Diversidade e luta contra o golpe dão o tom de plenária de mulheres

Poetisas, profissionais do sexo, políticas, lideranças comunitárias, farmacêuticas, estudantes, militantes do movimento LGBT, mães. A diversidade de perfis femininos foi a principal marca da plenária de mulheres do PCdoB de Porto Alegre, realizada no dia 17, evento que faz parte do processo de conferências do partido. 

Titi Alvares, presidenta do PCdoB-Poa destaca luta contra o golpismo, ao lado da vereadora Jussara Cony e da dirigente Carol Barbosa

Além da luta das mulheres por sua emancipação, contra o machismo, a desigualdade e a violência, o foco das discussões girou em torno do papel das mulheres no atual cenário político nacional marcado por forte ofensiva conservadora, antidemocrática e golpista.

A plenária foi iniciada com a apresentação do Viva Palavra, grupo de mulheres dedicado a criar e recitar poesias. Em seguida, a vereadora Jussara Cony, secretária municipal e estadual de Mulheres do PCdoB, abordou o atual cenário político em âmbito nacional.

“As forças mais conservadoras, reacionárias e fascistas do país, ligadas ao imperialismo e aos interesses dos grandes rentistas, unidos a articulistas da grande imprensa, juristas, um Congresso Nacional que é o mais conservador dos últimos tempos, além de um simulacro de movimento social, querem retomar o poder não pela via democrática, mas através de um golpe”, disse, em referência a editorial publicado pelo portal Vermelho.

Jussara enfatizou ainda que o programa neoliberal deste setor propõe “a privatização do que restou das estatais – vendidas durante seus governos –; a entrega do pré-sal; o fim das garantias trabalhistas e da estabilidade dos servidores. Ou seja, trata-se de um programa para liquidar o Brasil”.

De acordo com Jussara, “não dá para colocar a defesa do mandato de nossa presidenta Dilma, como fazem alguns setores de esquerda, no meio de reivindicações variadas que são justas, mas que não são as principais neste momento frente à luta contra o golpe”. Ao fazerem isso, diz, “confundem o povo e facilitam o trabalho sujo dos inimigos da democracia”.

Ao traçar a relação entre o momento atual e a condição feminina, Jussara explicou: “Quem serão os maiores atingidos deste processo? São as mulheres, principalmente as trabalhadoras de maior vulnerabilidade econômica e social”.

Jussara lembrou que “a luta política é a expressão da luta de classes” e que somos protagonistas dessas lutas. “As mulheres conquistaram espaços não por uma dádiva, mas por meio de lutas cotidianas e históricas. Temos de ter clareza das tarefas que nos são colocadas a cada momento e neste, lutar contra o golpe é o nosso foco”.

Pluralidade

Silvana Conti alerta para riscos do Estatuto da Família 

Convidada a compor a mesa de abertura da plenária, a vereadora Séfora Mota (PRB), enfatizou: "Queremos ter espaços de decisão política, queremos incluir nossas pautas e nossos anseios. Minha luta é para que as mulheres sejam tratadas com respeito". Séfora qualificou o Estatuto da Família, recentemente aprovado em comissão da Câmara, como retrocesso e criticou a oposição ao governo Dilma: "temos um esquizofrênico que quer a Presidência a qualquer custo e pessoas que têm ódio, ranço, recalque. Eu sei o quanto as pessoas tiveram mais oportunidade e mais dignidade nos últimos anos e isso precisa ser mostrado e defendido".

Membro do Conselho Nacional de Mulheres, Silvana Conti destacou a importância da recém-criada UNA-LGBT. "Trata-se de uma entidade que vai promover a união para além da questão LGBT com o objetivo de combater todas as formas de violação, opressão e intolerância. E neste momento em especial, precisamos nos unir para termos mais força na contraposição a este tsunami conservador".

Com relação ao debate sobre o Estatuto da Família, que propõe a formação a partir da relação entre um homem e uma mulher, Silvana colocou: “Querem um estereótipo de família de propaganda de margarina. Família é uma relação que se dá a partir de pessoas que se amam”.
A presidenta da Unegro no Rio Grande do Sul, Elis Regina Gomes, destacou a presença, na plenária, de 20% de negras. “Isso é muito positivo, principalmente porque são mulheres da base, do povo, que estão inseridas, entre outras, na luta pela igualdade”. Elis destacou a condição da mulher negra: “Somos cuidadoras desde nossas origens, desde que nossas antepassadas vieram da África. Cuidamos dos filhos e das casas das famílias brancas e de nossas próprias famílias. Até hoje, isso está presente em nossa sociedade: 70% das domesticas deste são negras. Devemos lutar pelos direitos destas mulheres, que também são vítimas da maioria dos casos de violência doméstica”.

Luelen Gemelli, profissional do sexo, destacou o estigma que as mulheres de sua categoria sofrem cotidianamente. “Já ouvi muitas vezes que esta não é uma questão da esquerda, mas eu não acredito nisso” Para ela, é preciso que haja “ambientes mais acolhedores para essas mulheres exercerem sua militância. “Somos mães, trabalhadoras e temos nossos direitos”, destacou.

Construção constante

Participantes aplaudem apresentação do Viva Palavra

Cris Correia, presidenta estadual da UBM, alertou: “temos de construir um fórum de debates que esteja aberto para além do partido, de maneira a oxigenar nossa luta e atrair mais pessoas. Ao mesmo tempo, é importante cuidarmos da formação de nossas militantes porque conhecimento é poder. E quanto mais nos apoderarmos dos espaços a que temos direito, melhor para nossa luta”. Por fim, Cris ressaltou que “este processo deve ser uma construção unificada e não uma bandeira que oponha mulheres e homens”.

Por fim, Titi Alvares, presidenta do PCdoB de Porto Alegre, reafirmou a necessidade de fortalecer a luta contra o golpe. “Essa direita é mais do que conservadora; é retrógrada. O Estatuto da Família, por exemplo, é um passo atrás porque hoje a família brasileira real não é assim. A família que eles querem é aquele padrão TFP de 1964”. Para Titi, é fundamental que o país “não retroceda”, e para isso, é preciso que a esquerda e o PCdoB em particular sejam fortalecidos. “Temos de reposicionar o partido para termos mais força no jogo político e nos questionar sobre como e onde queremos estar daqui a dez anos”.

(PL)