Andrea Santana: Paris, continuo a ter esperança

 A arquiteta cearense Andrea Santana, residente em Paris, enviou uma mensagem ao Vermelho relatando seu sentimento após os atentados ocorridos na capital francesa na noite de sexta feira, dia 13. Na correspondência ela transmite o clima medo e pânico que vive a cidade, mas reafirma sua convicção de continuar acreditando na esperança.

terror em Paris

 É difícil um pensamento claro hoje, sobretudo quando a gente está em terra estrangeira. Porque numa hora como essa é sobretudo o sentimento de pertencer ou não a um lugar que é questionado.
É claro que as quase duzentas mortes me transtornam. Mas confesso que o cinismo desses países ricos que se dizem campeões na luta contra o terrorismo, mas que continuam a contribuir com outras formas de terrorismo que todos os dias mata e mutila milhares de pessoas nos países pobres.

Fisicamente, minha família e eu estamos bem porque não estávamos no local da tragédia, mas é difícil se sentir bem no meio disso tudo. Neste amanhecer depois desta noite de terror, eu me sinto sem forças. E o tempo cinzento e frio, as ruas desertas, a polícia por todo canto, as sirenes dos caminhões de bombeiros, dos carros de polícia, das ambulância se misturam e resultam numa composição “musical” nada agradável… Vai começar/recomeçar o clima de medo e pânico que já, há algum tempo, vem tomando conta da França. E o resultado tem sido uma perda da noção de solidariedade, é cada um por si, numa cegueira completa que gera uma grande aversão ao outro.
A imagem da França de maio de 68, parece uma miragem.

E esse estado de espirito só agrava tudo porque mascara e retarda o momento de aceitar que nós somos também esse mundo e somos feitos das trocas com os outros e a realidade que nos envolve.
As informações são tantas, constantes, sem interrupção (não somente hoje, mas sempre), por todos os meios possíveis, tudo de forma sensacionalista, sem um verdadeiro senso critico. A gente se sente impotente, incapaz de saber e compreender o que se passa.

Sem falar na falta de um ideal que reúna as pessoas, tudo é feito pra isolar e dividir. Como o ser humano tem uma grande necessidade de crer em algo, a falta deste algo (que durante muito tempo foi o comunismo), abriu uma grande brecha para as religiões fanáticas, que são um prato cheio para todos os que são ha décadas discriminados, humilhados.

Mas eu continuo a ter esperança, a defender que é importante resistir, porque tem muita coisa boa acontecendo na França, no mundo, e a gente tem que se agarrar a essas faíscas de esperança e não deixar de acreditar.

Andrea Santana é arquiteta e reside em Paris há mais de 10 anos.

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