaço da centralidade. Enfrentar o racismo na infância é crucial e deve mobilizar a toda a sociedade brasileira, porque ali se está moldando todas as possibilidade de identidade das pessoas."

A escritora Kiussam de Oliviera afirma que falta representação positiva nos meios de comunicação. Ela escreve uma literatura infantil com o intuito de fortalecer a identidade das crianças negras.

“Em um país de maioria negra não se justifica uma televisão totalmente branca, como nós temos. A partir do momento que as emissoras entenderem que o público negro é grande, nós viveremos uma fase diferente dessa que estamos passando, onde há violência por conta da cor da pele, agressões focadas na raça – cada vez mais banalizada”.

Este mês, a TV Brasil começou a transmitir o desenho colombiano Guilhermina e Candelário. A série conta o cotidiano de dois irmãos negros cuja capacidade de sonhar transforma cada dia em aventura. A animação vai ao ar de segunda a sábado, na Hora da Criança, faixa de programação infantil. De segunda a sexta das 8h15 às 12h e das 12h30 às 17h; e sábado das 8h15 às 12h.