Mídia radical articula ações contra o genocídio de jovens negros
Há um componente novo no cenário das mídias de oposição: a emergência de uma rede de produção de conteúdo em mídias radicais, montada pelas organizações sociais de jovens afrodescendentes, nas periferias das grandes cidades.
Por Juarez Xavier*, para o Portal Vermelho
Publicado 20/11/2015 13:20
A apropriação criativa dos dispositivos tecnológicos pela juventude da periferia, para a produção de uma contra narrativa, fragilizou e, em alguns momentos, paralisou a violência midiática –simbólica e física- das grandes corporações.
Esse arranjo articulado no território criativo –digital e analógico- desequilibrou dois fenômenos que caracterizam o sistema de comunicação brasileiro: a concentração dos veículos de comunicação em poucas mãos –algumas famílias e uma seita evangélica- e a propriedade cruzada de plataformas de comunicação – uma mesma empresa tem numa mesma praça meios impressos [jornais e revistas], eletrônicos [rádio e televisão] e digitais [portal de internet].
O desenho desse sistema forma uma “rede de factibilidade”, que faz com que a mesma versão do mesmo fato seja repetida diversas vezes, em diversas plataformas e horários, para diversos públicos, até formar uma versão unidimensional da realidade social: até formar um simulacro da realidade.
O resultado é a criminalização do contraditório e a segregação das visões de oposição, com a alienação no debate político de parcelas significativas da população.
Temas fundamentais que afetam a sociedade não são reportados, como o sistemático assassinato de jovens negros, pobres, das periferias de grandes e médias cidades, mortos com características de execução – tiros no peito e na cabeça-, como evidenciam os mapas da violência 2013/2014.
O fenômeno não é novo. Desde os anos de 1980, organizações sociais e políticas denunciam o fato, sem que haja mudanças substantivas.
A imprensa corporativa cala-se ante essa violência.
A emergência dos arranjos de produção de conteúdo de jovens da periferia fraturou o muro da “conspiração do silêncio”.
Lastreada nas políticas públicas de universalização do acesso à rede mundial de computadores, como os pontos de cultura, essa rede lançou mão da capilaridade e disseminação em massa dos dispositivos digitais e móveis, e superou o entrave da produção e distribuição de informação.
Com inventividade e inovação, criou-se uma “tapeçaria midiática” composta pelas múltiplas linguagens artísticas, para a produção de conteúdo de oposição: grafite, música, dança, vestuário, fanzine, audiovisual e informações transmídia, distribuídas pelas redes sociais.
No campo de batalha pelas narrativas sociais, ao lado da esfera pública hegemônica [burguesa, machista, xenófoba, racista], articula-se uma esfera pública precária, alternativa e radical, que se ocupa das raízes dos problemas sociais.
Narrativas de oposição grafitadas nos muros das cidades, fruídas nos versos e rimas das periferias, experimentadas nos arranjos produtivos locais intensos de cultura afrodescendente e articuladas nos ateliês criativos de linguagens artísticas.
É esse esqueleto tecnológico –infraestrutura digital de veiculação de conteúdo- que estimula a campanha contra o genocídio da juventude negra, pobre e moradora da periferia, e reivindica políticas públicas reversivas, para frear essa “matança” ignorada pelas mídias corporativas.