Cordel Umbilical (Outros Poemas): A Velhice

A velhice é coisa triste
Ser velho ninguém deseja
Tudo mundo quer ser novo
Mas à morte não se almeja
Se velho não quer ficar
Mas chegando na hora H
Vai qualquer um como esteja

É bom que a pessoa veja
Que a morte vem por certo
Leva o pobre, leva o rico
Leva o tímido e o esperto
Leva o preto, leva o branco
Leva o mesquinho, leva o franco
Leva o de longe e o de perto

Leva um lá do deserto
O outro lá da cidade
Leva um com 15 anos
Outro com cem de idade
A sua escolha não custa
É honesta, sincera e justa
De ninguém faz a vontade

Sabemos que é verdade
Não tem quem queira morrer
Mesmo vendo que a velhice
Traz amargura e sofrer
E se queixando da sorte
Em sua frente estando a morte
Fecha os olhos pra não ver

Porém precisa saber
Que mocidade na festa
Brinca canta e se diverte
Que o suor corre na testa
E o pobre velho tremendo
Eu comparo com o remendo
Que se coloca e não presta

Acho que sou uma destas
Tinha uma casa animada
Com meus filhos e meus netos
Faziam aquela zoada
Me chamavam de vovó
Depois me deixaram só
Remendo não vale nada

Depois da roupa rasgada
Se acaba a serventia
É como a gente ser jovem
Rodeado de alegria
Mas o tempo vai passando
No coração vai ficando
A marca da nostalgia

No passar do dia a dia
Nota-se a transformação
Se sonha com o passado
Só se vive com a ilusão
Dentro de 4 paredes
Só tem de consolo a rede
Ou mesmo o velho colchão

Vem doença de montão
Sem a gente esperar
Adormece a perna esquerda
A outra quer imitar
Os braços ficam tremendo
Com pouco já está doendo
Da cabeça ao calcanhar

Eu não vou agüentar
Tanta dor, tanto gemido
Pois viver sem ter saúde
É mesmo um tempo perdido
É uma vida sem defesa
Guardando por sobre a mesa
A caixa de comprimido

O jovem tem 5 sentidos
Bom paladar e visão
Sente o cheiro das flores
Escuta a voz do violão
Lhe afirma sou sensato
O velho só tem o tato
Aonde alcançar a mão

É nesta situação
Que vamos findar a vida
Rezando pelos que morrem
Pra não ver alma perdida
Porém existe um ditado
Que ninguém quer ser finado
Bom é existência comprida

Cada um tem sua lida
Lembrando sempre o passado
O presente está conosco
Vivendo de lado a lado
Já vi um alguém dizendo
É melhor viver fedendo
Do que morrer perfumado

Se os anos estão pesados
E deles você não gosta
Joga em cima de mim
Que carrego em minhas costas
Seja 10, 20 ou 50
Ou até mesmo 90
Eu quero fazer uma aposta

Nossa vida é composta
De coisas boas e ruins
E ninguém nunca imagina
Como será nosso fim
Mas podemos imaginar
Que quando a morte chegar
Leva você, leva a mim

Por isto que falo assim
Vou logo me preparar
Não quero caixão bonito
Nem pompa pra me enterrar
A minha conversa é franca
Vista aquela roupa branca
Mande o povo acompanhar

Não tenho nada pra levar
As mágoas estou perdoando
Pois quem de novo não vai
De velho não está ficando
Eu que tenho muita fé
Já estou de orelha em pé
Vou logo me preparando

Por isto de quando em quando
Procuro me distrair
Estou velha mas não me entrego
Posso bem me divertir
Que velho também é gente
E se dizer o que sente
Ninguém pode proibir

Qualquer um pode seguir
Fazendo sempre seus planos
Estamos no fim dos séculos
Vendo tantos desenganos
Os pobres são oprimidos
Muitos jovens excluídos
Sem os direitos humanos

E com o passar dos anos
O clima é mais agravante
Se junta a nação toda
Procurando um governante
Não se encontra um melhor
Um ruim, outro é pior
E assim vamos adiante

Acho até interessante
O movimento social
Eu mesmo não sou político
Mas é muito natural
Se conhecer o direito
Acho que não é defeito
Distinguir o bem do mal

Pra mim é muito legal
Quando não se diz mentira
Aonde vai a verdade
Todo mundo admira
Escrito neste papel
É este o último cordel
Rimado por Idalzira