Walter Sorrentino: Fazer a diferença!

Já não coordeno o movimento de Conferências recém encerradas do PCdoB nos 26 Estados e Distrito Federal e mais de dois milhares de municípios. Mas em minhas novas responsabilidades continuo em intenso contato com o partido em todo o país, além de ter acompanhado diversas Conferências Estaduais e de capitais.

Por Walter Sorrentino*

Walter Sorrentino

Meu depoimento: num tempo de ofensiva conservadora, de graves ameaças à democracia e em meio a uma situação econômica que vai produzindo resultados sociais que afetam diretamente a base social fundamental na qual atuamos, o PCdoB vai cumprindo e elevando seu papel!

Em situações assim, é natural alguma flutuação para baixo no número efetivo de militantes que se organizam para o debate e ação partidária. Não obstante, isso certamente aumentou a compactação das fileiras comunistas, congregou mais o coletivo em torno das responsabilidades que conscientemente assumem.

Foi o que vi nas mobilizações e nos debates. Altivez para não se intimidar com a ofensiva, nem restar na defensiva política, malgrado o enorme esforço necessário para disputar a sociedade política e ideologicamente – seja no sentido do apoio ao governo, seja nas críticas necessárias aos rumos do ajuste fiscal para virar de fato essa página.

Sinto que o coletivo confirma o ajuste tático produzido pela 10ª Conferência Nacional e em seus desdobramentos. Uma estratégia dupla: frente a mais ampla possível para fazer frente às ameaças democráticas – eivadas de intolerância e ódio contra o povo -, em defesa dos interesses nacionais e da retomada do crescimento econômico; simultaneamente, o esforço para unir na ação a esquerda política e social, em especial na Frente Brasil Popular, para disputar os rumos do futuro, ameaçados pela onda conservadora (a mesma que venceu na Argentina), seja, por isso também, no relançamento programático necessário para seguir adiante com o projeto nacional de desenvolvimento reformas estruturais democráticas.

Vejo que o PCdoB em todo o país está unido. E isso não é pouca coisa: nas crises, na defensiva tática, é decisivo e da natureza intrínseca de partido atuar unidos. Somos unidos porque a militância dos trabalhadores, jovens e mulheres no PCdoB tem vez e voz, desde a base, para organizar o povo, e constroem tal unidade em torno de uma orientação democraticamente deliberada. Unidos com a coerência de quem luta por um projeto com norte estratégico, um projeto nacional de desenvolvimento soberano, democrático e popular. Com a coragem de tomar lado decidido nessa contenda, armados com uma tática de ampla união de forças. E determinação, pois a defesa desse lado, que inclui repor a confiança política no mandato da presidenta Dilma, não é feita apenas em função do governo, mas sim da própria consequência de nossa política.

É forte o voto de apoio ao trabalho da direção nacional e da bancada federal na Câmara e Senado, capazes de fazer a demarcação com a direita, disputar a agenda progressista e democrática, sem abdicar de suas responsabilidades com a base política do governo no Congresso. Bancada que é também campeã na luta pelos direitos civis, contra todas as discriminações e as intolerâncias, pelas causas progressistas ameaçadas hoje pelo obscurantismo.

É vivíssima a consciência de que o papel das lutas sociais na vida partidária tem se ampliado. De fato, são marcantes os papeis dos trabalhadores da CTB, das mulheres da UBM e tantas outras entidades das que participamos, e da forte juventude socialista, neste momento. Nas ruas, nos púlpitos, nas academias e centros de debates, tem sido registrado o enorme incremento político desses movimentos, jogando papel decisivo nas mobilizações. Não é à toa que têm lugar de prestígio na vida partidária.

Acresce a isso um notório sentimento de satisfação pelo êxito dos papeis do PCdoB nos governos. A autoridade política com que serve estrategicamente hoje no comando da Defesa nacional e em todos os ministérios onde está ou esteve presente, bem como no governo do Maranhão – hoje com 67% de aprovação – e em numerosos governos municipais vitoriosos, consagrados neste momento por Conferências memoráveis como as de Juazeiro da Bahia, Contagem de Minas Gerais e tantas outras. Enfim, um partido bom de lutas e bom para governar com eficiência em favor do povo, com transparência e rigor com os recursos públicos.

Isso tem se refletido nas conferências. E vai indicado como alavanca para se apresentar à sociedade, disputar novos contingentes de lutadores e quadros políticos, para a disposição de lutar com ainda maior denodo pelo lugar político ampliado do PCdoB, nas ruas e nas urnas, na luta e no debate de ideias.

Numa realidade que sem dúvida é de crise, o PCdoB está vendo também a oportunidade de fazer de sua atitude um marco de afirmação da legenda, da identidade, caráter e papel que está vocacionado a jogar, como força de defesa dos interesses fundamentais dos trabalhadores, jovens e mulheres, mas que não recusa a grande política, aquela vocacionada a governar todo o país para fazer daqueles interesses um projeto hegemônico de sociedade. Que não recusa, portanto, a sagacidade política para desatar os nós que entravam o atual projeto e permitir retomar a iniciativa política.

São notícias promissoras para o embate de 2016 – ainda marcado por muitas indefinições – em que o PCdoB vai atraindo o ingresso de novos prefeitos e prefeitas, inclusive de capitais, sem falar em numerosos quadros da esquerda brasileira que para ele acorrem. Hoje tal afluxo é mais qualitativo que quantitativo.

É isso o que vi nas Conferências: a decisão de atuar com coragem, determinação e altivez, unidos, sem concessões de oportunidade, para defender o rico legado destes 14 anos em que as conquistas do povo avançaram como nunca no país. Sabendo que um ciclo político entra em fadiga e que dele nascerá outro, onde o PCdoB se quer fazer maior em prestígio e autoridade, não apenas junto a aliados e ao povo, como também nas urnas.

Isso faz a diferença. Cedo ou tarde setores mais amplos da sociedade perceberão o PCdoB assim, com sua cara real, a de um partido que propõe um projeto nacional de desenvolvimento em favor dos interesses do Brasil, da democracia e do povo trabalhador. Com sua contemporaneidade, que não abdica de fundamentos, para fazer desse projeto o caminho para o socialismo no Brasil,

Estou ciente de que isso não pode ser lenitivo para tantas insuficiências e deficiências que se manifestam na vida partidária, nestes tempos tão bicudos para a política. Sabemos melhor que todos o quanto ainda resta para firmar uma corrente desse jaez, organizar suas fileiras de quadros e militantes, abrir-se para a sociedade, manter sua identidade ideológica fundamental marxista e revolucionária.

Mas, sim, isso faz a diferença nestes tempos de crise. Considero que este não é apenas um justo orgulho; mais que isso, é a consciência de um serviço prestado à democracia brasileira, tão necessitada de partidos definidos e coerentes.